27/10/2017 - Folha de São Paulo
Duas das três linhas mais novas e modernas do metrô paulista
tiveram disparada de falhas neste ano e ajudaram a rede a atingir a maior marca
de panes desta década.
Os problemas nas linhas 5-lilás (Capão Redondo-Brooklin),
administrada pelo governo estadual, e 4-amarela (Butantã-Luz), a cargo da
iniciativa privada, ocorrem às vésperas de elas receberem uma nova avalanche de
passageiros devido à entrega de estações final do mandato de Geraldo Alckmin
(PSDB).
Na linha 5, ocorreram entre janeiro e setembro deste ano 21
falhas graves, contra 3 em igual período de 2016, de acordo com informações
obtidas pela Folha por meio da Lei de Acesso à Informação.
Esses dados são chamados internamente de "incidentes
notáveis" e incluem apenas as panes que geram transtornos aos passageiros
e que duram mais de cinco minutos.
A gestão Alckmin, que pretende conceder a operação da linha
5 à iniciativa privada, atribui a disparada de falhas à implantação de um
sistema de modernização –que deveria melhorar os serviços.
Esse sistema, que controla a circulação dos trens, é
batizado de CBTC e foi comprado em 2008 pelo governo do Estado. Deveria estar
totalmente implantado desde 2010.
Em tese, a nova tecnologia deveria permitir acompanhar a
posição dos trens com maior precisão, levando à redução do tempo de espera
pelos passageiros do metrô.
Alckmin planeja entregar mais sete estações da linha 5 até
2018, elevando a quantidade de passageiros nos próximos anos da casa de 260 mil
para mais de 800 mil por dia.
O tucano tentará disputar a Presidência da República pelo
PSDB no ano que vem –para isso, trava embate dentro do partido com João Doria,
prefeito de São Paulo.
NOVOS TRENS
Na linha 4, que é operada pela concessionária ViaQuatro, as
panes significativas saltaram de 8, em 2016, para 15, em 2017 –sempre na
comparação entre os primeiros nove meses de cada ano.
Neste caso, a empresa inclui os casos em que há interrupção
do serviço por tempo acima de três intervalos entre trens (que costuma ser de
até três minutos em dias úteis e pode passar de cinco minutos aos domingos e
feriados).
A ViaQuatro culpa os testes com novos trens. A linha deve
receber três novas estações entre dezembro deste ano e julho de 2018: Oscar
Freire, Higienópolis-Mackenzie e São Paulo-Morumbi.
CONTAGEM
As linhas 4 e 5 foram inauguradas neste século (2010 e 2002,
respectivamente), enquanto as mais antigas, 1-azul e 3-vermelha, foram
entregues na década de 1970.
Além dessas falhas classificadas como "incidentes
notáveis", existem outras de menor impacto, que afetam os usuários
diariamente, mas que não entram nesses critério da contagem oficial.
Em 2017, as panes graves nas seis linhas da rede do metrô
chegaram a 93 até setembro –praticamente uma a cada três dias. No ano anterior,
foram 80 no mesmo período.
A quantidade de problemas nos primeiros nove meses deste ano
é recorde pelo menos desde 2010 –período em que começa a série histórica
fornecida pelo Metrô.
Naquele ano, por exemplo, houve 13 falhas do tipo, mas havia
só quatro linhas em funcionamento integral –a 4 havia acabado de ser entregue,
e a linha 15-prata, de monotrilho, foi aberta em 2014.
'ALTA TEMPORÁRIA'
O Metrô, ligado à gestão Geraldo Alckmin (PSDB), e a
ViaQuatro, concessionária da linha 4-amarela, afirmam que a alta neste ano do
número de falhas graves –chamadas internamente de "incidentes
notáveis"– se deve à implantação de novos sistemas de controle de trens e
de novos trens em suas linhas.
Por isso, alegam que esse fenômeno era esperado e que as
falhas devem diminuir quando as novas estações forem entregues, atraindo maior
demanda de passageiros.
"Quando a gente coloca o sistema novo, o número de
falhas é um pouco maior até ele se estabilizar", afirma o diretor de
operações do Metrô paulista, Milton Gioia.
