11 de
outubro de 2016
© Depositphotos.com / jkraft5 O crescimento desordenado das
cidades fez o número de transportes poluentes aumentar.
Os
diferentes modos pelos quais o desenvolvimento urbano ocorreu ao longo do
século XX, primeiramente nos países desenvolvidos, espalhando-se em seguida
para outras regiões do planeta, trouxe consequências de grande impacto nas
condições de mobilidade das pessoas.
A mais
significativa foi a localização das pessoas em relação às suas necessidades de
trabalho, educação, lazer e entretenimento. Na maior parte das grandes cidades
a população de baixa renda ocupa regiões periféricas, onde o valor da terra
permitiu a construção de moradia. Nessas áreas, a oferta de serviços públicos –
escolas, postos de saúde e transporte coletivo – é precária, a isso se soma uma
oferta limitada de oportunidades de trabalho.
Esse
cenário provoca uma redução do acesso das pessoas aos equipamentos e serviços
dos quais necessitam, sendo assim obrigadas a percorrer grandes distâncias
diariamente, somente para chegar ao seu local de trabalho. Essas longas viagens
provocam um aumento do custo do sistema de transporte público, implicando na
cobrança de tarifas mais elevadas. Consequentemente, para as pessoas que
dependem do transporte público essas condições significam um custo elevado de
tempo e conforto. Esse problema é agravado devido à precariedade do sistema
viário nas áreas periféricas e a baixa qualidade do transporte público.
Acrescente-se
a esse quadro a falta de controle no uso e ocupação do solo nas áreas mais
estruturadas das cidades, onde vivem as pessoas com renda mais elevada e que
têm acesso ao automóvel. O resultado é a formação de áreas com grande
quantidade de veículos que causam congestionamentos diários. Levando em
consideração que a maioria dos veículos utiliza combustíveis fósseis, o que se
vê é uma significativa emissão de gases de efeito estufa (GEE) que contribuem
para o aquecimento global e que tornam as cidades uma prioridade no combate às
mudanças climáticas.
Desse
modo, a cidade compacta ficou restrita aos centros urbanos, enquanto as
periferias cresciam desproporcionalmente, acarretando uma diminuição da
qualidade na prestação de serviço de transporte público coletivo. Esta situação
proporcionou o aumento da procura pelo automóvel, que se tornou o meio de
transporte preponderante na cidade. Assim, a maioria das cidades passou a
organizar o espaço urbano tendo como base a melhoria do fluxo do tráfego
automobilístico.
O
resultado é a intensificação de ruídos acima do nível tolerado, poluição do ar,
alta incidência de doenças relacionadas com a contaminação, congestionamento crônico,
perda de horas produtivas, estresse, desperdício de energia e dificuldade de
deslocamento de pessoas com mobilidade reduzida, de idosos e de pedestres,
características dos centros urbanos na atualidade.
O maior
desafio que a humanidade enfrenta atualmente é o combate às mudanças climáticas
provocadas pelo aumento do aquecimento global. Os meios de transporte urbano
utilizam em sua maioria combustíveis fósseis – óleo diesel, gasolina -, que são
a principal fonte de emissão de gases que provocam o efeito estufa, gerando
gases nocivos à saúde, como o monóxido de carbono (CO), o dióxido de enxofre
(SO2), dióxido de nitrogênio (NO2) e material particulado que causam inúmeras
doenças respiratórias, cardiovasculares, câncer do pulmão entre outras.
Segundo
relatório divulgado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) no dia 27 último,
cerca de 92% da população mundial vive em lugares onde os níveis de qualidade
do ar excedem os limites fixados pela organização. O relatório destaca que,
entre as principais fontes de poluição do ar, se encontram, entre outros, os
modelos ineficazes de transporte, que emitem os principais poluentes que são as
micropartículas de sulfato, de nitrato e fuligem liberados principalmente pelos
combustíveis fósseis utilizados nos veículos, com destaque para o óleo diesel
utilizado por caminhões e ônibus em todo país.
Somente
no Estado de São Paulo morreram em 2011 mais de 15.000 pessoas por doenças
relacionadas com a poluição do ar, o que representa o dobro do número de óbitos
por acidentes de transito de acordo com estudo apresentado pelo Instituto Saúde
e Sustentabilidade no segundo semestre de 2015. O mesmo estudo aponta que a má
qualidade do ar atinge a todos indistintamente, diminuindo a expectativa de
vida em 1,5 ano.
Não há
dúvidas de que o modelo atual de mobilidade urbana baseado na utilização
intensiva do veículo privado é insustentável. A alternativa que resta é as
cidades adotarem uma política de mobilidade urbana sustentável com o objetivo
de reduzir as emissões de poluentes, minimizar a pressão do automóvel na
cidade, fortalecer a equidade social e favorecer os meios de deslocamento que
mais respeitam o meio ambiente.
Nesse
contexto o papel do cidadão é fundamental, pois a mudança de hábitos de
mobilidade se baseia num conjunto de decisões individuais que todos tomam ao
longo do dia. O uso mais racional e eficiente, por exemplo, exige uma alta
conscientização e participação das pessoas, o que só ocorrerá se existirem
alternativas de transporte reais mais sustentáveis, eficazes e confortáveis.
Nenhum comentário:
Postar um comentário