Especialista faz parte de um conselho criado por moradores do bairro
No último domingo (11), uma cratera se abriu na Rua Barão da Torre, em Ipanema, devido a obras do consórcio Metro Linha 4. O coordenador municipal da Defesa Civil, Márcio Motta, garantiu que não há riscos para as edificações localizadas nas redondezas e declarou que, a princípio, as causas apontam para uma falha geológica. Para o engenheiro civil e de segurança do trabalho, Fernando Azevedo, isso é uma mentira. Fernando integra um grupo de moradores de Ipanema que formam o Projeto Segurança de Ipanema (PSI). Desde o começo das obras, o grupo vem tentando diálogo com a prefeitura, mas diz que suas ideias não são ouvidas. Eles montaram um comitê com especialistas, como geólogos, advogados e engenheiros para dar melhores alternativas para a construção da Linha 4 no bairro, mas suas sugestões não foram atendidas pelo consórcio.
Segundo Fernando, o argumento de falha geológica não condiz com a estrutura do local, que é um solo de areia, e não de rocha. “O argumento da Defesa Civil não existe, não existe falha geológica em material sedimentado. Isso é um alerta que eu estou tentando passar. Não existe falha geológica na areia! São vazios criados pela água que causam esses problemas”, explica ele. Ele ainda completa: “Imagina aquele acidente ao meio dia, com pessoas passando com criança... Um buraco com quase três metros de altura. A sorte é que aconteceu às duas da manhã".
O engenheiro Antônio Eulálio, associado do Conselho Regional de Arquitetura, que visitou o local informalmente, também dá esse atestado sobre o terreno. “O terreno é arenoso. Ali era uma praia, uma restinga. Os prédios tiveram as fundações feitas sobre a areia”, completa. Ainda segundo Antônio, os moradores estão assustados com as rachaduras e com o buraco, mas não há perigo eminente. Segundo ele, moradores disseram que viram água vazando da obra por três dias antes do acidente, o que corrobora a ideia de Fernando que o acidente aconteceu devido a um afundamento por causa de vazamento. “É possível que tenha sido um vazamento provocado pela trepidação que atingiu tubos de esgoto, águas pluviais. Todo mundo que sabe que a tubulação da Cedae é velha, e você causa uma trepidação que pode gerar rupturas”. Segundo os especialistas, a água carregaria a areia assentada, causando um afundamento e, aí, a cratera.
Para Fernando, é comum fazer desvios com a água, drenagem, mas que o controle tem que ser maior. “A gente tem brigado com o Estado pela forma como isso está sendo tocado. Mal começou o tatuzão a ser usado, teve problemas. A nossa briga é em relação aos cuidados que o Estado e a concessionária deveria ter nessa obra”, completa.
Segundo Ignez Barreto, coordenadora do PSI, a visão entre moradores e prefeitura em relação a obra vem sendo diferente e oposta. “O nosso grupo se movimentou muito em relação a Praça Nossa Senhora da paz, a e sua preservação. Já que tinha que ter uma estação, que se fizesse a estação embaixo da Garcia D’avila e subterrânea. Eles informaram que não era possível porque eles não queriam fechar a rua Visconde de Pirajá, mas olha agora: o bairro tá todo fechado”, critica. Um trecho da Rua Visconde de Pirajá está fechado desde o ano passado. “Além disso, o que vemos na praça é um crime ambiental, patrimonial. O governo do estado não conseguiu que o Conselho ‘destombasse’ a praça, mas conseguiu que aprovassem a obra, e agora a praça, patrimônio, está toda arrebentada”, completa. O engenheiro Fernando corrobora: “Existem metodologias de execução totalmente subterrâneas. A Praça Nossa Senhora da Paz e a General Osório são tombadas! Eles dizem: ‘vou fazer tudo de volta’, mas você não volta com uma árvore de cem anos”, reclama.
O Crea informou que sua função é fiscalizar o exercício profissional e que somente em alguns casos faz relatórios, como deve ocorrer nessa situação. Quando pronto, eles prometeram divulgá-lo. O Consórcio Linha 4 informou que as obras seguem normalmente. Apenas as escavações do túnel sob a Rua Barão da Torre, em Ipanema, estão interrompidas temporariamente, até que que se saiba o que causou o assentamento do solo naquele local. As causas do incidente estão sendo analisadas”. A Defesa Civil informou que fez uma verificação e que não há risco estrutural para os prédios, mas descobrir o que causou a cratera é responsabilidade do consórcio.
Para Fernando, engenheiro do PSI, a garantia de segurança da Defesa Civil não é correta. Ele diz que Ipanema tem muitos prédios antigos e mais suscetíveis, com fundações frágeis e essas informações são difíceis de obter “Esse tipo de informações que deveriam ter sido coletadas e analisadas para a empresa serem feitas. Mas é difícil encontrar parte dessas plantas, inclusive. Você não encontra o projeto de muitos prédios nem na prefeitura”, explica. “Para mim, o prazo político está passando por cima dos prazos técnicos”. Para Antônio Eulálio, associado do CREA, porém, não há risco se for mantida uma observação nas obras.
Os moradores da área
“Os moradores estão evidentemente apavorados. Hoje vai ter uma reunião com os engenheiros do consórcio mais a defesa civil”, diz Ignez. Os moradores estão se organizando também para falar sobre indenizações e consertos.
Existe a intenção de fazer uma reunião com os síndicos ainda esta semana, para ter um apanhado geral sobre o assunto, informa Fernando. “Temos que unir forças, porque ninguém gosta de ter sua casa rachada, mesmo alguém consertando”. Para ele, o Metrô Linha 4 não vai causar dificuldades no conserto, mas isso não é o suficiente: “Eles vão estar consertando a consequência e não estão mexendo na causa”.
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