Principais meios de locomoção em massa do Rio, o
metrô e o trem transportam, respectivamente, uma média de 830 mil e 620 mil
passageiros a cada dia útil. A expectativa, porém, é que os dois serviços sejam
ultrapassados em apenas um ano pela principal aposta recente da cidade em
transportes de massa: os corredores expressos do BRT. Esse é o tema de estreia
de uma série sobre mobilidade urbana que o EXTRA inicia hoje, com reportagens
mensais. Também serão realizados debates periódicos sobre o assunto, com o
patrocínio da Fetranspor.
Atualmente, incluindo as chamadas linhas
alimentadoras — que levam os usuários até as estações terminais do serviço —,
cerca de 600 mil pessoas utilizam diariamente os ônibus dos BRTs Transcarioca e
Transoeste. A partir da inauguração dos corredores Transolímpica e Transbrasil,
prevista para o primeiro semestre de 2016, com vistas às Olimpíadas, esse
número deve saltar para 1,4 milhão.
— Por que apostamos no BRT? Pelo prazo, pela
capacidade e pelo custo. Desde que a gente nasceu escuta falar em linha 3 do
metrô, em linha 4... E nada. Não só por uma questão de vontade política, mas
também por falta de recursos — explica o secretário municipal de Transportes,
Rafael Picciani, antes de ponderar: — Claro que o sistema ainda precisa ser
ajustado e melhorado. É algo que saiu do zero.
O estudante de direito Leonardo Astro, de 24 anos,
morador do Recreio, sentiu na pele (ou melhor, no relógio) o efeito dessas
mudanças: seu tempo de viagem caiu de uma hora para 20 minutos com a
Transoeste. Mas é justamente essa redução no período de deslocamento que atrai
milhares e milhares de passageiros, tornando o sistema vítima do próprio sucesso.
É comum a superlotação de veículos e estações, sobretudo nos horários de pico.
— Costumo usar em horários de muito movimento, e
fica realmente complicado — observa o estudante.
O consórcio que administra o BRT, entretanto,
afirma que, entre 2012 e 2014, houve um crescimento anual de 50% na frota.
Hoje, são 326 veículos, entre articulados e biarticulados. Na avaliação dos
responsáveis pelo serviço, o cenário deve melhorar quando os dois novos
corredores entrarem em operação.
— Existia uma demanda absurda que não era atendida.
Por isso, o Transoeste e o Transcarioca acabam atendendo um público que não
necessariamente seria deles devido à falta de pções. Com a expansão, haverá uma
distribuição melhor entre os corredores — prevê Suzy Balloussier, diretora de
Relações Institucionais do consórcio BRT.
Aposta de integração
Além da promessa de desafogar os serviços
existentes, a inauguração dos novos corredores também permitirá a implementação
de linhas que atendam demandas específicas dos usuários. Já está prevista, por
exemplo, uma viagem direta entre Madureira e o Centro da cidade, cruzando o
Transcarioca e o Transbrasil.
— Obter uma rede integrada de transportes é o
grande benefício. E falo não só da ligação entre os corredores, mas também com
metrô, trem e VLT (Veículo Leve sobre Trilhos, que unirá a Zona Portuária e o
Centro) — acredita Paula Leopoldino, gerente de Mobilidade do RioÔnibus.
Atualmente, só o Transoeste tem três pontos de
conexão com os trens da SuperVia. Com a expansão até o Jardim Oceânico e a
entrega da Linha 4, no primeiro trimestre do ano que vem, ganhará também uma
ligação direta com o metrô — como já ocorre com o Transcarioca, em Vicente de
Carvalho. Ao todo, quando houver funcionamento pleno, o sistema contará com 14
pontos de integração com os meios de transporte sobre trilhos.
O investimento maciço no BRT, contudo, não é
consenso entre especialistas. Uma das vozes críticas é a de Giovani Manso,
doutor em Engenharia de Transportes e professor da Universidade Federal do Rio
(UFRJ):
— Não fizemos nem o dever de casa, que seria
estruturar uma rede de metrô consistente. O BRT é, no máximo, um paliativo.
OS NÚMEROS DO SERVIÇO
Quase 150 estações
Atualmente, o Transoeste e o Transcarioca têm,
juntos, 102 estações. A previsão é que outras 46 se somem a essas com a
inauguração da Transolímpica e do Transbrasil.
Malha maior
O tamanho da malha também aumentará quando todos os
corredores estiverem em operação: os 91km de hoje passarão para 150km.
Total de passageiros
Entre junho de 2012 e o fim do ano passado, foram
mais de 121 milhões de passageiros transportados pelo BRT, num total de 1,5
milhão de viagens.
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