Pedro Ferreira
As ruas e avenidas de Belo Horizonte receberam 218 novos veículos por dia em 2013, ou nove por hora, segundo o Departamento de Trânsito de Minas Gerais (Detran). O aumento de 80 mil veículos em relação a 2012 (de 1.500.966 para 1.580.625) desafia os órgãos de trânsito sobre como evitar transtornos e congestionamentos. O excesso de veículos é apontado por especialistas como um dos maiores problemas do trânsito da capital, e a solução passa pelo avanço do transporte coletivo.
Pesquisa de evolução histórica feita pelo Detran revela que 2013 fechou com 1.580.625 veículos, um aumento de 100% nos últimos 10 anos, média de 10% ao ano. No estado, o número de veículos aumentou 125% em 10 anos, 12% ao ano. De 2003 até o ano passado, a quantidade de motos em BH aumentou 180%, passando de 69 mil para 195 mil.
"A pessoa mora na periferia e trabalha em Belo Horizonte faz as contas e percebe que o que ela gasta de ônibus paga a prestação de uma moto ou um carro. Fica muito mais barato. É muito mais comodidade e agilidade ", avalia o diretor do Detran-MG, delegado Oliveira Santiago, lembrando ainda a frota flutuante da Grande BH que circula na capital.
Especialista em engenharia de transporte da UFMG, a professora Heloísa Barbosa critica a política de incentivo à compra de automóveis com redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), com dezenas de prestações. "O transporte individual está sendo incentivado, o que é um equívoco. Falta investimento em infraestrutura de transporte público", avalia a professora, que considera o transporte público de BH deficitário.
Segundo ela, os belo-horizontinos preferem gastar duas horas de viagem de carro, com a falsa ilusão de que gastarão menos tempo do que de ônibus. A especialista diz ainda que o sistema de transporte também significa incentivar deslocamentos a pé, de bicicleta ou ônibus fretados por empresas para transportar funcionários.
A tendência é aumentar ainda mais o tempo de viagem em BH. Na opinião da especialista, o que tem sido feito para resolver o problema é muito pouco. "Os órgãos de transito já não conseguem sozinhos frear os carros na rua. Ela acredita que o BRT não vai resolver o problema de transporte público por diversas razões. "Não é um sistema. É um modo de transporte por ônibus que tem que ser alimentado, há o problema institucional da questão metropolitana e municipal, que não tem uma gestão única. Uma série de problemas", avalia. Para a professora, o BRT precisaria ser operado como um sistema de média capacidade, e ainda vai substituir os ônibus por ônibus articulados. "Vai ter problema de segurança dos passageiros na travessia das vias até chegar às estações", disse.
O metrô é uma boa solução, como nas cidades europeias, segundo a professora, mas não têm só esse tipo de transporte. "O problema é que no Brasil tudo fica muito caro. No fim, a conta é muita alta. Falta planejamento. Moro na Pampulha e trabalhava no Centro. Sempre transitei pela Avenida Antônio Carlos. Nos últimos 10 anos, nunca vi a Antônio Carlos sem obra. Cada hora fazem uma coisa e desmancham", disse. Para ela, não existe planejamento para BH para daqui a cinco ou 10. "As obras nunca ficam prontas. O atraso virou normal. Todo mundo já espera o atraso em obras por falta de planejamento", ressalta.
RODÍZIO A especialista considera o rodízio de placas um paliativo para tapar o sol com a peneira e aguentar o problema por mais um tempo. "É uma técnica usada quando se esgota o planejamento e não se consegue investir. As pessoas compram carros com vários finais de placa. Pedágio urbano cobre áreas mais congestionadas, quer tirar o carro de lá, mas normalmente tem que haver contrapartida com um transporte urbano de qualidade", afirmou. Para a especialista, o sistema de transporte público de BH vai funcionar bem durante a Copa do Mundo, por ser feriado, domingo e haver recesso nas escolas. A preocupação é para depois dos jogos.
A BHTRans informou que está fazendo uma série de intervenções no sistema viário no Centro para melhorar a circulação de pedestres e veículos e para garantir segurança e fluidez. Disse que tem um plano para orientar as ações relacionadas ao transporte coletivo individual e não motorizado para atender as necessidades atuais e futuras de mobilidade da população. "As soluções para atingir o objetivo principal, a Mobilidade Urbana sustentável, necessita de ampliação do metrô, da criação do BRT, de novas ciclovias, priorização para os pedestres, entre outros", informou a BHTrans.
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