03/06/2017 - Diário do Transporte
O Secovi-SP – sindicato das empresas do mercado imobiliário
e condomínios no Estado de São Paulo, encomendou e pagou ao escritório do
incensado arquiteto Jaime Lerner um projeto de construção de uma linha circular
por transporte público que interliga os principais pontos do centro da capital.
O plano foi oferecido à Prefeitura de São Paulo, que vai
avaliar a possibilidade de construção do novo modal. Uma das tecnologias em
análise seria o VLP (Veículo Leve sobre Pneus), conhecido como “bonde moderno”.
Segundo o portal UOL, o projeto foi tratado em reunião
realizada no gabinete do prefeito João Doria no dia 6 de abril último. Além de
Doria, estavam os arquitetos Jaime Lerner e Paulo Kawahara, e os secretários
municipais Heloísa Proença (Urbanismo e Licenciamento) e Sérgio Avelleda
(Transportes).
Ainda segundo o UOL, o projeto está nas mãos da secretária
de Urbanismo e Licenciamento, Heloísa Proença, que teria assumido a pasta com o
apoio de entidades do setor imobiliário, como o Secovi.
Pela proposta, a linha circular teria 12,8 km de extensão,
em dois sentidos, horário e anti-horário. No sentido horário o trajeto seria de
5,8 km, com18 paradas programas. No sentido inverso, teria 7 km, com 20
paradas.
OBJETIVOS DO PROJETO:
Eduardo Della Manna, coordenador executivo de legislação
urbana do Secovi-SP, disse ao UOL que “a implantação de um modal como esse no
centro, com os outros modais de transporte já existentes, como o trem e o
metrô, contribui para o reflorescimento da região”.
A linha proposta pelo plano de Lerner guarda semelhanças com
a linha do VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) Carioca, que interliga áreas da
região central do Rio. O transporte ligaria as principais localidades e
equipamentos culturais do centro, como a praça da República, os largos do
Arouche e do Paissandu, a Estação Pinacoteca, a Sala São Paulo e o Theatro
Municipal.
O “bonde moderno” seria, na visão do Secovi-SP, mais um
indutor de desenvolvimento de áreas degradadas e abandonadas, onde ele inclui a
região da Luz, conhecida pela cracolândia, local que desafia há tempos a
prefeitura e o governo estadual.
O tipo de modal ainda é dúvida. Além do VLP – Veículo Leve
sobre Pneus cogita-se ainda a opção do VLT e até mesmo uma linha exclusiva de
ônibus.
No caso do VLP, sua circulação seria feita por ruas e
avenidas já existentes, compartilhando o espaço com outros veículos. Isso
significaria a desnecessidade de desapropriações de imóveis e interferências na
paisagem. Trafegando por uma vala central, seria movido por energia elétrica,
como no caso dos trólebus e antigos bondes paulistanos.
Pelo cálculo inicial do Secovi-SP cada km de VLP construído
custaria cerca de R$ 80 milhões. Para uma linha com 12,8 km de extensão, custo
total atingiria R$ 1,024 bilhão.
PROJETO É PRIORIDADE PARA SÃO PAULO?
Ouvido pelo portal UOL, o arquiteto e urbanista Moreno
Zaidan, bacharel e mestre pela FAU-USP (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade de São Paulo) fez alguns questionamentos sobre o projeto: “com que
propósito a linha vai funcionar, que tipo de viagem vai atender, como isso
estará articulado na rede geral de transportes e para qual faixa de velocidade?
”
“Só depois dessas questões resolvidas”, afirmou, “é que se
vai ver a questão do desenho urbano desse equipamento na superfície de uma
área, como a do centro, que tem alta circulação de pedestres, veículos,
comércio. Como serão as estações? ”.
Por fim, o especialista ressaltou que é necessário discutir
antes a real necessidade de um projeto assim para a capital.
“Ele é de fato uma prioridade? Não seria mais importante
investir esse dinheiro em outros corredores de transporte? Isso precisa ser
discutido. ”
MAIS DO MESMO?
O curioso é que Jaime Lerner já fez proposta semelhante à
Prefeitura de Curitiba em 2013. O projeto idealizado pelo ex-prefeito
curitibano previa a ligação entre o bairro Cachoeira e o Centro de Curitiba com
uso de veículo elétrico (VLP), com estimativa de transportar até 260 mil
pessoas por dia útil.
O prefeito Gustavo Fruet optou pela idéia de Lerner em
substituição ao metrô para a cidade de Curitiba. Jaime Lerner é conhecido como
um dos mais ferrenhos críticos do metrô como solução de mobilidade para a cidade.
A idéia era que o novo projeto do VLP ficasse com parte dos recursos da União
que seriam destinados ao projeto do metrô local.
O projeto foi apresentado em julho de 2013 pela prefeitura
de Curitiba ao Ministério do Planejamento, ainda sem contar com a elaboração de
um projeto executivo. Orçado em R$ 950
milhões, o projeto previa a implantação do Veículo Leve sobre Pneus (VLP), que
permitia ainda uma extensão de mais de 30 quilômetros sobre o traçado ferroviário
já disponível na capital paranaense. O restante das intervenções pleiteadas à
época pela prefeitura, já possuíam projeto básico, que, somados ao VLP,
atingiam a cifra de R$ 5,3 bilhões.
Em 2016 a prefeitura de Curitiba estudava propostas para a
implantação do VLP na cidade. A companhia francesa NTL, de Estrasburgo, na
França, chegou a apresentar o sistema à administração da cidade, segundo uma
PPI – Procedimento de Manifestação de Interesse PMI lançado pela administração
da capital paranaense.
Logo após sua posse, em janeiro de 2017, o novo prefeito de
Curitiba, Rafael Grecca, anunciou como uma de suas prioridades para a área de
transportes concluir a Linha Verde e adotar o VLP na cidade.
No mês seguinte, o assunto continuava em discussão. Sergio
Vidoto, da M4 Consultoria, e então coordenador do projeto de implantação do VLP
para Curitiba, respondia a uma série de questionamentos feitos pela Urbs. A
empresa ligada à prefeitura apontara uma série de custos que não haviam sido
levados em conta no projeto original, como detalhes sobre infraestrutura
elétrica, necessários para abastecer as centenárias e veículos.
Mais: a Urbs questionou que o projeto fora calculado com
base no total de passageiros transportados, e não nos chamados passageiros
pagantes equivalentes, utilizados hoje no cálculo do município.
Pelo visto, por melhores que sejam as ideias, elas demandam
muito tempo não apenas para discussão de sua viabilidade, como para sua
implantação definitiva.