Artigo originalmente publicado na Revista Ferroviária
Rogerio Wassermann, da BBC Brasil, em um artigo
publicado em janeiro de 2013, comparou o Metrô de São Paulo com outros metrôs
do mundo. Ele afirma que o nosso Metrô, ao ritmo médio de expansão anual,
precisaria de mais 172 anos para chegar à atual extensão do metrô de Londres. E
entre os metrôs latino-americanos, o da Cidade do México, inaugurado em 1969
com 226 km de rede, tem ritmo de expansão maior do que o nosso, com 5
quilômetros a mais por ano. E acrescentava: "O sistema da capital
paulista, inaugurado em 1974, tem hoje 74,3 quilômetros de extensão – média de
expansão de somente 1,91 quilômetros por ano”.
Jornalistas e políticos brasileiros seguem a mesma
linha para criticar a rede do Metrô de São Paulo, considerada muito pequena
face à demanda, e sempre se referem ao Metrô do México como o paradigma a ser
seguido. Eu gostaria de discordar dessa visão, no meu entender errada, por ser,
no mínimo, incompleta.
A cidade do México é uma megalópole com mais de 20
milhões de habitantes. O seu Metrô tem uma rede de 226 km, com 12 linhas e 195
estações. Foi construído com financiamento do governo francês e concebido com a
mesma tecnologia do Metrô de Paris. A última extensão se deu em 2012 com a
linha 12, a chamada linha dourada, que está parcialmente interditada por
problemas na interface via/material rodante, apresentando falhas desde a sua
inauguração e com riscos de descarrilamento.
Hoje o sistema transporta cinco milhões de
passageiros por dia, 1,6 bilhão por ano, sendo um dos mais frequentados do
mundo, atendendo de maneira relativamente eficiente grande parte da região
metropolitana da capital mexicana. A tecnologia do material rodante é com rodas
de pneus de borracha, exceto nas linhas A e 12. Excluindo a linha 12, não
operacional, a rede do México ficaria reduzida a 202 km e 175 estações. A
cidade não tem uma ampla rede suburbana de transporte sobre trilhos como São
Paulo. A moderna linha Buenavista-Cuautitlan, que liga a Cidade do México a
quatro municípios da região, foi inaugurada em 2009 – a primeira em 40 anos.
Tem 27 km de extensão e transporta 300 mil passageiros por dia.
São Paulo conta com três empresas de transporte
sobre trilhos. Uma delas é o Metrô, que possui quatro linhas em operação, 65,9
km de rede, 59 estações e 150 trens. Transportou, no ano de 2013, 1,1 bilhão de
passageiros. O sistema metroviário transporta diariamente cerca de 4,6 milhões
de usuários. Outra é a ViaQuatro que opera a linha 4 do Metrô, com 12,8 km,
totalmente automatizada. É uma das mais modernas do mundo e transporta 700 mil
passageiros por dia. Um sucesso. Há também a CPTM, que tem uma rede de 260 km
de extensão, com 6 linhas e 92 estações operacionais, atendendo a 22
municípios. As linhas estão sendo modernizadas para terem a mesma qualidade do
serviço de metrô. Logo, logo chega lá. Transporta hoje 2,8 milhões de
passageiros por dia.
Assim, a Região Metropolitana de São Paulo conta
atualmente com quase 340 quilômetros de vias sobre trilhos e transporta 8
milhões de passageiros diários.
Esses números desmentem a visão estreita do
correspondente da BBC, que muitos têm ao comparar México com São Paulo. Nosso
Metrô, dentro da rede sobre trilhos integrada, tem uma malha razoavelmente
grande. Isso não significa que a cidade não necessite, com rapidez, de mais
linhas em áreas não atendidas, coisa que, aliás, está sendo feita, verdade seja
dita, a um ritmo que poderia ser bem maior.
Peter Alouche é consultor em tecnologia dos
transportes e o atual diretor técnico da Revista dos Transportes Públicos –
ANTP.
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