“Uma
queda de 77% da demanda diária. Desde que começaram as restrições de
circulação, a perda de receita foi de R$ 1,6 bilhão e hoje o setor vive uma
situação bastante delicada. Estamos buscando uma alternativa para que não haja
descontinuidade do serviço”. As palavras são do presidente do conselho da
ANPTrilhos (Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre
Trilhos), Joubert Flores, e mostram que operadores brasileiros de sistemas de
metrô, trens urbanos e VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) vivem um momento de
agonia em razão da crise causada pela pandemia da covid-19.
A
diminuição sem precedentes na demanda e a necessidade de se manter a prestação
dos serviços ameaça a capacidade de algumas empresas cumprirem suas obrigações
com funcionários e fornecedores. “Já são sete semanas desde o início das
restrições. Algumas operadoras têm mais ou menos um mês de recursos para suas
despesas com pessoal e manutenção. O custo do serviço é alto. Mesmo que você
reduza a grade de operação, não diminui o valor gasto como energia, salário e
fornecedores”, explica.
Outra
consequência da pandemia é a elevação das despesas para cumprir as normas
sanitárias que combatem a propagação do novo coronavírus. “Diminuímos o efetivo
e estamos capacitando os trabalhadores para a situação atual. As higienizações,
que eram feitas em apenas um período, hoje são feitas várias vezes por dia e
muitas vezes a cada parada no terminal. Também estamos disponibilizando
máscaras e álcool em gel dentro dos carros”, cita Flores.
Para
encarar o momento, a ANPTrilhos defende a necessidade de uma série de medidas,
como a abertura de uma linha de crédito para que as empresas disponham de
capital de giro; aprovação dos projetos de investimento para fins de financiamento
por meio de debêntures incentivadas; redução dos encargos setoriais devido ao
status de calamidade; isenção de ICMS (Imposto Circulação de Mercadoria e
Serviço) sobre energia elétrica para o setor; além do diferimento no pagamento
de tributos federais.
Conforme
Joubert Flores, desde o final de março, quando iniciaram as medidas de
restrição de circulação, a ANPTrilhos vem dialogando com o governo federal para
encontrar alternativas e construir soluções. Mas ele lembra que a saída passa
por uma articulação entre governo federal e governos locais. “A conversa
evoluiu, e buscamos agora um encontro com o Ministério de Minas e Energia, pois
o nosso principal insumo é a energia. Apesar da diminuição do consumo, os
encargos sobre ela continuam os mesmos. Além disso, é necessário um alinhamento
entre União, estados e municípios. O governo federal deve repassar o socorro
para os estados que, por sua vez, poderão apoiar as operadoras”.
A
projeção para os próximos meses não é otimista. Segundo o presidente da entidade,
dificilmente o setor alcançara os resultados do passado. “Países europeus que
tiveram uma atuação melhor durante a pandemia, como Alemanha e Áustria, já
estão retomando as operações, mas a demanda pelos serviços de transporte segue
baixa. Não acredito que voltaremos ao status quo de antes. Hoje muitas pessoas
estão trabalhando em casa, empresas irão manter um nível de trabalho remoto,
com um custo menor. Temos ainda a questão do desemprego. Se imaginarmos que 70%
das pessoas que utilizam o setor fazem isso para trabalhar, devemos ter uma
queda de demanda ou uma curva de crescimento mais lenta. Além disso, as pessoas
que puderem evitar aglomeração irão se manter isoladas”, analisa.
06/05/2020 – Agência CNT de Notícias
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