Setembro. Essa é a previsão do diretor-presidente da Trensurb, Humberto Kasper, para a publicação do edital de aquisição da nova frota de trens metropolitanos (trens unidade elétrica, TUE no jargão técnico). A proposta da empresa incluída no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) – Compras Governamentais prevê que a empresa vai adquirir no Brasil 60 novos carros, que irão compor 15 trens.
“Essa ampliação da frota faz parte da política do governo federal de injetar recursos na indústria brasileira, por isso a licitação será direcionada aos fabricantes nacionais de trens e exigirá um índice de 60% de nacionalização, quer dizer que 60% dos componentes utilizados nos vagões precisam ser fabricados no País”, explicou Kasper.
De acordo com as projeções divulgadas pela Trensurb, a compra das novas composições irá demandar a aplicação de R$ 220 milhões até 2015, mas a previsão é de que o primeiro dos novos veículos seja entregue em 18 meses após a assinatura do contrato com o vencedor da licitação – na estimativa de Kasper, esse prazo será alcançado no primeiro semestre de 2014, antes da realização da Copa do Mundo de Futebol.
A expectativa do gestor é assinar o contrato com o fabricante dos trens até outubro deste ano e, após o recebimento do primeiro veículo em 2014, dois trens devem ser entregues a cada mês. “Não existe trem pronto. Como toda a estrutura complexa, a fabricação de um trem envolve o projeto, a montagem da planta industrial específica para atender a essa encomenda e a compra dos componentes”, detalhou.
A Trensurb já determinou, no documento de especificação dos novos trens publicado no site da empresa, que os veículos tenham capacidade nominal para 270 passageiros, considerando a densidade de 20% das vagas para passageiros que viajam sentados e a possibilidade de transportar até seis passageiros em pé por m2. Segundo Kasper, a sensação de conforto de quem viaja será ampliada pela climatização dos vagões e pela distribuição interna dos bancos.
O executivo afirmou, ainda, que a empresa recebeu outros R$ 40 milhões, também de verbas do PAC, para a reforma da atual frota, que circula desde a instalação da empresa, na década de 1980. Os trens antigos serão remodelados para dar maior acessibilidade a usuários de cadeira de rodas e serão equipados com ar-condicionado e um novo sistema interno de comunicação.
Uma das exigências principais, na preparação para a publicação do edital de licitação, foi cumprida no início do mês, com a realização de uma audiência pública para debater a execução do investimento. Na audiência, ocorrida no dia 2 de agosto, na sede da empresa, em Porto Alegre, foram detalhados os critérios técnicos e administrativos que serão incluídos no edital.
A participação dos concorrentes está condicionada à experiência anterior na fabricação e no fornecimento de trens de aço inox no mercado nacional, e o edital também não permitirá a participação de consórcios – “uma forma de preservar a promoção do desenvolvimento nacional sustentável”, segundo a Trensurb, que considera a capacidade instalada da indústria nacional. O prazo para apresentação dos projetos será de cinco dias úteis a partir da publicação do edital.
Ampliação da linha deve atrair 30 mil novos usuário - O militar aposentado Juvêncio Silva de Mello, morador de São Leopoldo, dá graças a Deus por não precisar pegar o trem nos horários de pico. “O movimento já aumentou muito e, com a abertura das novas estações em Novo Hamburgo, vai aumentar mais ainda. De manhã cedo já não tem como conseguir lugar para sentar”, disse ele. A reclamação tem sido frequente entre os usuários do trem metropolitano, que neste ano inaugurou duas novas estações e até abril do próximo ano prevê a inclusão de mais três paradas no trajeto – que irá se estender de Porto Alegre até Novo Hamburgo.
Com isso, a Trensurb espera um incremento de 30 mil usuários por dia ao contingente de 180 mil passageiros que já usam o transporte ferroviário. A demanda será potencializada pela integração entre o trem metropolitano e os transportes coletivos municipais e intermunicipais do Vale do Sinos, que deixarão de vir até Porto Alegre por rodovia. Quem explica é o diretor-presidente da Trensurb, Humberto Kasper: “A estação Fenac, que entrará em operação no ano que vem, será uma estação importantíssima, tanto porque vai integrar com a Fenac, quanto porque vai ter integração com a rodoviária de Novo Hamburgo, que recebe os ônibus de toda a região.
O gestor explica que, assim, os municípios de fora da Região Metropolitana poderão deixar de enviar ônibus até a Capital. “É uma experiência que já tivemos com a Viação Montenegro, que optou pela integração e acertou com o Daer para não trazer a maioria dos ônibus até o Centro da Capital, já que a empresa não embarca mais ninguém ao longo da BR-116 (porque não tem autorização para isso na operação de atende Montenegro). Então ela integra com o trem na estação São Leopoldo e, com isso, houve redução de quilometragem para eles, o que levou à redução de custo e do congestionamento na BR-116. O usuário também se beneficiou, porque a empresa conseguiu reduzir a tarifa e a viagem até Porto Alegre ficou mais rápida.”
