A percepção da população em São Paulo, quanto à qualidade dos serviços de ônibus, não é satisfatória, principalmente quando se compara o Metrô – rápido e confortável – ao ônibus – lento e extenuante. Pesquisas feitas pela ANTP para avaliar o desempenho do Transporte Público na Região Metropolitana atribuem notas ruins aos serviços de ônibus, à exceção do Expresso Tiradentes, que recebe as melhores notas de todo o sistema metropolitano. Até aí, não há nenhuma surpresa na faiscante pesquisa que mostra o óbvio, cada vez em que ela é processada.
O Expresso Tiradentes é bem avaliado porque oferece conforto e opera com velocidade média em torno de 36 km/h – superior à média de 26 km/h do Metrô –, enquanto as velocidades médias, na hora de pico dos demais corredores de ônibus, estão em torno de 13 km/h. E para agravar este quadro, em que as baixas velocidades conferem pouca capacidade para as linhas de ônibus, os horários de pico (manhã e tarde) estão dilatados de 3 a 5 horas, implicando em desconforto para os usuários.
Mas a história não acaba aí – a quantidade de passageiros que usa por dia a rede de corredores de ônibus se equivale à de toda a rede ferroviária do município, sendo que os corredores de ônibus transportam, cada um, de 250 mil a 600 mil passageiros por dia, quantidades comparáveis às dos metrôs mundo afora. Como os corredores de ônibus desempenham um papel semelhante ao da rede ferroviária, na função de transporte de média capacidade, para transformação dessa realidade é solução imperativa a ampliação das redes de metrô e dos corredores de ônibus.
É evidente que a ampliação das duas redes aumentaria a oferta de transporte público e aliviaria a sobrecarga do sistema viário, onde os congestionamentos do trânsito estão levando os paulistanos à loucura, afora o custo do desperdício que alcança o valor de 30 a 40 bilhões de reais. Entretanto, estamos falando de uma transformação da cidade que depende de vários níveis de governo além de muito investimento. Além disso, a primeira solução - ampliação da nossa rede de metrô - não atende já às nossas necessidades. Não podemos descartá-la, evidente, pois é a que mais satisfaz à população. Mas também não podemos centrar aí as nossas expectativas, diante da sua achatada velocidade de execução. A segunda solução – ampliação da atual rede de corredores de ônibus - é uma ação mais palpável e já comprovada por prazos de execução, tanto em nível metropolitano, quanto municipal. Porém, não dá para ficar apenas à espera dos novos corredores que virão num prazo de 2 a 3 anos.
A cidade precisa de melhorias urgentes que poderão vir através de ações de efeito imediato, através do aumento da produtividade dos corredores de ônibus. São medidas de amplo conhecimento dos nossos planejadores de transporte, implantadas em outras cidades e que compreendem ações que envolvem: operação, gestão das linhas, tarifação e pequenas obras. Foram realizadas algumas investidas neste sentido, todavia os resultados foram pequenos ganhos de velocidade e que se perderam em pouco tempo.
A questão parece simples, mas é menos óbvia e mais complexa do que parece. Os obstáculos não se restringem às dificuldades técnicas das ações propriamente ditas, mas envolvem interesses, assim como conceitos arraigados no setor dos transportes e que exigem mudanças de paradigmas e de atitude de quem irá implantá-las.
Estamos falando da necessidade de superar obstáculos de origem cultural, refletidos nas práticas operacionais dos transportes. Vejamos alguns fatos:
- É incompreensível que em quatro corredores de ônibus de São Paulo foram executadas faixas de ultrapassagem para ônibus pela Prefeitura, inclusive com pavimento de concreto, e que estão sendo usadas pelo tráfego geral em prejuízo dos ônibus;
- também difícil de compreender a falta de programação do equipamento semafórico da cidade para permitir prioridade ao corredor de ônibus, bem como para o controle operacional de faixas de ultrapassagem de ônibus, onde elas não existem fisicamente;
- ainda, é imprescindível, como ação, a racionalização das linhas estruturais e a criação de linhas semi-expressas e expressas, de acordo com a demanda. Faltam em todos os corredores pequenas obras. Há necessidade de serem feitas correções de alinhamento, ajustes de plataformas de embarque e viadutos exclusivos para tráfego de ônibus nas interseções críticas.
Estes exemplos foram citados para lembrar que a implantação das ações encontram reações tanto de setores internos quanto externos à administração. Muitas tentativas, já implantadas com vistas ao aumento da velocidade dos ônibus não surtiram grandes efeitos, pois foram muito influenciadas por operações de trânsito, enfocadas na fluidez do tráfego de automóveis.
Parece elementar, mas cabe ser lembrado que todos os envolvidos com a implantação das ações para aumento da produtividade dos corredores de ônibus precisam estar comprometidos com a diretriz da lei de Mobilidade Urbana: Transporte público coletivo tem prioridade sobre o transporte individual motorizado.
A implantação dessas ações imediatas não será uma tarefa simples, tampouco insuperável. Trata-se de um desafio com vantagens evidentes para a população. Como subproduto dessa ação de envergadura social, o aumento da produtividade dos corredores de ônibus poderá resultar em redução do número de veículos em operação e, consequentemente, do custo do sistema como um todo. Cabe à administração pública esclarecer a população, definir as ações imediatas, limpar o terreno e assumir o desafio de implantar a modernização do sistema. Que já tarda!
Ivan Metran Whately - Consultor de Planejamento de Transporte; Coordenador da Divisão de Transporte Metropolitano do Instituto de
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