Holandeses exigem que
todos os trens do país sejam movidos por energia eólica até 2018; no Brasil, o
transporte sobre trilhos ainda não utiliza a tecnologia
Até 2018, todos os trens holandeses deverão ser movidos à energia
eólica. A exigência da adoção de energia limpa foi feita por 886 cidadãos que
entraram com ações contra o governo do país por não tomar medidas para evitar
um aumento de 2°C na temperatura média da superfície da Terra e contribuir com
o aquecimento global. Os holandeses exigiram também a adoção de medidas que
reduzissem as emissões de poluentes no ar. Atualmente, 50% dos trens holandeses
já são movidos pela energia gerada a partir da força dos ventos. Na Holanda,
cerca de 1,2 milhão de passageiros são transportados por via férrea a cada dia.
No Brasil, a energia eólica ainda não é utilizada no setor de
transporte. Segundo especialistas, há necessidade de investimentos em pesquisas
sobre o tema. A meta do governo holandês é adotar um corte das emissões de CO2
em, pelo menos, 25% nos próximos cinco anos.
“O Estado não deve se esconder atrás do argumento de que a solução para
o problema climático global não depende unicamente dos esforços holandeses.
Qualquer redução de emissões contribui para a prevenção da perigosa mudança
climática e, como uma nação desenvolvida nos Países Baixos, deve assumir a
liderança nesse processo”, declararam os juízes holandeses.
A energia eólica que será utilizada para alimentar os trens será
proveniente não só dos Países Baixos, mas também da Bélgica e dos países
escandinavos, que já demonstram interesse na produção da energia renovável.
O transporte urbano é responsável por 20% das emissões de CO2. Com todos
os trens holandeses movidos à energia eólica, a Holanda pretende não
sobrecarregar o meio ambiente com partículas poluentes. E o país conta com
grande potencial em desenvolvimento de energia eólica, pois se encontra em uma
região de fortes ventos.
Realidade brasileira
A energia eólica para geração elétrica completou dez anos de sua
implantação no Brasil. “Para a adoção de novas rotinas, precisamos sustentar
com pesquisa, de modo a desenvolvermos patentes nacionais e viabilizarmos
financeiramente a adoção de tais práticas. Ou seja, novas evoluções para novos
usos dependem de inovação tecnológica e pesquisa”, defende Acir Mércio
Loredo-Souza, diretor do LAC (Laboratório de Aerodinâmica das Construções) da
UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul).
Por sua vez, o diretor de Planejamento da ANPTrilhos (Associação Nacional dos Transportadores de
Passageiros sobre Trilhos), Conrado Grava de Souza, contesta essa
visão. Ele explica que o sistema elétrico de transmissão e distribuição de
energia no Brasil é um dos mais complexos do mundo, tendo em vista as dimensões
do país. “O sistema elétrico brasileiro é quase totalmente interligado, com
exceção de poucas regiões do Norte do país. A energia gerada é fornecida e
distribuída para os consumidores. A energia utilizada por uma determinada carga
pode estar sendo produzida por um gerador hidrelétrico do Norte do país, por
uma termoelétrica a carvão localizada no Sul ou por uma fonte eólica no
Nordeste. Não conseguimos precisar qual tipo de energia está sendo usado nos
meios de transporte”, explica.
A produção de energia eólica no Brasil ainda é pequena. Segundo a CCEE
(Câmara de Comercialização de Energia Elétrica), em 2015, apenas 5,1% das
fontes de geração elétrica no país eram eólicas.
No ano passado, a participação de hidrelétricas foi de 66%, de térmicas,
24%, e de pequenas hidrelétricas, 5%.
“No Brasil, não
conseguimos precisar qual tipo de energia está sendo usada no transporte”
CONRADO GRAVA DE SOUZA, DIRETOR DA ANPTRILHOS
CONRADO GRAVA DE SOUZA, DIRETOR DA ANPTRILHOS
Mas essa situação está mudando. Com avanços na tecnologia usada nas
usinas, que garantiram aumento da produtividade, o setor expandiu
substancialmente a capacidade instalada de produção. O número de usinas eólicas
instaladas no país passou de 196 para 332, entre 2014 e 2015. Com isso, o país
alcançou, no ano passado, a quarta posição entre os que mais instalaram
unidades eólicas no período, atrás de China, Estados Unidos e Alemanha. Mesmo
diante desse cenário, o país ainda tem muito a explorar. De acordo com estudos
da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), o Brasil tem potencial de 300
GW de geração eólica, o que corresponde a 2,2 vezes a matriz elétrica
brasileira. Segundo a EPE
(Empresa de Pesquisa Energética), a previsão para 2024 é que a produção alcance 11,6% da matriz elétrica brasileira. A ABEEólica (Associação Brasileira de Energia Eólica) é mais otimista. A associação estima que, em 2020, a fonte venha a representar 13% de toda a produção energética nacional.
(Empresa de Pesquisa Energética), a previsão para 2024 é que a produção alcance 11,6% da matriz elétrica brasileira. A ABEEólica (Associação Brasileira de Energia Eólica) é mais otimista. A associação estima que, em 2020, a fonte venha a representar 13% de toda a produção energética nacional.
A presidente-executiva da ABEEólica, Elbia Gannoum, explica que o Brasil
tem histórico de energia renovável e que continua produzindo energia limpa. “O
país começou a investir nesse tipo de energia apenas em 2010 e já é a quarta
fonte mais importante do mundo. A expectativa é de que o Brasil alcance o
segundo lugar até 2020”, comemora.
De acordo com o gerente do Departamento de Engenharia de Geração da
Eletrosul Centrais Elétricas S.A., Franklin Lago, os Países Baixos investem em
grande escala em energia eólica porque não dispõem da geração hídrica, como no
Brasil.
“Nesses países não há queda d’água. Por isso, eles exploram a energia
eólica, pois é a única fonte disponível. O Brasil não vai atingir altos índices
de produção de energia eólica em curto prazo porque nossa fonte é outra”,
explica.
Embora pareça nova, a energia eólica é usada há mais de 3.000 anos.
Antigamente ela era utilizada por meio dos moinhos, que serviam para bombear ou
drenar água, moer grãos e outras atividades que dependiam de força mecânica. Ao
longo do tempo, a força dos ventos passou a ser utilizada não só para gerar
força mecânica, mas também energia elétrica.
12/04/2016 – Revista CNT Transporte Atual – Março 2016
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