Autor(es): Por Tom Cardoso | Para o Valor, de São Paulo
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Valor Econômico - 24/06/2013
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A cidade de Curitiba (PR) virou referência mundial em transporte público, ao adotar, a partir de 1974, na gestão do então prefeito, o arquiteto Jaime Lerner, os chamados BRTs (Bus Rapid Transit), um sistema de canaletas para ônibus com a eficiência e rapidez do metrô, com custos e necessidades logísticas muito menores. Cidades como Rio de Janeiro, Istambul, Bogotá, Seul e Cidade do México adotaram, com sucesso, o modelo criado por Lerner. Atualmente, 156 cidades utilizam o sistema, mas, por ironia, a capital paranaense assiste, nos últimos anos, aos primeiros sinais de esgotamento do modelo.
O aumento da lentidão e a superlotação dos coletivos resultaram na queda no volume de usuários dos ônibus e sua consequente migração para o uso do automóvel (hoje, a cidade registra um carro para cada 1,4 habitante). O sistema não conseguiu absorver a escalada do crescimento urbano - Curitiba conta atualmente com cerca de três milhões de habitantes na região metropolitana. O número de passageiros pagantes, porém - cerca de 320 milhões por ano, segundo dados da Empresa de Urbanização de Curitiba, que gerencia o serviço -, é praticamente o mesmo de dez anos atrás.
Estagnação que fez com autoridades locais, com o apoio da maioria da população, se mobilizassem para buscar recursos com o governo federal para a construção do primeiro trecho do metrô, de 14,2 quilômetros, que prevê linhas subterrâneas e elevadas para trens no mesmo trajeto por onde circulam os BRTs - a inauguração está prevista para 2016.
A medida divide os urbanistas. Para alguns, o BRT só se mostra eficiente em cidades de médio porte, como era a própria Curitiba em meados dos anos 70, e usam como exemplo sua recente implantação na cidade do Rio de Janeiro, que vai melhorar o transporte para quem usa ônibus nos corredores, mas não a acessibilidade nos entornos, onde se concentra a maior parte dos passageiros.
Os que defendem o BRT, citam os casos de cidades como Seul e Bogotá, onde o veículo foi implantado com sucesso e até hoje não deu sinais de esgotamento. "O sistema do BRT é bom, a forma atual de gerenciá-lo é que não é", afirma Jaime Lerner, afastado da vida pública desde 2003 e hoje à frente do instituto que leva o seu nome e da Jaime Lerner Arquitetos.
Segundo Lerner, quando o modelo começou a apresentar problemas, não se procurou investir mais na modernização do BRT e sim adequar a cidade à realidade dos carros.
Para Paulo Resende, coordenador do Núcleo de Infraestrutura e Logística da Fundação Dom Cabral, a descontinuidade administrativa, que impediu que houvesse uma mudança periódica no modelo do BRT, foi a grande responsável pela capital paranaense perder a vanguarda. "Curitiba cada vez mais se aproxima de um passado bonito e um futuro caótico."
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O blog objetiva difundir artigos e trabalhos sobre Planejamento de Transporte de Passageiros Urbanos, de modo a permitir a discussão e a troca de experiências entre técnicos sobre os diversos temas envolvidos com o assunto.
quinta-feira, 18 de julho de 2013
Curitiba vive o esgotamento de um modelo
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