Passageiros dizem
ter economizado tempo nos deslocamentos, mas reclamam que conduções estão mais
cheias
Gustavo Ribeiro gustavo.ribeiro@odia.com.br
Um dos pontos
centrais dos planos para transformar a mobilidade no Rio de Janeiro, a
integração de diferentes meios de transportes registrou um salto significativo
no último ano. Inaugurado há 12 meses, o BRT Transcarioca, que liga as zonas
Norte e Oeste da cidade, quase dobrou a quantidade de passageiros que embarcam
diariamente na estação de trem de Madureira conectada ao corredor exclusivo
para ônibus. Uma estação da Linha 2 do metrô próxima dali, em Vicente de
Carvalho, também localizada ao lado do BRT, sentiu o impacto de 8% na demanda.
Os passageiros
reconhecem que a integração dos transportes gera economia de tempo nas viagens,
mas reclamam do maior desconforto para entrar no trem e no metrô com a
implantação do BRT, já que as estações ficaram mais cheias.
O balanço da
SuperVia, concessionária responsável pelo serviço de trens no Estado do Rio,
aponta que os embarques na Estação Madureira pularam de 23 mil por dia em maio
de 2014, para 42 mil atualmente. A concessionária MetrôRio, que opera o metrô,
identificou um acréscimo de 1.200 passageiros diariamente na Estação Vicente de
Carvalho.
Com base na
bilhetagem eletrônica, a SuperVia sabe que pelo menos 10 mil embarques diários
em Madureira são de passageiros que descem do BRT. Esse dado mais afinado é
subestimado, já que só contabiliza os usuários que usam a integração tarifária
com o Bilhete Único. Além disso, a SuperVia não registrou aumento do fluxo na
Estação Madureira entre 2013 e 2014, o que indica que a maioria dos novos
usuários vem do BRT. O MetrôRio informou que não tem o mesmo detalhamento a
partir da bilhetagem eletrônica, porque não possui integração tarifária com o
transporte por ônibus.
Na opinião do
secretário estadual de Transportes, Carlos Roberto Osorio, os dados refletem
uma realidade positiva, em linha com que estado e município projetam para os
transportes de massa do Rio. “A conveniência da integração, por um lado, gera
comodidade ao passageiro, e, por outro, facilita a opção pelo transporte
público”, comenta Osorio.
Quando a avaliação
é dos passageiros, o conceito de comodidade mencionado pelo secretário de
Transportes é questionado. Na volta do trabalho à noite, a moradora da Baixada
Fluminense Alessandra do Vale dos Santos, de 34 anos, pega o coletivo do BRT da
Zona Oeste para a Zona Norte, onde toma um trem para casa. Antes, parte do
percurso era feito em ônibus comum. Ela chega a ganhar 40 minutos no trajeto
atual, mas os transtornos na baldeação aumentaram.
“Demoro menos hoje,
mas o trem sai muito mais cheio, não dá nem para entrar. É preciso colocar mais
trens e ônibus do BRT”, reivindica a operadora de caixa.
Trens e metrô têm de se adaptar às novas demandas
Especialistas em
transportes concordam que as concessionárias precisam se adequar às
novas demandas geradas pelo BRT, principalmente a SuperVia, que teve maior
impacto na Estação Madureira.
“No horário de pico
da manhã, deveriam sair partidas extras de trem de Madureira para a região
central, a fim de absorver esses passageiros. Já existem as integrações física
(entre as estações) e tarifária (com o Bilhete Único). Agora é preciso promover
a integração operacional”, ressalta Eva Vider, professora de Engenharia de
Transportes da UFRJ.
O engenheiro
deTransportes Alexandre Rojas, da Uerj, acredita que a solução para reduzir os
intervalos na SuperVia é o maior controle das invasões na via, que reduzem a
velocidade dos trens. Para o metrô, sugere remodelagem da estação Vicente de
Carvalho.
A SuperVia lembrou
que, desde outubro, os intervalos entre os trens foram reduzidos de dez para
seis minutos no ramal Deodoro, e que outros dois ramais passaram a contar com
viagens expressas, parando apenas em estações estratégicas em vez de fazerem o
serviço parador. Com a previsão de concluir a implantação do sistema de
segurança ATP até o fim deste ano em toda a rede, que permitirá que os trens
andem mais próximos, a empresa apontou que os intervalos vão diminuir mais. Até
2016, 112 trens da SuperVia terão sido substituídos, mas não há previsão de
novo aumento da frota, que conta com 201 composições, 41 a mais que em 2011. O
estado aguarda a liberação de recursos do PAC para construir muros, viadutos e
passarelas, a fim de evitar invasões. O MetrôRio considera que o
impacto do BRT é pequeno e se enquadra no planejamento atual. Já o Consórcio
BRT esclareceu que os intervalos e frotas adotados no sistema seguem o
planejamento da prefeitura.
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