Ex-presidente, diretores e gerente são apontados como
coordenadores de fraude em licitações. Promotoria estima superfaturamento de R$
400 milhões em contratos.
Por Tatiana Santiago, G1 SP
12/06/2017 17h58
Atualizado há 8 minutos
Prática de cartel é investigada em contratos dos trens da
CPTM (Foto: Reprodução Globonews)
O Ministério Público de São Paulo denunciou criminalmente a
cúpula da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) por envolvimento no
cartel dos trens. Além do ex-presidente da CPTM, Mário Manuel Seabra Rodrigues
Bandeira, também foram denunciados o diretor de operações e manutenção José
Luiz Lavorente, o diretor administrativo e financeiro Milton Frasson e o
gerente de contratações e compras Domingos Cassetari.
A denúncia foi oferecida na última sexta-feira (9) e
envolveu seis licitações de uma única vez. A estimativa é que as licitações
foram fraudadas ou superfaturadas em R$ 400 milhões em valores de março de 2013
- reajustado o valor seria em torno de R$ 538 milhões.
Em nota, a CPTM diz que "entende como regulares os
contratos celebrados com as empresas citadas. A Companhia e os empregados
mencionados apresentarão suas alegações em juízo, onde ficará configurada a
improcedência da denúncia" (leia a íntegra da nota ao final desta
reportagem).
Também foram denunciados mais 11 representantes de quatro
empresas por irregularidades em procedimentos licitatórios. Foi encontrada uma
conexão do cartel das seis licitações para manutenção e reforma dos trens das
séries 2000, 2100, 2070, 3000, 7000 e 7500.
"Segundo a nossa investigação, essas licitações foram
vencidas através de empresas que participaram do cartel que foi coordenado
pelos representantes da CPTM, em particular segundo o nosso entendimento por
coordenação do próprio então presidente da CPTM. Esse cartel chegou a um
resultado de direcionamento dessas licitações para as quais seriam os
consórcios vencedores ou em determinados casos, quais seriam as empresas
vencedoras", afirmou o promotor Marcelo Batlouni Medroni do Gedec (Grupo
de Repressão a Delitos Econômicos). "Houve a formação de cartel coordenada
pela própria CPTM na distribuição dos vencedores com o superfaturamento",
completou.
Os funcionários da CPTM foram denunciados por crime contra a
ordem econômica e pela prática de fraudes às licitações.
De acordo com o Ministério Público, também há evidências que
representantes da Siemens, Bombardier, Alston, T’Trans, MPE e IESA participaram
do cartel. No entanto, não foram identificadas provas necessárias para
oferecimento de denúncia.
Ao todo, foram analisadas 30 mil páginas das seis licitações
ocorridas entre os anos de 2011 a 2013 durante a gestão do governador Geraldo
Alckmin (PSDB).
Superfaturamento
A Procuradoria diz que o esquema de superfaturamento
proposto pela CPTM teve uma inversão de estratégia. A Companhia determinou um
preço de referência muito acima do valor que deveria pagar para a realização
das reformas e manutenção dos trens.
"As empresas ofereceram valorem muito abaixo daqueles
de referência o que por si só já é estranho porque a CPTM oferece muito mais do
que é necessário pagar. Depois que os valores foram aceitos em relação aos
vencedores, a CPTM ofereceu um reajuste de preços que a gente chamou de
criminoso porque foi muito acima de qualquer valor de mercado", afirmou o
promotor.
De acordo com o Ministério Público, com os reajustes alguns
contratos chegaram a dobrar de valor no período de sete meses. "A CPTM nos
apresentou uma justificativa dizendo que houve economia para a empresa, mas na
verdade foi uma forma de ludribriar com os números aqueles valores que foram
oferecidos em relação aos que depois foram reajustados".
Quando a empresa aumentou os valores na homologação do
contrato reajustou os contratos em até 50%.
Cartel dos Trens
A investigação do cartel dos trens teve início após um
acordo de leniência entre o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica)
com a empresa alemã Siemens em junho de 2013.
O acordo de leniência resultou em cinco grandes
investigações envolvendo CPTM e Metrô no fornecimento, manutenção e reforma de
trens.
Após o acordo de leniência foram realizadas buscas e
apreensões nas empresas envolvidas que resultaram em outras quatro denúncias envolvendo
licitação.
Ao todo foram oferecidas nove ações pelo Ministério Público
no esquema do cartel de trens do Metrô e da CPTM. Após o desmembramento de
algumas ações, essa passa a ser a 14 ação, sendo que 11 foram aceitas e outras
3 estão em análise.
Nota da CPTM
"A CPTM entende como regulares os contratos celebrados
com as empresas citadas. A Companhia e os empregados mencionados apresentarão
suas alegações em juízo, onde ficará configurada a improcedência da denúncia.
O Ministério Público comparou os valores contratados (base
ago/2012) com os efetivamente pagos, desconsiderando o índice de reajuste
fixado nos próprios contratos, concluindo equivocadamente superfaturamento.
Vale salientar, a previsão de reajustes em contratos de serviços contínuos é exigida
em Lei.
As licitações que compuseram o certame para manutenção dos
trens em 2012 respeitaram na íntegra a Lei 8666 e garantiram desconto da ordem
de 30% em relação aos preços de referência, os quais foram estabelecidos com
base em pesquisa de mercado iniciada no final de 2011. Esse desconto
representou economia superior a R$ 430 milhões (base ago/12) ao Governo do
Estado.
A redução do valor superior a 30% se configurou inclusive em
relação aos três contratos de manutenção em andamento na época, assinados em
2007, (corrigidos todos na base ago/12), representando economia de R$ 250
milhões aos cofres públicos.
O certame contou com ampla participação do mercado, com 11
empresas inscritas. As empresas CAF e o Consórcio TMT (Trail Infraestrutura,
Temoinsa do Brasil e TTrans para duas séries de trens) venceram as licitações,
apresentando os preços mais baixos e três das quatro maiores empresas
multinacionais estabelecidas no país à época, detentoras dos contratos então
vigentes, não tiveram sucesso no certame.
Além disso, nenhuma das configurações propostas nas
mensagens trocadas por empregados das empresas participantes, citadas no
relatório do CADE, no qual se baseia o MP para esse inquérito, se concretizou e
não houve subcontratações."
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