O diretor-superintendente de Desenvolvimento do Centro-Oeste detalha os planos ferroviários para ligar o Distrito Federal a Goiás
A Superintendência de Desenvolvimento do Centro-Oeste (Sudeco) deve contar, em 2013, com cerca de R$ 8 bilhões para investir nas quatro unidades federativas da região. O dinheiro é proveniente dos fundos constitucional (FCO) e de desenvolvimento (FDCO). O órgão ligado ao Ministério da Integração Nacional pretende usar os recursos no fortalecimento da infraestrutura logística, principalmente no que diz respeito às ligações entre o Distrito Federal e Goiás.
O primeiro assunto que sempre aparece na pauta do diretor-superintendente da Sudeco, Marcelo Dourado, é a ferrovia. O tema o deixa empolgado. "O futuro passa pelos trilhos", enfatiza. Entusiasta da ideia, ele encabeça dois grandes planos que preveem a ligação ferroviária entre o DF e a capital goiana, e a reativação de uma ferrovia que liga Brasília e Luziânia. Dourado revela que os dois projetos estão avançando e têm tudo para sair do papel.
Polos Além disso, destaca a importância da criação de polos de desenvolvimento industrial na Região Integrada de Desenvolvimento do Entorno (Ride). "A salvação de Brasília está na Ride", resume. Outra grande iniciativa é a criação de um arco rodoviário entre Mimoso e Água Fria de Goiás, com capacidade de reduzir em até 30% a quantidade de caminhões que cruzam o DF diariamente. Acompanhe ao lado os principais trechos da entrevista.
Quais os principais projetos que a Sudeco tem hoje para Brasília e Entorno? Temos duas grandes ações na área de mobilidade, relacionadas aos trens. O futuro destse país passa pelos trilhos. O principal projeto é a criação de uma ligação ferroviária entre Brasília e Goiânia, passando por Alexânia, onde estamos investindo na criação de um polo industrial; e por Anápolis, que é um importante núcleo de desenvolvimento goiano. A conexão se dará por meio de um trem de média velocidade, com uso misto, tanto para transporte de passageiros como de cargas. Essa não é uma ideia nova. Em 1956, já existia essa previsão, com a figura visionária que foi o presidente Juscelino Kubitschek. Ele mandou para o Congresso Nacional o Plano Ferroviário Nacional, que incluía essa ponte entre Brasília e Goiânia. Com o tempo, isso acabou se perdendo. Quando assumi a Sudeco (junho de 2011), decidi voltar ao assunto. Mais do que isso, resolvi fazer com que saísse do papel.
Como está o processo? Em dezembro do ano passado, foi assinado um protocolo de intenções entre o Ministério da Integração Nacional, por meio da Sudeco, o Ministério dos Transportes e os governos do Distrito Federal e de Goiás. Daí, para não ter o risco de nenhum cartel vir se aproveitar da história, chamamos o Banco Mundial para participar. Publicamos o edital e nada menos do que 41 consórcios do mundo todo manifestaram interesse em participar da elaboração do estudo técnico. Agora, estamos em fase de seleção, da qual vão sair seis grupos. No fim, o Banco Mundial vai escolher a proposta vencedora. Então, será contratado o Estudo de Viabilidade Técnico-Econômica e socioambiental. Calculo que, em setembro ou outubro do próximo ano, esse material já estará pronto. Ele indicará se o poder público vai fazer a obra ou se será feita por meio de parceria público-privada. Na minha opinião, o papel do Estado é fiscalizar, já que a iniciativa privada é mais ágil. Depois, vem a fase de concessão, construção, outorga e operação.
Qual a importância dessa obra? De acordo com o IBGE e o Ipea, o trecho Brasília-Goiânia já tem 6 milhões de pessoas. E, em poucos anos, essa população vai dobrar. Futuramente, em importância, só vai perder para o Eixo Rio-São Paulo. Hoje, 46% da produção de grãos do Brasil sai do Centro-Oeste, mas precisa descer até o Porto de Santos para seguir rumo ao Hemisfério Norte. É uma volta de 4 mil quilômetros. Fica muito mais fácil usar essa ligação projetada entre as duas capitais para ter acesso à Ferrovia Norte-Sul e embarcar pelo Nordeste. É muito simples.
