08/11/2021 Diário do Nordeste Notícias da Imprensa
Legenda: Atropelamentos são segundo tipo de
acidente mais frequente envolvendo VLTs no Ceará Foto: Natinho Rodrigues
Diário
do Nordeste – A expansão gradual do número de linhas e viagens realizadas
pelos Veículos Leves sobre Trilhos (VLTs) no Ceará aumenta, por efeito, os
pontos das cidades expostos a acidentes: em seis anos, foram 249 colisões,
atropelamentos e outras ocorrências. Os dados são da Companhia Cearense de
Transportes Metropolitanos (Metrofor).
O VLT de Sobral, que
realiza 84 viagens por dia, lidera em número de acidentes: foram 110 registros
entre 2016 e 2021. Uma das razões, como aponta o Metrofor, é o fato de a linha
ter 29 passagens de nível (PNs), os cruzamentos entre a via férrea, ruas e
avenidas. É o maior número entre todas as operadas pela companhia.
Em seguida, a Linha
Oeste do metrô de Fortaleza concentra mais acidentes, com 54 registros no
período; mais que o dobro do VLT do Cariri, que se envolveu em 25 ocorrências.
O VLT Parangaba-Mucuripe, inaugurado em 2017, soma 12 registros.
Em 2021, as
colisões/abalroamentos corresponderam a 79% das ocorrências, seguidas pelos
atropelamentos, com 9%, conforme o Metrofor. “As outras ocorrências são 12% do
total, como vandalismo e problemas operacionais”, pontua a companhia.
No último dia 18 de
outubro, um carro foi arrastado por um VLT, no bairro Quintino Cunha, em
Fortaleza, deixando três pessoas feridas. Testemunhas afirmaram que não havia
sinalização nem sinal sonoro no local, informação negada pelo Metrofor.
Um mês antes, um
ciclista havia sido atropelado por um VLT da linha Parangaba-Mucuripe, no
bairro São João do Tauape, na Capital. Ele ficou preso embaixo do vagão. O
Metrofor informou, à ocasião, que o homem “ignorou a sinalização e invadiu a
passagem de nível”.
SINALIZAÇÃO DEVE SER
REFORÇADA
Uma das queixas mais constantes de condutores após acidentes com trens é sobre
a sinalização das vias, que não deve ser apenas visual – com instalação de
cancelas, placas e símbolos no asfalto –, mas também sonora.
De acordo com o
Metrofor, todos os cruzamentos de vias férreas com ruas e avenidas do Ceará
contam com esses recursos, incluindo a “cruz de Santo André” e as inscrições
“pare, olhe e escute”; mantidos periodicamente “para garantir o funcionamento
correto”.
“Praticamente na
totalidade dos casos de abalroamento (quando carros invadem a via férrea),
havia sinalização operante, visualizada pelas câmeras de monitoramento. Por
isso, destacamos o papel fundamental dos motoristas para se evitar colisões com
trens.” METROFOR Em nota
Entre as condutas
proibidas aos motoristas pelo Código de Trânsito Brasileiro (CTB) está “deixar
de parar o veículo antes de transpor linha férrea”. A infração à determinação,
que consta no artigo 212, é gravíssima, com multa de R$ 293,47 mais 7 pontos na
carteira de habilitação.
Segundo o Metrofor,
todas as ocorrências estão sendo monitoradas, e servirão como base para um
estudo dos pontos em que os acidentes são mais recorrentes. A ideia é
desenvolver e adotar estratégias para minimizar os riscos, aponta a companhia.
VIADUTOS: SOLUÇÕES
MUITO CARAS
Cruzamentos entre
vias férreas e rodoviárias “não são como outro qualquer”, e exigem um nível
muito maior de cuidado por parte dos condutores, como salienta Mário Azevedo,
professor do Departamento de Engenharia de Transportes da Universidade Federal
do Ceará (UFC).
O especialista pontua
que “é preciso diminuir bastante o número de passagens de nível no ambiente
urbano”, e que as possíveis soluções para isso incluem o fechamento total das
vias e a construção de viadutos – a primeira “radical”, a segunda “muito cara”.
Mário recobra que
parte dos VLTs é construída “aproveitando uma linha de trens de carga”, em
locais da cidade “que talvez antigamente não tinham tanto movimento”, mas hoje
têm um novo perfil de ocupação do solo.
“O que temos que
fazer para diminuir os acidentes é eliminar a possibilidade de conflito ou,
caso não seja possível, reforçar a sinalização. Reforçar também a comunicação
com os motoristas e a população: o ferroviário é um veículo diferente, não se
pode brincar de enfrentar um trem”, alerta o professor.
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