Fotos tiradas hoje de manhã no trecho objeto da reportagem.
Ontem, mais uma vez ocorreu um afundamento nas calçadas onde aconteceu o problema de abertura de crateras há 5 meses atrás. Outra vez o lençol freático começou a jorrar água na rua. Até quando o Consórcio e o Ministério Público Estadual vão fingir que não existe risco? Só quando desabar algum prédio na R. Barão da Torre, esquina com R. Farme de Amoedo ou morrer algum pedestre? Onde anda a Defesa Civil e o CREA?
A seguir apresentamos uma reportagem do início do mês:´
Consórcio estende o prazo para retomar a perfuração do metrô em Ipanema e moradores reclamam da falta de informação sobre a obra
por Felipe Carneiro
O Dia das Mães foi inesquecível para quem mora no começo da Rua Barão da Torre, em Ipanema. Naquele 11 de maio, duas crateras de 5 metros de diâmetro desabrocharam na calçada em frente aos números 137 e 138, acompanhadas de tremores e rachaduras em alguns dos prédios vizinhos. Sobressaltado com o cenário desastroso que se formou, um grupo de moradores buscou informações no consórcio responsável pela obra do metrô naquele trecho, constituído pelas empreiteiras Odebrecht, Queiroz Galvão e Carioca Engenharia. As empresas reconheceram o contratempo e revelaram que blocos de rocha se desprenderam durante a abertura do túnel no subsolo, causando um assentamento do terreno que, num efeito dominó, chegou até a superfície e abriu as fendas. Foi montada, então, uma força-tarefa para reiniciar a obra com segurança e o mais rapidamente possível. A previsão era que em dois meses a perfuração seria retomada. No entanto, mais de 100 dias depois, a operação continua estagnada. No informe mais recente, o consórcio estabelece agora o fim de setembro como prazo para que a Tunnel Boring Machine, imensa máquina mais conhecida como tatuzão, seja reativada e volte ao trabalho. "A falta de informação e transparência só aumenta a nossa apreensão", queixa-se a aposentada Carla Portilho, moradora da área.
Uma intervenção feita no subterrâneo, longe dos olhos da população, é um terreno fértil para gerar desconfiança e rumores de todos os tipos. Numa obra do porte da extensão do metrô em Ipanema, de alta complexidade, os percalços não chegam a ser tão surpreendentes assim, salvo quando envoltos em mistério. Como agravante, o perfil geológico da faixa subterrânea entre a Lagoa Rodrigo de Freitas e a praia é particularmente difícil de trabalhar (veja o quadro). Ao contrário das características do trajeto do metrô em Copacabana, também próximo ao mar, o subsolo em Ipanema revela-se heterogêneo. Até pouco depois da Rua Teixeira de Melo, no sentido Leblon, é formado pela mesma rocha do Morro do Cantagalo. Dali em diante, predomina a areia. O problema é que há uma faixa de transição onde se encontram blocos de pedra e argila, mais suscetíveis a deslocamentos. A solução encontrada foi injetar calda de cimento nessa zona indefinida para obter coesão, mas não deu certo. Agora, os responsáveis pela obra recorrem a outros materiais para compactar o solo e evitar deslizamentos nas profundezas. "Só recomeçaremos as escavações quando estivermos 100% seguros de que não há risco. Nosso compromisso não é com datas, é com a segurança", afirma Aluísio Coutinho, gerente de produção do consórcio Linha 4 Sul.
Um dos argumentos de quem defendia a manutenção do trajeto inicialmente planejado para a Barra da Tijuca, que passava por Botafogo, Humaitá e Jardim Botânico em vez de Ipanema e Leblon, era a facilidade de escavar naquela região, mais distante do litoral. "O solo no trecho mais próximo à praia é de restinga. Cavar ali tão perto da superfície é uma temeridade. Não há espaço de folga para nenhum imprevisto", alerta o geólogo Newton Carvalho, conselheiro da Fundação Geo-Rio. No entanto, para Marcos Vidigal, diretor do consórcio, as críticas carecem de fundamentos técnicos e, dependendo do caso, têm viés político. "Já ouvi muita gente dizendo que nós fazemos tudo errado, mas é gente que fala de orelhada, sem acesso aos nossos estudos", rebate.