Kasper estima que, se bem aproveitado, o potencial da integração com a rodoviária de Novo Hamburgo pode levar a uma redução de tráfego importante na BR-116. Ele afirma que é possível direcionar para o trem, inclusive, os passageiros que vêm da Serra gaúcha para a Capital. Outro ponto de integração, desta vez com a rede de transporte coletivo municipal de Novo Hamburgo, será feito na estação terminal da expansão do Trensurb, a estação que vai levar o nome da cidade.
Nas palavras do aposentado Juvêncio Mello, até a entrada em operação dos novos trens, todas as estações ficarão como a Mathias Velho (uma das mais movimentadas da linha). A comerciante Clara Fornasier, que usa o trem diariamente para ir de Canoas a Sapucaia, faz eco: “todo mundo reclama muito”.
Reforma ampliará em 20 anos vida útil da frota atual - Os 25 trens japoneses, de quatro carros, que operam a linha da Trensurb desde a inauguração do serviço, em 1985, terão suas vidas-úteis ampliadas em pelo menos 20 anos com a reforma prevista pela empresa – que fará adequação dos veículos aos novos padrões de acessibilidade, climatização e comunicação interna. Isso porque, como explica Kasper, “a manutenção é boa e bem avaliada”. O gestor diz que, ao contrário dos boatos, os trens não são considerados velhos ou foram descartados como sucata em outros países. “É claro que os trens estão dotados de uma tecnologia do início dos anos 1980 e que de lá para cá houve muitos avanços. Mas em lugar nenhum do mundo se considera descartar um patrimônio como esse. O que se faz é o que faremos aqui, adequar os veículos aos padrões atuais e seguir usando eles por muitos anos ainda.”
Kasper lembra que, no sistema de transportes de Tóquio, existem trens muito mais antigos do que os de Porto Alegre e que os fabricantes japoneses têm nos serviços da Trensurb seu centro de referência para a América do Sul e África. “Nunca tivemos problema de falta de peças de reposição, nem precisamos fazer ‘canibalismo’ dos trens para dar manutenção. Pelo contrário, não só seguimos sendo abastecidos pelos fornecedores japoneses como viemos ao longo dos anos desenvolvendo uma rede de fornecedores brasileiros.”
Ele conta, ainda, que o sistema implantado no Estado é extremamente seguro. Sinais elétricos impedem que uma composição invada um trecho de linha ocupado por outra. Essa trava mecânica faz com que os trens passem, no máximo, a cada três minutos nas estações – o que em alguns horários é mal visto pelos usuários – mas é mais seguro, garante Kasper. “O intervalo mínimo era de quatro minutos. Conseguimos baixar um pouco, mas a preocupação sempre é com a segurança. Existem outros sistemas em uso em outros lugares, baseados em GPS, mas ainda não nos sentimos confortáveis para mudar. Os japoneses não abrem mão desse sistema antigo que temos aqui”, observou.
Expansão da linha foi prevista nos anos 1970 - A interligação do Vale do Sinos com Porto Alegre pelo trem metropolitano, que entrará em plena operação apenas no ano que vem, já estava planejada quando a Trensurb foi instalada. O projeto foi feito pelo Grupo Executivo de Integração da Política de Transportes (Geipot), nos anos 1970. “Essa é a terceira etapa”, explica o diretor-presidente da Trensurb, Humberto Kasper. Na etapa inicial do projeto, o trem ligava Porto Alegre a Sapucaia do Sul. Na primeira extensão, a linha foi ampliada até São Leopoldo e, agora, foram construídas cinco novas estações para que o trem chegue a Novo Hamburgo. São mais 9,3 quilômetros de trilhos. A licitação foi feita em 2001, mas, como explica Kasper, houve uma necessidade de “deslinde jurídico” para que a obra fosse iniciada.
Os trabalhos começaram em fevereiro de 2009 e estão quase concluídos. O último relatório da Trensurb mostra que mais de 90% das obras físicas estão prontas, inclusive com a inclusão da estação Industrial, que originalmente não seria feita. Entre 2008 e 2012, a ampliação recebeu R$ 866 milhões em investimentos. Além do trecho e das estações, a obra demandou a drenagem de um arroio (em Novo Hamburgo), a construção de rodovias alternativas na lateral da ferrovia para ligar São Leopoldo a Novo Hamburgo, e o reassentamento de 790 famílias. Com as obras e repasses complementares (que não fazem parte do orçamento da expansão em si), Kasper estima que até 2012 tenham sido movimentados R$ 930 milhões, com recursos provenientes do PAC 1 e do PAC 2.
Apesar de inicialmente o contrato prever a inauguração das novas estações somente no final da obra, a Trensurb acabou antecipando a entrada em funcionamento das estações Rio dos Sinos e Santo Afonso (4,3 quilômetros de trilhos) – o que permitiu os ajustes na operação que, na avaliação de Kasper, foram muito importantes. “Essa é uma das obras mais eficientes do PAC no País. Considerando as margens de erro normais, estamos executando 100% no prazo, que é de quatro anos para a conclusão”, comemorou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário