No próximo dia 3 de março, a empresa de
consultoria KPMG, contratada pela atual gestão para estudar uma forma de
viabilizar a operação do modal de transporte, vai entregar um relatório final,
no qual recomenda que o Governo terá que fazer uma Parceria Público-Privada
(PPP) subsidiada.
De acordo com o secretário de Estado de
Cidades, Eduardo Chiletto, o Governo terá que entrar com R$ 30 milhões a R$ 50
milhões ao ano para tornar a operação do VLT “viável”, com tarifa de valor
razoável e integrada ao sistema de ônibus e micro-ônibus das duas cidades.
“O Governo vai retomar a obra do VLT – e a
KPMG está estudando uma forma de viabilizar a operação, já que o modal, por si
só, não se sustenta. É por isso que não será feita uma concessão, pois a
empresa que entrasse em uma concessão desse tipo teria prejuízo. No mundo
inteiro, o VLT dá prejuízo e os Estados têm que subsidiá-lo de alguma maneira”,
disse o secretário.
Segundo Eduardo Chiletto, a Parceria Público-Privada
terá duração de 20 a 30 anos.
Dos R$ 600 milhões que ainda serão
empregados na obra, o Governo já tem R$ 200 milhões assegurados pela Caixa
Econômica Federal.
Os outros R$ 400 milhões estão sendo
viabilizados via Ministério das Cidades, onde, segundo Chiletto, as conversas
já estão bem adiantadas.
“O governador Pedro Taques sempre afirmou
que não iria colocar sequer um real a mais na obra do VLT de forma
irresponsável, se ele não fosse viável. Mas, agora sim, como está se mostrando
viável, vamos colocar recursos nele”, disse Chiletto.
“Já-já eu espero estar dando a ordem de
serviço para retomar a obra. Basta ter um pouquinho de paciência”, completou.
Prazo
De acordo com o secretário, há duas “opções”
de prazo para o término da obra, a partir do momento em que ela for retomada.
“Podemos terminar de uma forma rápida – em
dois anos; ou ir terminando trecho por trecho, o que demoraria de três a quatro
anos. A sociedade e as prefeituras de Cuiabá e Várzea Grande serão chamadas
para participar dessa decisão, porque será uma decisão que vai afetar a vida de
muitas pessoas, além de prejudicar o comércio – que já foi o segmento que mais
sentiu a primeira fase da obra, com muita gente inclusive fechando suas portas
e tendo prejuízos”, afirmou.
Segundo Chiletto, se se optar pelo término
em dois anos, “será que nem a gestão anterior fez: vai parar as duas cidades,
haverá desvios para todo lado. Enfim, vai virar um piseiro [bagunça]”.
Por outro lado, fixando-se o prazo de
término da obra em três ou quatro anos, será feito primeiro o trecho
Aeroporto/Porto; em seguida o Porto/CPA; e depois o trecho Centro/Coxipó,
“deixando a população menos estressada”.
Vagões
Duas decisões, porém, já estão tomadas. A
primeira, de que não haverá a supressão do trecho Centro/Coxipó, como chegou a
ser aventada.
“Isso inviabilizaria financeiramente a
operação. Cortando o trecho Coxipó, por exemplo, o subsídio do Estado teria que
ser superior a R$ 100 milhões, o que é inviável. Muitas pessoas vêm do Coxipó
para o Centro – e esse trecho precisa entrar na operação. O estudo da KPMG
mostra que só há viabilidade com o modal completo: Aeroporto/CPA e
Centro/Coxipó”, disse Eduardo Chiletto.
A segunda decisão já tomada é que o Governo
vai vender 10 dos 40 vagões já comprados.
“O Governo anterior comprou 40 vagões
estimando a passagem do VLT nas estações a cada um minuto e meio. Isso também
se mostrou inviável, pois não há passageiros suficientes. Com 30 vagões, dá
perfeitamente para usar 26, deixando quatro de reserva, e o VLT vai passar a
cada 3 minutos na estação, o que é bem razoável”, disse.
Segundo o secretário, o Estado espera
conseguir cerca de R$ 120 milhões com a venda desses 10 vagões. O Estado da
Bahia é um dos potenciais compradores, já que estaria precisando.
“Já economizamos meio bilhão negociando com
o consórcio e não retomando a obra ao custo que ele pedia, que era de R$ 2,2
bilhões. E vamos economizar mais R$ 120 milhões com a venda dos vagões. Ou
seja, a decisão de paralisar a obra se mostrou correta, pois estamos
economizando o suficiente para construir pelo menos oito hospitais de grande
porte em Mato Grosso. Do contrário, esse dinheiro iria para o lixo. Isso é
fazer gestão com responsabilidade”, completou o secretário.
Justiça
Depois de entregue ao Governo no próximo dia
3 (quinta-feira), o relatório da KPMG será analisado por uma equipe técnica do
governo e devolvido para a empresa de consultoria para eventuais correções.
No próximo dia 19 de março, o documento será
entregue à Justiça Federal, onde um acordo judicial para a retomada da obra
deverá ser celebrado.
“Escolha errada”
O Governo do Estado vai retomar a obra do
VLT, apesar de isso contrariar os princípios que norteiam a atual gestão.
Segundo Eduardo Chiletto, o valor que o
Governo do Estado vai gastar subsidiando a operação do modal poderia ser melhor
empregado nos setores de saúde e saneamento básico.
“São R$ 50 milhões, ou seja, estamos abrindo
mão de construir um hospital regional por ano para financiar um modal que, cá
para nós, não fez falta na Copa e não está fazendo falta hoje. Talvez faça
falta daqui a 20 anos, mas até lá já estamos falando de 20 hospitais regionais,
que deixaram de ser construídos”, afirmou.
“Não foi a melhor escolha, sem sombra de
dúvidas, mas já que se botou R$ 1 bilhão nesse modal, você não vai jogar o
dinheiro no lixo. Então é evidente que, já que se colocou esse dinheiro, nós
vamos continuar. Mas esse continuar, é bom que se diga, terá um custo”.
Segundo o secretário, que é formado
arquitetura, o dinheiro do VLT estaria muito melhor empregado em obras de
saneamento básico.
“Injetaram recursos em um modal e deixaram
investir nos municípios mais carentes de Mato Grosso. Se você me perguntasse o
que eu faria, com certeza eu investiria em saneamento básico nos municípios.
Diminuiríamos consideravelmente o número de doenças, os gastos com saúde,
problemas com dengue, zika e outros, pois, para cada real investido em
saneamento, economiza-se quatro reais em saúde”, afirmou.
“E se levássemos a conta aos R$ 2,2 bilhões
que o Consórcio VLT pedia, estamos falando de um dinheiro que daria para
resolver o problema de saneamento básico em 28 municípios da nossa de
fronteira, que é uma área sensível. E com saneamento básico eu estou querendo
dizer esgoto, abastecimento de água e gestão de resíduos sólidos”.
Neste ano, a Secretaria de Estado de Cidades
tem R$ 35 milhões para investir em saneamento.
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