Sensível à preocupação de especialistas e moradores, o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro foi o primeiro a agir. Requisitou uma série de documentos ao consórcio e os encaminhou ao Grupo de Apoio Técnico Especializado (Gate), órgão interno da instituição, e à Defesa Civil. Em outra frente, a Sociedade dos Engenheiros e Arquitetos do Estado do Rio de Janeiro e o Clube de Engenharia realizaram encontros de seus associados para discutir a obra, mas o consórcio, apesar de convidado, não mandou representantes. A alegação é que há outros canais oficiais para manifestar sua posição e que a porta da empresa está permanentemente aberta para quem busca esclarecimentos. O consórcio teve a mesma postura em iniciativas similares organizadas por associações de moradores preocupadas com a intervenção em seu bairro. "Temos mil e um questionamentos, mas não aparece ninguém para responder. É mais fácil conseguir informação com os operários do que com os representantes oficiais", reclama a líder comunitária Ignês Barreto, coordenadora do Projeto de Segurança de Ipanema (PSI). Que a poeira se assente e o problema seja resolvido da melhor maneira possível, com segurança para moradores, trabalhadores e pedestres.
Uma intervenção feita no subterrâneo, longe dos olhos da população, é um terreno fértil para gerar desconfiança e rumores de todos os tipos. Numa obra do porte da extensão do metrô em Ipanema, de alta complexidade, os percalços não chegam a ser tão surpreendentes assim, salvo quando envoltos em mistério. Como agravante, o perfil geológico da faixa subterrânea entre a Lagoa Rodrigo de Freitas e a praia é particularmente difícil de trabalhar (veja o quadro). Ao contrário das características do trajeto do metrô em Copacabana, também próximo ao mar, o subsolo em Ipanema revela-se heterogêneo. Até pouco depois da Rua Teixeira de Melo, no sentido Leblon, é formado pela mesma rocha do Morro do Cantagalo. Dali em diante, predomina a areia. O problema é que há uma faixa de transição onde se encontram blocos de pedra e argila, mais suscetíveis a deslocamentos. A solução encontrada foi injetar calda de cimento nessa zona indefinida para obter coesão, mas não deu certo. Agora, os responsáveis pela obra recorrem a outros materiais para compactar o solo e evitar deslizamentos nas profundezas. "Só recomeçaremos as escavações quando estivermos 100% seguros de que não há risco. Nosso compromisso não é com datas, é com a segurança", afirma Aluísio Coutinho, gerente de produção do consórcio Linha 4 Sul.
Um dos argumentos de quem defendia a manutenção do trajeto inicialmente planejado para a Barra da Tijuca, que passava por Botafogo, Humaitá e Jardim Botânico em vez de Ipanema e Leblon, era a facilidade de escavar naquela região, mais distante do litoral. "O solo no trecho mais próximo à praia é de restinga. Cavar ali tão perto da superfície é uma temeridade. Não há espaço de folga para nenhum imprevisto", alerta o geólogo Newton Carvalho, conselheiro da Fundação Geo-Rio. No entanto, para Marcos Vidigal, diretor do consórcio, as críticas carecem de fundamentos técnicos e, dependendo do caso, têm viés político. "Já ouvi muita gente dizendo que nós fazemos tudo errado, mas é gente que fala de orelhada, sem acesso aos nossos estudos", rebate.
Sensível à preocupação de especialistas e moradores, o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro foi o primeiro a agir. Requisitou uma série de documentos ao consórcio e os encaminhou ao Grupo de Apoio Técnico Especializado (Gate), órgão interno da instituição, e à Defesa Civil. Em outra frente, a Sociedade dos Engenheiros e Arquitetos do Estado do Rio de Janeiro e o Clube de Engenharia realizaram encontros de seus associados para discutir a obra, mas o consórcio, apesar de convidado, não mandou representantes. A alegação é que há outros canais oficiais para manifestar sua posição e que a porta da empresa está permanentemente aberta para quem busca esclarecimentos. O consórcio teve a mesma postura em iniciativas similares organizadas por associações de moradores preocupadas com a intervenção em seu bairro. "Temos mil e um questionamentos, mas não aparece ninguém para responder. É mais fácil conseguir informação com os operários do que com os representantes oficiais", reclama a líder comunitária Ignês Barreto, coordenadora do Projeto de Segurança de Ipanema (PSI). Que a poeira se assente e o problema seja resolvido da melhor maneira possível, com segurança para moradores, trabalhadores e pedestres.
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