Há mais alguma iniciativa em andamento? O segundo grande projeto é uma ligação ferroviária entre Brasília e Luziânia. E essa é até mais rápida de sair. Já existe a ferrovia de bitola métrica. Hoje, ela só é usada duas vezes por dia. Isso é um absurdo. Podemos aproveitar os trilhos para o transporte de pessoas, diminuir a carga de veículos no sistema viário da capital federal e facilitar a vida do passageiro. Atualmente, a viagem de Luziânia para cá, de ônibus, chega a durar duas horas. De trem, poderá ser feita em menos de uma hora. A operação da ferrovia está sob responsabilidade da Ferrovia Centro-Atlântica e já verificamos que não há problema algum em utilizar a linha. Ela já está mais de 90% pronta. O que precisaremos fazer são adaptações, reforma de estações e uma ligação de cerca de quatro quilômetros de trilhos até o centro de Luziânia. Os recursos para a contratação dos estudos virão da Sudeco e será uma licitação, de acordo com as normas da Lei nº 8.666. O edital deve estar pronto nos próximos dias.
O Conselho Deliberativo de Desenvolvimento do Centro-Oeste (Condel) foi instalado em meados de novembro. Qual o papel desse órgão? Ele é formado por membros do governo federal, dos governos dos estados do Centro-Oeste e por representantes classistas. É a instância máxima de planejamento estratégico da região. Ele vai, por exemplo, definir o direcionamento da aplicação do FCO e do FDCO. Esses dois são importantes fontes de recursos para o desenvolvimento. O FDCO foi criado agora e passa a ter recursos para investir a partir do próximo ano. É mais uma alternativa de desenvolvimento.
O FDCO pode financiar quais áreas? Pode ser aplicado em infraestrutura, para financiar a iniciativa privada. O nosso grande sonho é que a primeira contratação seja para a criação de uma fábrica de trilhos aqui no Centro-Oeste. O Brasil ainda não tem uma empresa dessas, e isso é um absurdo. O minério de ferro está aqui perto, em Minas Gerais e no Mato Grosso, que descobriu uma grande jazida, mas não temos a indústria. Então, a matéria-prima sai daqui a preço de banana e volta como produto vendido a preço de ouro. Já expus essa ideia e fui procurado por representantes da Itália e da Espanha. Pode ser até que eu vá a Milão (Itália) para tratar sobre isso nos próximos dias.
A Sudeco dá atenção especial ao Entorno? Claro que sim. Nós, do DF, precisamos nos conscientizar de que a solução para a capital federal não está aqui no quadrilátero e, sim, na Ride. Estamos investindo no desenvolvimento de um polo industrial em Alexânia. Já incentivamos a criação de um outlet (Premium Brasília) e trabalhamos para a instalação de um núcleo com 59 indústrias de vários setores na cidade. Vamos receber o novo prefeito de Alexânia para conversar sobre isso nos próximos dias. Além disso, também conseguimos a liberação da exploração de calcário em Formosa, onde pretendemos criar um polo industrial em parceria com a administração local. Com isso, teremos investimentos no Oeste (Alexânia) e no norte (Formosa) do Entorno. Fecharemos o triângulo investindo no Novo Gama ou em Valparaíso, ou seja, na região sul. Vamos conversar com os prefeitos. Se não conseguirmos desenvolver a região e fazer a população se fixar lá, Brasília vai explodir.
Além das ligações ferroviárias e de ações para o Entorno, existe algum outro plano de interesse compartilhado entre o DF e Goiás? Sim. Trata-se da criação de um arco rodoviário no Entorno, ligando a cidade de Água Fria de Goiás à de Mimoso de Goiás. Hoje, já existe a ligação, mas não é pavimentada. A ideia é asfaltar os 85 quilômetros e diminuir o tráfego de caminhões que hoje atravessam o DF para ir para o norte de Goiás. Acreditamos que essa rodovia diminuiria cerca de 30% o trânsito de dentro de Brasília, isso sem contar os demais veículos que cruzam a capital federal por falta de alternativas. É um projeto de cerca de R$ 90 milhões que interessa a Goiás e ao Distrito Federal, além de favorecer o desenvolvimento do Entorno. Mas a Sudeco não tem dinheiro para isso, então, as bancadas das duas unidades precisam se movimentar e garantir o recurso por meio de emendas.
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