08/11/2018Notícias do Setor
Parcerias com setor privado geraram sistemas com alta
tecnologia e permitiram investimentos para melhoria do serviço
Nem sempre é necessário olhar para fora do país para
encontrar exemplos de excelência em transporte público. Parcerias bem-sucedidas
entre os setores público e privado têm ajudado a construir e gerir estruturas
de alta qualidade no Brasil.
Sistemas eficientes, que operam com alta tecnologia e
transportam grande quantidade de passageiros todos os dias, nasceram de
“casamentos” recentes entre governos e empresas. São formas de driblar as
dificuldades financeiras dos estados e entregar à população um serviço essencial.
“A adoção deste modelo foi algo muito positivo para os
sistemas. Permitiu que se contasse com a maior eficácia do setor privado”,
destaca Joubert Flores, presidente da Associação Nacional dos Transportadores
de Passageiros sobre Trilhos (ANPTrilhos).
Pioneira nesse tipo de parceria, a linha 4-amarela do metrô
de São Paulo, administrada pela concessionária ViaQuatro, abriu caminho para
outros modelos semelhantes. A estimativa é de que, ao longo dos 30 anos de
operação, a empresa investirá US$ 2 bilhões em melhorias no sistema, como
aquisição de trens e sistema de sinalização. Deste montante, já foram
desembolsados US$ 450 milhões.
O modelo é o de uma Parceria Público-Privada (PPP) parcial.
Nesse formato, cabe ao Estado fornecer a infraestrutura, como trilhos e
estações, enquanto o ente privado fica responsável por gerir o sistema,
assumindo a tarefa de adquirir a frota e os equipamentos necessários para a
operação. Os resultados são animadores.
A linha 4 transporta, em média, mais de 850 mil passageiros
em um dia útil – a expectativa é de que o número chegue a 1 milhão quando todas
as estações forem concluídas -, e a taxa de satisfação é alta. Mais de 90% dos
usuários consideram os serviços “muito bons” ou “bons”, segundo pesquisas
realizadas semestralmente pelo Instituto Datafolha desde 2011.
Basta embarcar em um trem para entender o motivo da
satisfação. Inovações como o sistema sem condutor, o primeiro a ser
implementado na América Latina, dão mais agilidade à viagem. Os veículos são
operados pelo Controle de Trens Baseado em Comunicação (CBTC, na sigla em
inglês). Assim, a velocidade de cada composição é monitorada, permitindo
reduzir, com segurança, a distância entre um trem e outro até 12 metros
(similar ao comprimento de um ônibus). Com isso, o tempo de espera para os
passageiros também diminui.
O processo de embarque e desembarque ganha segurança e
velocidade com as divisórias de vidro que separam a plataforma dos trilhos. As
portas da plataforma e do trem se abrem simultaneamente, o que reduz acidentes,
diminui a queda de objetos na via e evita as interrupções de viagens por conta
desses incidentes. Os passageiros também recebem informações valiosas, como as
mostradas em painéis que identificam a lotação de cada vagão do trem,
possibilitando que escolham o setor da composição que permite uma viagem mais
confortável.
No treinamento para quem opera o sistema, há uma inovação.
Pioneiro no mundo, um simulador é utilizado para desenvolver novos condutores.
Na ferramenta, são desafiados por avaliadores em diversos cenários para que
saibam como responder a eventuais dificuldades. O sistema funciona em uma
réplica do primeiro carro do trem, que tem um console para operação manual e
uma tela que reproduz virtualmente a via, o túnel e as estações.
Não foi à toa que o modelo da ViaQuatro se espalhou por
outras partes do país. Em Salvador, o metrô foi viabilizado por uma PPP
integral. Neste caso, a CCR Metrô Bahia, concessionária do sistema, não se
limita a gerir e operar. Também é responsável por construir toda a
infraestrutura.
Assim como em São Paulo, a parceria tem funcionado. Mesmo em
meio a um momento econômico difícil no Brasil, foram implantados 14,4
quilômetros de percurso do metrô e oito novas estações somente em 2017. Mais
uma amostra de que há um caminho possível para solucionar o déficit de
transporte público no Brasil, e ele passa pela participação da iniciativa
privada.
05/11/2018 – G1