» ROSANA HESSEL
CORREIO BRAZILIENSE 26/04/2014
Governo federal e prefeitos seguram reajustes do transporte público, temendo manifestações, inflação e queda da popularidade de Dilma
O Ministério da Fazenda está monitorando, com preocupação, o custo do transporte público nas principais capitais brasileiras. Qualquer aumento do preço das passagens de ônibus e Trens Urbanos pode pressionar ainda mais o já elevado custo de vida do brasileiro. No entanto, não há mais espaço no orçamento para fazer benesses como no ano passado, quando o ministro Guido Mantega desonerou a folha de pagamentos e reduziu o PIS/Cofins das empresas de transporte e, com isso, convenceu os prefeitos a suspenderem os reajustes.
Apesar de Mantega afirmar que a inflação terminará o ano abaixo do teto da meta, de 6,5%, as expectativas mais recentes dos economistas apontam para o contrário. Se a carestia passar do limite, será mais um prejuízo para a presidente Dilma Rousseff em sua campanha para a reeleição. Não à toa, a avaliação positiva de Dilma cai à medida que os preços sobem. Em março - mês em que o IPCA deu um salto de 0,92%, a maior alta mensal em 11 anos -, a aprovação do governo ficou em 36% - sete pontos percentuais abaixo dos 43% registrados em dezembro pela pesquisa CNI/Ibope.
Os prefeitos, por sua vez, hesitam em autorizar reajustes com medo de novas manifestações, como as que levaram milhares de pessoas às ruas em meados de 2103. A onda de violência, depredações e incêndios de ônibus em várias cidades também tem feito os administradores municipais, mesmo com as finanças capengas, segurarem os aumentos.
Dos 13 municípios que entram na pesquisa do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial, apenas três elevaram tarifas de ônibus: Rio de Janeiro (5%), Porto Alegre (5,36%) e Goiânia (3,7%), de acordo com levantamento feito pelo economista Étore Sanchez, da LCA Consultores. As demais capitais - Belém, São Paulo, Fortaleza, Salvador, Recife, Belo Horizonte, Curitiba, Vitória e Campo Grande, além do Distrito Federal - devem manter os preços como estão por enquanto.
No início deste mês, diante de protestos da população, o governo da capital mineira recuou na tentativa de reajustar as passagens. "Esse aumento nem foi contabilizado nas nossas projeções", disse Sanchez, lembrando que a LCA está entre as consultorias mais otimistas porque espera que o IPCA encerre o ano em 6,3%, abaixo da mediana de 6,51% das expectativas dos economistas ouvidos pelo Banco Central no Relatório Focus.
"A maioria das cidades não aumentará as tarifas este ano. Belém deverá ter um reajuste em maio. O Distrito Federal, provavelmente, pode aplicar novos preços em novembro, mas só depois das eleições", disse o economista da LCA. "A perspectiva do mercado é que os prefeitos segurem as correções ao longo de 2014. Além de São Paulo, Salvador e Curitiba firmaram esse acordo. Por conta disso, o aumento dos preços monitorados deve ficar em 4,9% este ano", apostou.
Prioridade
O professor de economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, José Luis Oreiro, bate na mesma tecla. "O aumento das passagens pesa diretamente no bolso da população. A alta da inflação está reduzindo a popularidade de Dilma, e ela não vai permitir que o custo do transporte suba às vésperas das eleições", avaliou.
Oreiro afirmou que, se os municípios não conseguirem fechar as contas, terão algum tipo de ajuda do governo federal. "Ele pode criar um mecanismo compensatório para os prefeitos. O importante é conter os reajustes até novembro. A prioridade será impedir tumulto antes e durante a Copa e depois nas eleições", disse.
Apagão na Copa
O ministro da Secretaria de Aviação Civil (SAC), Moreira Franco, alertou ontem para o risco de o Aeroporto do Galeão (RJ) sofrer um apagão durante a Copa. Ele revelou sua preocupação pelo microblog Twitter. "Tivemos falta de energia várias vezes, por pouco tempo, mas muito prejudiciais. A Light (distribuidora fluminense) diz que é o Galeão e o Galeão diz que é a Light", publicou. Para tratar do problema, o ministro marcou para o próximo dia 5 reunião entre o Ministério de Minas e Energia, a Light e a Infraero. Na noite do último dia 18, o Galeão ficou às escuras por 15 minutos, atrasando 11 voos.
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