Ele se refere à implantação do sistema eletrônico CBTC
(Controle de Trens Baseado em Comunicação) na linha 5-lilás, com a intenção de
acompanhar a posição dos trens com maior precisão e reduzir os tempos de
espera.
O Metrô está iniciando a troca do atual sistema de controle
de trens nas linhas 1-azul e 3-vermelha, o que deve se prolongar
respectivamente até 2020 e 2021.
MANUTENÇÃO
O pico das falhas na linha 5 ocorreu entre maio e julho.
O diretor do Metrô nega que a situação possa piorar diante
do aumento do fluxo de passageiros com as novas estações que serão entregues.
Diz que, assim como em outras inaugurações, haverá uma etapa
de testes com usuários –chamada de "operação assistida"– antes do
funcionamento pleno da linha.
"Tudo isso é feito de maneira planejada pelo metrô de
São Paulo para garantir segurança para os usuários."
Segundo Gioia, a maior parte da manutenção da linha 5 é
feita pela própria estatal –com exceção de serviços como pintura. No entanto,
quando ela for concedida à iniciativa privada, isso será responsabilidade da
empresa que assumir a operação.
Enfrentando grave crise orçamentária, a estatal da gestão
Alckmin teve no ano passado uma queda significativa de investimentos em
operação e modernização.
O diretor do Metrô diz que a quantidade de falhas da rede
tem padrão similar ao de outros metrôs do mundo, como Nova York e Londres, que
são mais antigos e extensos.
"Os números de incidentes que temos hoje são
compatíveis com os números dos maiores metrôs do mundo, todos aceitam até este
valor, até um pouquinho mais do que isso."
NOVOS TRENS
Mauricio Dimitrov, diretor da ViaQuatro, diz que a alta do
índice de falhas na linha 4-amarela se deve à introdução de novos trens no
ramal.
Comprados em 2013, os trens estavam parados aguardando a
abertura das estações da fase 2 da linha 4 (Oscar Freire e
Higienópolis-Mackenzie, por exemplo).
Diante da perspectiva de inaugurar essas paradas no ano que
vem, a concessionária diz que começou a colocar novos trens para rodar.
Segundo Dimitrov, nas primeiras viagens dos novos trens é
normal constatar falhas. Essa nova remessa apresentou falhas principalmente no
controle de abertura e fechamento de portas.
Dimitrov afirma que isso não resulta necessariamente em
desconforto ao usuário, já que muitas das ocorrências são contornadas sem que
passageiros percebam.
Segundo a concessionária, todos os problemas com os novos
trens estão solucionados e não serão um entrave à operação quando as novas estações
forem inauguradas.
'LÍDER'
Com a disparada das falhas de 2016 para cá, a linha 5-lilás
se tornou a mais problemática proporcionalmente ao número de passageiros –e não
só devido aos trens.
Em média, de janeiro a setembro, foram 8,4 panes graves a
cada cem mil usuários. Em segundo lugar nesta conta está a linha 1-azul, a mais
antiga do metrô, com 2,3 falhas por cem mil passageiros. Já a linha 4-amarela
teve índice de 2,2 –muito acima da marca de 1,2 no ano anterior.
A linha 5 também teve outros problemas além das panes, mesmo
após a entrega de três novas estações em setembro: Alto da Boa Vista, Borba
Gato e Brooklin, que adicionaram 2,8 km.
Isso porque as inaugurações foram feitas sem que as obras de
acabamento tivessem sido finalizadas.
Infiltrações, vazamentos, vidros estilhaçados e elevadores
em manutenção ou quebrados foram falhas encontradas nas paradas.
EMERGÊNCIA
No trecho entre as estações Capão Redondo e Adolfo Pinheiro,
houve falhas no sistema de controle uma semana depois de inaugurado, e a
empresa teve de acionar um plano de emergência, que deu auxílio com 30 ônibus.
A linha apresentou também problemas nos sistemas de tração,
pneus e sinalização e controle de portas, segundo um outro relatório obtido
pela reportagem, que mostra a quantidade de vezes em que as equipes de
manutenção foram acionadas para resolver problemas na rede metroviária.
Segundo esse relatório, as estações do sistema que mais
apresentaram falhas desde 2012 são Sacomã (linha 2-verde), Santana (1-azul) e
Luz (1-azul, 4-amarela e CPTM).
Nenhum comentário:
Postar um comentário