Dados levantados pela TV Globo mostram linhas 3-Vermelha do Metrô e
11-Coral da CPTM como líderes em ocorrências.
Por André Graça e Tahiane Stochero, TV
Globo e G1 SP
17/04/2017 06h41 Atualizado há 50 minutos
Trem descarrila e para linha 12 da CPTM
(Foto: Reprodução/TV Globo)
Os usuários da
Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) e do Metrô de São Paulo
enfrentaram um problema que levou à interrupção momentânea do serviço de
transporte público a cada 23 horas e 34 minutos no ano de 2016, segundo
levantamento realizado diariamente pela TV Globo com base em relatos divulgados
pelos usuários em redes sociais e confirmados pelas empresas.
Relatório da CPTM mostra problemas
diários em linhas em 2017; CPTM disse que foram apenas 13 ocorrências notáveis
em 2016 (Foto: Reprodução/G1)
No total, foram
212 problemas que levaram à paralisação temporária no serviço nas seis linhas
do Metrô em 2016 e mais 143 nos trens da CPTM, conforme dados da TV Globo. Os
dados incluem problemas nos trens de diversos tipos, incluindo falhas nos trens
(incluindo portas, tração, comunicação interna e freio), no sistema de comando
e controle, de equipamento na via ou da via, manutenção e alimentação elétrica.
No caso de fechamento de portas, pode eventualmente ter havido algum problema
cuja responsabilidade seja do usuário (como bolsas presas ou impedimento de
fechamento para que pessoas pudessem entrar no vagão).
Juntos, os
trens de ambos os serviços transportam nos dias úteis 7,4 milhões de
passageiros. Nos últimos 5 anos, foram 1.185 problemas nos trens do Metrô e
mais 1.089 nos da CPTM: média de 1,25 problema por dia.
A reportagem do G1 pediu os mesmos números de ocorrências por meio
da Lei de Acesso à Informação. No Metrô, houve 91 ocorrências que prejudicaram
os usuários levando à suspensão momentânea do serviço em 2016; já na CPTM,
foram 13 ocorrências que “levaram à interrupção do serviço, nem que seja
momentânea". No total, conforme os dados oficiais, o Metrô e a CPTM
tiveram juntas um problema a cada 118 horas (quase 5 dias).
Desembarque da linha Verde do Metrô na
estação Consolação: em vários horários há superlotação e problemas em portas
dos trens (Foto: Tahiane Stochero/G1)
A assessoria de
imprensa da CPTM não quis analisar os dados do levantamento da Globo e o
aumento do número de problemas. Em nota, afirmou que não é correto comparar as
ocorrências notáveis de vulto com ocorrências pontuais. Questionada pela
reportagem sobre se poderia enviar os dados das ocorrências pontuais, a CPTM
disse que não possuía estas informações e que são as ocorrências notáveis,
enviadas ao G1 por meio da Lei de Acesso à
Informação.
Mas a
reportagem teve acesso a relatórios de ocorrências operacionais que mostram
que, em média, há cinco ocorrências de falhas por dia de diversos tipos,
gerando atrasos e recolhimento de trens para oficina ou acionamento de técnicos
de manutenção ou verificação de trilhos.
Questionado
sobre os problemas e as reclamações dos usuários, o governador do Estado,
Geraldo Alckmin, afirmou no dia 30 de março ao G1 que
"a demanda de usuários das linhas aumentou muito, muito, nos últimos anos
e que o governo está trabalhando para aumentar a malha do Metrô - a da CPTM
aumentou", jusficiou ele. Segundo Alckmin, "estão sendo feitos
investimentos e obras em diversas linhas" , entre elas 17-Ouro, 4-Amarela,
"e até o final de 2017 ao mesmo pelo menos mais quatro estações da Linha
5- Lilás, que já estão prontas, serão entregues à população".
Já o Metrô
afirmou que todos os sistemas de metrô no mundo estão sujeitos a falhas e que a
quantidade de incidentes é compatível aos padrões internacionais de qualidade.
(veja as notas das empresas ao final desta reportagem).
(Foto: Arte G1)
Linha 3-Vermelha
Os dados do
Metrô apontam que a linha 3- Vermelha (que liga Corinthians-Itaquera à
Palmeiras-Barra Funda) é a que mais teve problemas que paralisaram o serviço
dentre as linhas do Metrô em 2016: foram 32 ocorrências - aumento de 52% em
relação a 2015. Nos últimos 5 anos, a linha também é a que mais acumula
problemas. O levantamento da TV Globo também aponta a Vermelha na liderança do
ranking de problemas em 2016 (75 casos dentre o total de 212 incidentes), sendo
seguidas pelas linhas 1- Azul (73 problemas) e 2-Verde (55 problemas).
