Espanto. Empolgação. Otimismo. E um pouco de medo. Foi assim que São Paulo viu nascer seu metrô, em 6 de setembro de 1972. Nessa data ocorreu o primeiro teste de um trem da companhia, em evento que contou com a presença de autoridades municipais, estaduais e federais.
O transporte rápido sobre trilhos só começaria a operar comercialmente dois anos mais tarde, mas o teste foi considerado uma inauguração: afinal, ainda que por poucos metros, era a primeira vez que um metrô andava em São Paulo.
“Naquele tempo, uma coisa dessas era novidade para todo mundo”, comenta Antonio Aparecido Lazarini, que teve o privilégio de ser o condutor desse primeiro teste. “Tinha gente que perguntava se, por andar debaixo da terra, dava para ver o subsolo. E muitos tinham medo, diziam que podia ser perigoso, que jamais andariam em um negócio desses. Alguns imaginavam que andar de metrô seria como entrar em uma caverna.”
Os funcionários mais antigos da companhia também se recordam que muitos paulistanos não aprovavam as obras. Reclamavam dos transtornos na região, da demora em concluir tudo e, principalmente, do alto valor investido.
Evolução. Autoridades, urbanistas e as pessoas mais esclarecidas, por outro lado, viam a novidade com extremo otimismo. Em 25 de janeiro de 1972, o Estado publicou uma reportagem em que especialistas previam que, dentro de 20 anos, a cidade contaria com “dezenas de linhas de metrô”. Quarenta anos se passaram e as linhas são apenas cinco. Quando o metrô entrou em operação, seus trens percorriam, diariamente, 353 km. Hoje, o total percorrido é de cerca de 67 mil km.
Outro fato importante é que o metrô já nasceu atrasado em São Paulo. Para se ter uma ideia, Londres, a primeira cidade do mundo a contar com um sistema de transporte assim, fez essa inauguração em 10 de janeiro de 1863. Isso mesmo: 111 anos antes da inauguração comercial do sistema em São Paulo.
Resultado: enquanto a malha metroviária da capital britânica é de 400 km, os paulistanos têm apenas 78,1 km à disposição.
Otimismo. O secretário de Estado de Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes, diz que a marcha lenta da criação de novas linhas ficou no passado. “A expectativa hoje é muito mais segura. Você tem quatro linhas em construção e, até março, poderemos ter cinco obras ao mesmo tempo. É inevitável que vamos partir para um patamar de 10 km de linhas construídas por ano.” O que se viu até agora, no entanto, foi um número muito menor. Na história do metrô, a média tem sido de 2 quilômetros de linha a cada 12 meses.
Com mais linhas abertas, a promessa da atual gestão da Companhia do Metropolitano é de uma cidade integrada. “Certamente vai mudar o perfil. Será uma rede que ultrapassará os 100 km em 2014 e os 200 km no final da década”, afirma o secretário.
As projeções dos órgãos que planejam o transporte público da cidade são de que, antes de 2020, a maior parte das viagens realizadas na cidade será feita por metrô.
Ele conduziu o 1º trem
Antonio Lazarini tinha 20 anos em 6 de setembro de 1972. Seis meses antes, havia trocado uma promissora carreira de mecânico de aviões na Varig para se tornar um dos primeiros funcionários do Metrô. "Meu pai achou que era loucura, que era trocar o certo pelo duvidoso, que ninguém sabia no que ia dar esse tal metrô", recorda-se, hoje com 60 anos e ainda funcionário da companhia.
O trem chegou a São Paulo no dia 20 de agosto. "Não tivemos treinamento, não tinha manual. A gente via as fotos, tentava entender como a coisa funcionava. E ia testando, apertando os botões e mexendo as alavancas para ver no que dava", conta ele. O metrô era uma novidade. Em 6 de setembro, o célebre dia do primeiro teste público, coube a Lazarini fazer o trem funcionar no pequeno trajeto, do pátio até a Estação Jabaquara - 400 metros.
"Dentro, tinha umas dez pessoas. Só os chefes e alguns funcionários, era bem restrito", lembra. "No pátio, ficaram trabalhadores da obra e muitas autoridades, incluindo o presidente da República."
O percurso foi muito rápido. "Acho que demorou, no máximo, uns 2 minutos", diz. "Eu estava muito preocupado em conduzir o trem devagarzinho, para não cometer nenhum deslize. Imagine só se acontecesse algo?"
Nascido em Tabatinga, no interior, Lazarini mudou-se para São Paulo em 1970. Aqui construiu sua vida, em torno do Metrô. "Sempre morei perto de uma estação, de modo que uso o serviço diariamente", comenta. "E até minha mulher (Miriam) eu conheci na companhia." Atualmente, ele é consultor da Comissão de Monitoramento de Concessões e Permissões da empresa. Mas seu pai morreu sem jamais pisar em um trem do Metrô.
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