16/02/2018Notícias do Setor
Depois de um 2016 influenciado positivamente pelos Jogos
Olímpicos, o Metrô Rio amargou no ano passado os efeitos da alta no desemprego
e do recrudescimento da violência na cidade. Somente no primeiro semestre de
2017, último dado divulgado pela concessionária do grupo Invepar, o total de
viagens pagas encolheu 17,6%, na comparação com o mesmo período do ano
anterior. No cargo desde dezembro de 2016, o presidente da empresa, Guilherme
Ramalho, de 36 anos, encara outros meios de transporte – vans, táxis e até
bicicletas – como parceiros na estratégia de aumentar a capilaridade do serviço
oferecido pela concessionária.
“Buscamos muito a solução da primeira e da última milha”,
justifica Ramalho, referindo-se à distância entre a residência dos usuários e
as estações. “Estamos abertos a fazer parcerias com táxi, ônibus, van,
bicicleta, o que for”. A estratégia de parcerias ganhou força a partir do ano
passado, através de acordos fechados com uma locadora de veículos (para diárias
gratuitas), cooperativas de vans (para atender moradores das comunidades da
Rocinha e do Vidigal) e, mais recentemente, com um empresa de transporte que
utiliza táxis e carros de passeio.
No Carnaval deste ano, a concessionária pôs à venda um
cartão que dava direito a quatro viagens de metrô por dia, por cinco dias
consecutivos, além de descontos para utilizar num serviço de transporte com
carro particular. Um próximo passo natural, cogita Ramalho, seria uma parceria
com uma locadora de bicicletas. “O Rio é uma cidade com políticas públicas
muito voltadas para o automóvel”, diz o presidente do Metrô Rio. “Acreditamos
que há muito potencial. O Rio é um município com seis, sete milhões de
habitantes, com uma região metropolitana de mais de dez milhões de habitantes,
muito adensado.”
Mesmo com três linhas e 41 estações, o metrô carioca ainda
tem uma capilaridade restrita, quando comparado – por exemplo – ao de outras
capitais sul-americanas com menos habitantes. Transporta uma média de 860 mil
passageiros por dia útil, quase três vezes menos quando comparado com o metrô
de Santiago. E 40% menos do que a média diária de usuários registrada em 2016
pelo de Buenos Aires, inaugurado em 1913.
Os investimentos em infraestrutura de transportes feitos
para a Olimpíada de 2016 somados ao fluxo de turistas atraído pelo evento
esportivo fez a média diária de passageiros ultrapassar um milhão de pessoas.
Com isso, o número de passageiros transportados naquele ano cresceu 3,1% frente
a 2015, atingindo 240,9 milhões. Considerando apenas o total de passageiros
pagantes, a expansão no período foi de 2,7%.
O cenário mudou no ano passado principalmente devido ao
desemprego, explica Ramalho. Dados ajustados do Cadastro Geral de Empregados e
Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego, indicam que a
cidade do Rio perdeu, em 2017, 55.527 postos de trabalho, enquanto no conjunto
dos municípios brasileiros (incluindo a capital fluminense) a diminuição foi de
20.832 vagas. Ou seja: o saldo nacional seria positivo não fosse o resultado do
Rio de Janeiro.
Outro ponto que influenciou negativamente o fluxo de
passageiros no Metrô Rio em 2017, ainda que de maneira indireta, foi a
deterioração dos indicadores de segurança pública, esclarece Ramalho. No ano
passado, foram registradas 6.731 mortes violentas – uma média de 40 para cada
100 mil habitantes, conforme indicam informações levantadas pelo Instituto de
Segurança Pública (ISP). A taxa é a mais alta dos últimos oito anos.
“Andamos um pouco que na contramão da cidade. Tivemos em
2017 o nosso melhor ano de segurança”, afirma o executivo. “Tivemos 23 casos de
roubo ou furto no metrô ao longo de todo ano de 2017, em mais de 245 milhões de
viagens realizadas”, diz. Apesar do número relativamente baixo de incidentes,
Ramalho explica que o aumento da violência nas ruas acaba por reduzir o volume
de pessoas circulando pela cidade.
Embora as receitas não tarifárias ainda sejam pouco
relevantes, a concessionária vem tentando ampliar a gama de serviços oferecidos
dentro das estações por terceiros. No ano passado, fechou contrato com a
Starbucks para a instalação da primeira operação da rede americana numa estação
de metrô brasileira. O mix de lojas inclui também lavanderia, academia e
serviços de estética, num total de 7.490 metros quadrados de área bruta
locável. Desse total, 83% estavam ocupados em setembro. Ao todo, as receitas
oriundas de locação e publicidade somaram R$ 25,9 milhões nos nove primeiros
meses do ano passado, o equivalente a pouco mais de 4% da receita líquida no
período.
16/02/2018 – Valor Econômico
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