Com 18 estações
e atendendo em média 1,176 milhão de passageiros por dia, a Linha 3- Vermelha
também lidera, nas redes sociais, as reclamações dos usuários em relação à
superlotação e lentidão dos vagões. Foi nesta linha que um trem descarrilou em fevereiro, entre as estações Arthur Alvim e
Itaquera, na Zona Leste de São Paulo, derrubando grades e
uma mureta.
Após o incidente,
o Ministério Público reabriu um inquérito que havia sido aberto em 2013, após
outro trem da mesma linha ter saído dos trilhos na Zona Oeste de São Paulo. A
Promotoria do Patrimônio Público e Social pediu explicações ao governo sobre os
motivos das ocorrências e a manutenção da linha e da frota.
Trem descarrilou na Zona Leste de São
Paulo em fevereiro (Foto: Reprodução/TV Globo)
Segundo Alex
Santana, diretor do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Transportes
Metroviários e Empresas Operadoras de Veículos sobre Trilhos em São Paulo, a
linha Vermelha é problemática por ser a com maior demanda de usuários,
sobrecarregando todo o sistema. “É também nesta linha que circulam trens da
frota K, chamada de frota bomba. São 25 trens que foram reformados
superficialmente entre 2009 e 2011 e são recordistas em problemas, com falhas
que se repetem pelos mais diversos motivos. Foi como uma maquiagem que deixou
mais bonita por fora, mas o equipamento continua com problemas”, afirma Santana.
O diretor do
sindicato dos metroviários afirma a diferença entre os números oficiais e os
relatos dos usuários de problemas ocorreu porque a CPTM contabiliza como
ocorrência de destaque (chamada de “incidente notável") problemas que
geram atrasos ou interrupções de mais de 5 minutos e que são analisadas pela
Comissão Permanente de Segurança (Copese) da Secretaria de Transportes
Metropolitanos do Estado.
"Temos
informações de que só de incidentes que geraram relatórios da Copese foram 76
no Metrô e 140 ocorrências no total. Eles apresentam à imprensa um número que
trata apenas de trens ou vias, mas sem considerar outros tipos de falhas, como
de equipamentos, portas, estações, etc”, afirma Santana.
Os números
oficiais apontam aumento de ocorrências na Linha 2- Verde em relação a 2015
(21%, conforme os dados do Metrô, e 3%, conforme a TV Globo). Percorrendo toda
a Avenida Paulista, na região Central da capital, e ligando a Vila Prudente, na
Zona Sul, à Vila Madalena, na Zona Oeste, a linha atende em média, diariamente,
518 mil pessoas.
Trem da linha 9-Esmeralda tem problema
em portas, que não fecham por superlotação na estação Pinheiros e atrasam
percurso (Foto: Tahiane Stochero/G1)
Falhas
em trens
76% dos
problemas registrados nos trens do Metrô em 2016 trataram-se de falhas em trens
(englobando problemas de trens, portas, freios, tração e sistema de comunicação
interna), com preponderância de incidentes nas linhas Azul (37,5% do total) e
Vermelha (33,75%), conforme os dados da TV Globo.
Problemas em
equipamentos da via estão logo atrás no ranking (16,5% dos incidentes), seguido
das falhas no sistema de energia (2%). Houve ainda em 2016 um trem descarrilhado na linha 5-Lilás, que está em obras e
pretende ligar Capão Redondo à estação Adolfo
Pinheiro, em Santo Amaro, ambas na Zona Sul.
Em relação aos
incidentes constatados nos trens na CPTM em 2016, grande parte (44,75%) deve-se
a falhas em trens, falhas em equipamentos na via (17,5%) e falhas no sistema
elétrico (5%).
A Linha
11-Coral, que liga a Luz, no Centro da capital paulista, à estação Estudantes,
em Mogi das Cruzes, na Região Metropolitana, foi a que mais teve problemas (33%
de incidentes nos trens), sendo seguida pela Linha 7-Rubi (30%), que liga
Jundiaí à estação Luz, passando pela Grande São Paulo e por bairros da região
Norte da capital paulista.
Metrô CPTM (Foto: Arte G1)
Para sindicato, é
falta de manutenção
Para o diretor
do Sindicato dos Trabalhadores da Central do Brasil, que representa os
funcionários da Linha 11-Coral, Leonildo Bittencourt Canabrava, o fator que
prepondera como causa de problemas na linha, recordista de reclamações, é a
manutenção, tanto nos trens quanto nas vias férreas e aéreas. Conforme
Canabrava, são feitos apenas reparos de emergência e paliativos, e não
preventivos, o que impediriam as falhas.
