Senador Pedro Simon
A corda esticou ao máximo e deu no que deu. No ano passado, muita gente festejou uma sequência de acontecimentos que parecia apontar um novo rumo para o país. O Congresso aprovou a Lei da Ficha Limpa (no Senado, por unanimidade!), o Supremo Tribunal Federal (STF) emitiu sentenças num processo que se arrastava há sete anos, condenando empresários, políticos e altos funcionários por envolvimento num esquema de corrupção, e o Executivo, adotando o mesmo tom, demitiu ministros acusados de mal feitos.
Pois, ilusão. A esperança que por um momento animou o Brasil se revelou ser apenas um cortejo ingênuo de nossos sonhos.
Um refluxo conservador tomou a cena e em alguns casos chega a constranger. No Congresso, apenas para citar os casos mais evidentes, estão em marcha articulações para limitar o alcance da Lei da Ficha Limpa e proibir que o Ministério Público, responsável pela maior parte das denúncias e processos contra a corrupção, continue realizando investigações criminais (PEC 37); no campo do judiciário, as condenações do STF deram em nada e, aparentemente, o julgamento continua; no Executivo, ministros afastados retomaram influência e cargos importantes no condomínio do poder.
Deu no que deu. A tolerância da cidadania chegou ao ponto de ruptura. A juventude, que muitos julgavam irremediavelmente embalada por um conformismo e individualismo egoísta, foi às ruas em gigantescas manifestações. Caracterizados inicialmente pela proposta de redução das tarifas de ônibus, os protestos incorporaram um amplo leque de solicitações. Desde o fim da PEC 37, o respeito à Lei da Ficha Limpa e o fim da corrupção e da impunidade, à reivindicações por moradia, saúde, educação e transporte no padrão Fifa de qualidade, para lembrar o equívoco na definição de prioridades e o desperdício de recursos na construção de estádios suntuosos.
As caminhadas e atos públicos massivos já se constituem elas mesmas a própria mensagem. O povo está insatisfeito e disposto a ir além do protagonismo passivo de comparecimento às urnas. A resposta que o Estado brasileiro dará à voz das ruas poderá definir nosso futuro como nação.
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