Valeska Peres Pinto | Coordenadora Técnica da ANTP
A Rio+20, Conferencia da ONU realizada em junho deste ano no Rio de Janeiro, colocou de vez a expressão “sustentabilidade” no vocabulário das instituições, empresas e midia. Com a expressão vieram os fundamentos que fazem referência a três pilares – econômico, social e ambiental. Se faltar um deles, a “sustentabilidade” fica comprometida.Durante a Rio+20, Governos, Empresas e Sociedade Civil debateram, cada um a seu modo, a extensa pauta da “sustentabilidade”. Os primeiros, representado na Conferencia Oficial dos Chefes de Estado, revelaram nos seus discursos as dificuldades de se combinar as expectativas nacionais com a construção de políticas globais, o que ficou consagrado na Declaração final, que reafirmou compromissos anteriores e propôs algumas medidas, ainda tímidas, de fortalecimento do PNUMA – Programa das Nações Unidas de Meio Ambiente.
As Empresas e Associações vinculadas à iniciativa privada, distribuídas em centenas de eventos na cidade aproveitaram para promover suas ações sustentáveis. À economia verde se somou a economia azul, embora na maior parte dos casos as atividades ainda prosperem na economia marrom. Finalmente, as entidades da sociedade civil, reunidas na Cúpula dos Povos, reiteraram seus compromissos de luta por Justiça Social e Ambiental, denunciando as soluções apresentadas pelos governos e empresas que, segundo elas desconhecem os direitos essenciais de mulheres, indígenas, negros, juventudes, trabalhadores e comunidades tradicionais.
Passados alguns meses do evento, restam as avaliações quanto às lacunas e aos legados deixados pelo evento. Na lista das primeiras, destaca-se a pouca importância acordada as cidades. O espaço urbano ainda não é entendido como produto do trabalho humano, que extrapola a mera soma de casas, ruas, redes de água, comércios. Na falta de uma visão da cidade como organismo e meio ambiente próprio, fica difícil falar em “desenvolvimento sustentável” ou “cidade sustentavel”. Para cada ator presente a sustentabilidade começa e termina nas fronteiras de suas atividades e interesses.
Esta lacuna afeta diretamente a discussão da mobilidade urbana. Transporte público, trânsito urbano, acessibilidade, circulação de pedestre, circulação de mercadorias - são tratados como fenômenos separados, desintegrados, autônomos. Daí ser difícil uma ação combinada que possibilite um ganho excedente da combinação de todos os esforços setoriais e individuais. O tratamento ainda marginal dado as cidades pode ser uma consequência do fato da urbanização ser um fenômeno ainda recente no mundo. Somente agora a maioria da população do planeta vive em cidades. Porém, para a América Latina, que já ostenta 75% da sua população nesta condição, os desafios da urbanização são presentes.
Explicações à parte, cumpre destacar alguns legados do evento, entre eles as expectativas geradas no encontro do C40 – Grupo de Grandes Cidades Lideres para o Clima, constituído pelos prefeitos das 40 maiores cidades do mundo. No encontro os prefeitos se comprometeram com a meta de redução pela metade da emissão de carbono até 2030, quando as previsões apontam para que o Brasil terá mais de 90% da sua população vivendo em cidades. Para atingir esta meta o C40 aponta como prioridade o investimento na melhoria das redes de transporte público – trens, metrôs, ônibus e outras alternativas de transporte coletivo - e na melhoria dos combustíveis, com a utilização da eletricidade, biodiesel e etanol.
Outro legado importante é o reconhecimento por uma parcela significativa de participantes, de que o sucesso das políticas e programas globais depende muito dos resultados das iniciativas locais. Neste sentido é importante reconhecer que são muitas as ações em curso no país, que revelam compromissos crescentes dos atores envolvidos na mobilidade urbana com a pauta da sustentabilidade. Um exemplo disto é a realização do 2º Seminário de Tecnologia Sustentável, que a FETRANSPOR esta promovendo no dia 4 de outubro, na cidade do Rio de Janeiro.
O Seminário reedita o encontro realizado há dois anos envolvendo centenas de profissionais do setor de transporte público e de meio ambiente, para discutir temas ligado à matriz energética e tecnologia do transporte público por ônibus no Brasil. Naquela ocasião foram apresentadas diversas opções tecnológicas existentes no mercado nacional, em termos de motores e veículos e de combustíveis alternativos. Após aquela primeira discussão a FETRANSPOR e a COPPE/UFRJ iniciaram estudos aprofundados para análise técnica comparativa entre todas as opções levantadas, em termos de emissões, custos operacionais e viabilidade econômico-financeira. O estudo concluído em agosto deste ano será apresentado e debatido neste 2º Seminário, que pretende avançar na formulação de políticas nacionais e locais que dêem suporte a aplicação de tecnologias mais sustentáveis no transporte público no Brasil.
Estas e outras iniciativas terão sempre o apoio da ANTP, pois estamos convencidos de que a parcela decisiva do jogo da sustentabilidade ocorrerá nas cidades.
Nenhum comentário:
Postar um comentário