“A CPTM vem
trocando a frota, com exceção da linha 11, que ainda tem trens velhos sendo
usados intercaladamente. Mas, muitas vezes se libera o trem com manutenção
falha na parte eletrônica ou nas portas. Se a porta não fecha, atrasa tudo e o
trem não anda, atrasando todo o sistema e causando um transtorno enorme”,
defende.
Canabrava
lembra que as vias férreas do Estado foram construídas há mais de 30 anos,
voltadas para o transporte de cargas, “e não foram projetadas para o transporte
de passageiros” e nem adaptadas. “No Metrô, os trens foram construídos com base
fixa, nada mexe. Nos da CPTM, há pedra, madeira e depois os trilhos, que, com
chuva ou mudança do tempo, eles cedem ou acabam se deteriorando, gerando em
alguns pontos restrições e eventualmente, rompimentos. Aí o maquinista acaba
reduzindo a velocidade nestes pontos para evitar danos maiores”, afirma.
Para que as
pessoas não sejam tão prejudicadas e não cheguem tão atrasados aos compromissos
pelos problemas nos trens, jovens se mobilizaram e criaram perfis nas redes
sociais para informar, em tempo real, o que acontece. O administrador de
condomínio e fotógrafo William Moreira, de 27 anos, controla um destes perfis,
o @DiariodaCPTM, que tem mais de 135 mil seguidores.
“Temos vários
colaboradores que utilizam várias linhas. Em janeiro, por exemplo, teve uma
falha na linha 8 por conta de um apagão. Um usuário postou uma foto deles no
escuro dentro do trem apagado, esperando. Soubemos na hora coisas que a CPTM
leva depois uns 20 minutos para confirmar”, salienta.
O grupo que
controla o perfil compreende homens e mulheres com idades entre 19 e 30 anos.
“Foi uma ação voluntária, acabamos nos conhecendo por compartilharmos sempre o
mesmo trem, ou a mesma linha, e resolvemos nos unir nesta causa para ajudar os
outros”, explica.
Usuários monitoram problemas nas linhas
da CPTM diariamente pelo Twitter (Foto: Twitter/reprodução)
Veja
a íntegra da nota da CPTM:
“A CPTM transporta cerca de 2,7 milhões de usuários por dia útil,
em 2.750 viagens programadas diariamente nas seis linhas. Em 2016, foram
registradas 13 ocorrências notáveis motivadas por falhas técnicas.
As ocorrências
notáveis são caracterizadas pela interrupção da circulação dos trens em algum
trecho da linha, podendo ter acionamento de PAESE (ônibus gratuitos).
Não é correto
comparar as ocorrências notáveis, que causam grande impacto na circulação, com
diversas ocorrências pontuais às quais a ferrovia está sujeita durante a
operação. Como por exemplo, problemas de fechamento de portas comuns nos
horários de pico, oscilação de energia, necessidade de redução de velocidade em
trechos em manutenção ou devido às chuvas, entre outros. Todas as ocorrências
são informadas aos usuários por meio de avisos sonoros e do aplicativo. A CPTM
não comenta balanços de ocorrências da empresa realizados por terceiros.
A CPTM está
trabalhando para modernizar sua rede. A Companhia já entregou à operação 115
novos trens e outros 55 serão entregues até o fim de 2018.”
Veja
a íntegra da nota do Metrô:
“Todos os sistemas
de metrô do mundo estão sujeitos a falhas e elas são proporcionais ao número de
viagens realizadas. No Metrô de São Paulo, onde 4 milhões de passageiros são
transportados e 3.500 viagens são feitas com 60 mil quilômetros percorridos por
dia, a quantidade de incidentes notáveis se mantém nos padrões internacionais
de qualidade e segurança.
Em 2016, os trens
do metrô fizeram 80 mil viagens a mais do que em 2012, chegando a 1,14 milhão
de viagens realizadas. Também foram percorridos 430 mil quilômetros a mais, se
comparado a 2012.
E mesmo assim, o
número de ocorrências notáveis – critério internacional de metrôs para
incidentes que afetam a circulação dos trens em algum trecho ou linha por mais
de 5 minutos além do intervalo programado – se mantém dentro dos padrões
internacionais de qualidade e segurança.
Foram 82
ocorrências do tipo em 2016, o que equivale a 4,3 incidentes por milhão de km
percorridos. Os incidentes são inerentes ao modelo do trem e têm relação com a
quilometragem percorrida, assim como em qualquer outro sistema de metrô do
mundo. Todas as frotas de trens do Metrô apresentam desempenho operacional
semelhante.
Esses números
mostram que o Metrô de São Paulo é um sistema de transporte regular, confiável
e seguro, considerado internacionalmente como um dos dez melhores do mundo.”
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