08/01/2020
person Folha de S.Paulo
Vagões vazios do Expresso
para Guarulhos nesta segunda-feira (6) - Bruno Santos/Folhapress
Dia 6, primeira segunda-feira de 2020. O relógio marcava 11h57, e o trem
surgia na plataforma da estação da Luz, no centro de São Paulo.
Não havia filas. Não havia tumulto. Não havia correria. Apenas 36
passageiros aguardavam pela chegada da composição. As portas fecharam ao
meio-dia. É hora de o trem seguir para a sua segunda viagem do dia até o
aeroporto de Cumbica, em Guarulhos (Grande SP).
Os 36 passageiros não ocuparam nem os 40 assentos disponíveis em um dos
oito vagões. Deu para viajar sozinho num vagão inteiro, limpo e climatizado,
esticar as pernas e dormir no trajeto, que dura cerca de 30 minutos, sem
paradas e com seguranças circulando pelo corredor.
Na volta, a Folha pegou o Expresso das 15h e viajou com outros 35
passageiros até a Luz.
A situação presenciada pela Folha ocorreu num dia em que Cumbica recebeu
cerca de 145 mil passageiros, um pico nessa época do ano provocado pelas férias
escolares. O número leva em consideração o total de pessoas que circularam
pelos três terminais em voos que chegaram e decolaram do aeroporto.
A GRU Airport, concessionária responsável pela gestão do maior terminal
aeroportuário do país, não informou quantos desses passageiros ficaram em São
Paulo.
Mas nem a comodidade e a alta demanda de Cumbica fizeram o serviço da
CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) decolar. Até agora, o
Expresso vem atraindo pouca gente.
Em 2019, atingiu uma média de 350 passageiros ou 35 ocupantes em cada
uma das dez viagens (ida e volta) que faz nos dias úteis. Um trem da CPTM possui
320 assentos; incluindo quem viaja em pé, pode transportar até 2.000 pessoas.
Como o serviço expresso foi criado só em outubro de 2018, não é possível
fazer uma comparação anual.
A linha 13-Jade da CPTM, da qual o Expresso faz parte, custou R$ 2,3
bilhões, valor pago com financiamento do BNDES e com dinheiro da Agência
Francesa de Desenvolvimento e do Banco Europeu de Investimento.
O economista Flávio Roberto de França Júnior, 56, é um habitué do
Expresso. Falou com a Folha sentado sozinho num vagão e com o laptop ligado.
"É muito barato, limpo e seguro. Eu aproveito os 30 minutos da viagem para
trabalhar já daqui."
"Mas não é um serviço de primeiro mundo. O ideal seria ter um trem
já ligando o aeroporto de Congonhas [doméstico] a Guarulhos", diz. "O
intervalo entre as viagens deveria ser menor. Isso atrapalha muito". Hoje,
são duas horas entre uma viagem e outra, nos dois sentidos.
A assistente social Jaqueline dos Santos, 36, e o marido, o eletricista
Roberival Silva, 41, viajaram no trem do meio-dia porque ficaram com medo de
pegar o próximo, das 14h. O motivo: o voo do casal para Maceió (AL) era às 15h.
"[O trem] deveria sair de 30 e 30 minutos. A gente tem que chegar muito
antes no aeroporto por causa desses horários mais espaçados."
O Expresso foi inaugurado em 16 de outubro de 2018. Liga o centro da
capital paulista ao aeroporto de Guarulhos em viagens diretas. Nos feriados e
nos finais de semana, são três deslocamentos em cada sentido.
Rumo ao aeroporto, o primeiro trem parte às 10h. No sentido contrário,
às 9h. O bilhete custa R$ 8,80 -o dobro do valor cobrado no serviço de
transporte sobre trilhos nas demais linhas. Quem está no Metrô, precisa
desembarcar na Luz e comprar o bilhete exclusivo do Expresso.
Mas o maior problema do serviço, apontado por Jaqueline e Roberival, é a
falta de conexão direta entre o trem e os terminais de Cumbica.
Os 36 passageiros que estavam na viagem acompanhada pela Folha
desembarcaram na estação Aeroporto (última da linha 13-Jade), que fica do outro
lado da rodovia Hélio Smidt. Com malas em mãos, atravessaram uma passarela e
ainda pegaram um ônibus para acessar a área de embarque.
"Gera um incômodo, né. O absurdo de dinheiro que gastou nisso aqui
e ainda tem que pegar um ônibus até o terminal. Já gera um transtorno",
reclama Roberival.