Diversão, conhecimento e histórias, do
início ao fim, nos trilhos de dois estados do Sudeste brasileiro. Dentro de 40
dias, deverá apitar pela primeira vez o turístico Trem Rio-Minas, numa
viagem-teste entre Cataguases na Zona da Mata, e Três Rios, no lado fluminense.
A expectativa é de que, no segundo semestre, o novo transporte comece a operar
em definitivo, adianta o presidente da organização não-governamental (ONG)
Amigos do Trem, Paulo Henrique do Nascimento: “Será o primeiro trem turístico
interestadual do país”, afirma o morador de Juiz de Fora, na Zona da Mata, que
se declara “um apaixonado pelo transporte ferroviário”.
Passando por estações de oito
municípios, a maioria em Minas, o trem percorrerá futuramente 160 quilômetros,
num trajeto de três horas, nos fins de semana e feriados. No roteiro,
Cataguases, Leopoldina, Recreio, Volta Grande e Além Paraíba, na Zona da Mata,
Sapucaia (RJ), Chiador (MG) e Três Rios (RJ) – enquanto uma composição fizer o
trecho Três Rios-Cataguases, a outra vai operar no sentido inverso, ambas com
partidas programadas para a parte da manhã e encontro no meio do caminho.
Trata-se do antigo ramal ferroviário Leopoldina e todos os 15 vagões, que
pertenceram à Vale para a rota Belo Horizonte-Vitória (ES), estão sendo
restaurados na oficina de trens em Recreio.
“Acreditamos que o Rio-Minas será
importante para fortalecer não só o turismo, mas também a cultura e o comércio
de maneira geral, gerando renda. Há muitos atrativos ao longo da ferrovia. No
entorno, vivem cerca de 900 mil pessoas”, afirma Paulo Henrique. Entusiasmado,
ele diz que os passageiros poderão ver os rios, a represa de Furnas, fazendas
centenárias, as próprias estações, que são um patrimônio histórico, e belas
paisagens”. E informou que a reforma das estações, sinalização e pintura de
faixas estão a cargo das prefeituras. Na viagem-teste, entrarão em cena duas
locomotivas e três vagões, sem passageiros.
EXPECTATIVA Um dos destaques do trajeto
é a estação ferroviária de Chiador, primeira do estado, inaugurada em 1869 pelo
imperador dom Pedro II (1825–891). O prédio, a 120 quilômetros do Rio de
Janeiro e 310 quilômetros de BH, se encontra em ruínas, e uma boa notícia é que
já há dois projetos para restauro. A obra será patrocinada por Furnas Centrais
Elétricas S.A. e participaram da reunião em que os projetos foram apresentados
representantes do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), do Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), da prefeitura local e outras
instituições.
“Estamos em grande expectativa em
relação ao novo trem, diz o gestor municipal de Chiador, José Laércio Priori.
Em função do novo transporte, que passará perto do lago de Furnas, a prefeitura
local está planejando a construção de quiosques e passeios ecológicos. “Ainda
não decidimos o tipo de embarcação, se será catamarã, chalana ou outra”,
explica. Enquanto a estação ferroviária não sai da degradação – o prazo de
reforma poderá ser superior a um ano –, os passageiros serão recebidos num
antigo laticínio, que será readequado e terá serviços, como lanchonete.
De Recreio, onde supervisiona a
recuperação dos vagões, com mais de 20 pessoas trabalhando, Paulo Henrique
conta que o investimento no projeto deve chegar a R$ 1 milhão, totalmente
privado, contando com apoio da Ferrovia Centro-Atlântica, que cedeu o trecho
ferroviário, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT),
com a oferta de locomotivas e equipamentos, e o Sebrae Minas, responsável por
um plano de negócios para a região. Os vagões foram adquiridos da Vale, no valor
de R$ 603 mil, pelo grupo de supermercados Bramil, de Três Rios, que fez a
doação para a ONG Amigos do Trem.
Na viagem de ida e volta, as
composições poderão transportar 858 passageiros, que terão à disposição
vagão-restaurante, lanchonete, um para eventos e acessibilidade para
deficientes. Os vagões que operavam no trecho BH-Vitória, pela Vale, foram
usados até 2015. “Fabricados na Romênia, tinham a África como destino certo,
mas acabaram sendo adquiridos especificamente para o nosso trajeto”, conta Paulo
Henrique. Com a recuperação em andamento, a equipe da Trem de Minas está em
busca de parceiros interessados em divulgar no trem, por meio de anúncios
plotados.
Os contatos poderão ser via página no
Facebook ou pelo telefone (032) 99961-1463.EMPREGOS Sobre o ineditismo
turístico da iniciativa em escala interestadual, Paulo Henrique esclarece que o
trem da Vale, que faz o trajeto BH-Vitória, não se enquadra nessa categoria,
por ser regular de passageiros, e outros, a exemplo da linha Curitiba-Morretes,
trafegam apenas 70 quilômetros no território paranaense.
Com o início das operações do Trem
Rio-Minas, deverão ser gerados em torno de 500 empregos diretos e indiretos. O
presidente da Amigos do Trem destaca os entendimentos com empresas de turismo
para a criação de futuros pacotes de viagens. A médio prazo, existe a
possibilidade de o Trem Rio-Minas ganhar um novo ramal. “Com cerca de 40
quilômetros, o futuro trecho teria, inicialmente, três estações: Santo Antônio
de Pádua (RJ) e Palma e Recreio, em Minas. É o ramal que, antigamente, chegava
até Campos dos Goytacazes”, conclui.
Memória
Luta por estação
Em 26 de outubro de 2012, o Estado de
Minas mostrou a luta dos moradores de Chiador, na Zona da Mata, para recuperar
a estação ferroviária. Estava na memória de muitos o trem de passageiros que
não apitava havia décadas, o movimento na plataforma de embarque e, diante dos
olhos, o prédio escorado (foto abaixo). Como esperança, eles se apoiavam na
ação ajuizada pelo Ministério Público (MPMG) para restauração do prédio. Agora,
caberá à estatal Furnas Centrais Elétricas S.A. pôr a construção de novo nos
trilhos para que essa parte da história não se perca.
27/03/2018 – Estado
de Minas
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