12/07/2016 - Folha de São Paulo
O Ministério Público de São Paulo denunciou nove dirigentes
e ex-dirigentes do Metrô na gestão Geraldo Alckmin (PSDB) sob suspeita de
improbidade administrativa pela compra de 26 trens que nunca foram utilizados
devido ao atraso nas obras de prolongamento da linha 5-lilás. Entre os
denunciados estão Jurandir Fernandes, secretário de Transportes Metropolitanos
na época da compra, e Clodoaldo Pelissioni, atual titular da pasta e diretor do
Metrô em 2015.
A Promotoria pede a devolução dos R$ 615 milhões usados na
compra das composições, além de mais 30% de multa por danos morais, totalizando
R$ 800 milhões.
As 26 composições, com seis vagões cada uma, foram
adquiridas em 2011 por R$ 615 milhões e seriam utilizadas na expansão da linha
5-lilás (da estação Adolfo Pinheiro até a Chácara Klabin), que ainda não se
concretizou.
Parte dos trens foi entregue em outubro de 2013 e, segundo a
Promotoria, está parada desde então em pátios do metrô no Jabaquara, Capão
Redondo e Guido Caloi, na zona sul da capital paulista. Outros dez estão em
depósito da fabricante, a CAF, em Hortolândia, interior de São Paulo.
O promotor Marcelo Milani afirma que as composições estão
perdendo a garantia e vão precisar passar por manutenções quando entrarem em
operação –a previsão é que a expansão dessa linha do metrô seja concluída
apenas em 2018, cinco anos após a entrega dos novos trens.
Essas garantias estão vencendo. Esses trens, para entrar em
funcionamento, quando terminar a obra, seguramente vão necessitar de nova
manutenção para poder entrar em funcionamento, diz.
Toda a eletrônica do trem estará perdida. Se você for numa
loja e comprar um computador hoje, ele será diferente daqui a um ano e será
muito diferente daqui a dois anos, compara Milani.
Além do ex e do atual secretário, foram denunciados Paulo
Menezes Figueiredo, atual presidente do Metrô, e os ex-presidentes da companhia
Sérgio Henrique Passos Avalleda, Jorge Fagali, Peter Berkely Bardram Walker e
Luiz Antônio Carvalho Pacheco.
Foram incluídos ainda Laércio Mauro Santoro Biazotti
(ex-diretor de planejamento e expansão) e David Turbuk (ex-gerente de concepção
e projetos de sistemas).
'ABANDONO'
O promotor Marcelo Milani, em sua denúncia, afirma que os
trens estão no mais completo abandono, inclusive sendo vandalizados. Segundo
ele, a investigação foi iniciada a partir da denúncia contra um funcionário
graduado do metrô. O Ministério Público, afirma ele, apura também
irregularidades em outras linhas.
Além dos trens ociosos, a Promotoria afirma que eles possuem
sistema operacional eletrônico, diferente do analógico usado atualmente na
linha 5 –e que isso necessitaria de adaptação.
Além disso, possuem bitolas (largura entre os trilhos)
diferente não só da linha 5, como de todas as outras linhas em operação do
metrô, impedindo seus outros sistemas, afirma Milani. A escolha [pelas bitolas]
revela total desprezo pela coisa pública, escreve ele na denúncia.
OUTRO LADO
O Metrô diz que os trens adquiridos estão sendo entregues e
passam por testes, verificações e protocolos de desempenho e de segurança, e
que oito veículos já estão aptos a operar a partir de setembro no trecho de 9,3
km entre as estações Capão Redondo e Adolfo Pinheiro.
Além disso, a empresa ainda afirma que toda a linha-5, da
primeira à última estação, terá a mesma bitola, e que não haverá gastos extras
com a manutenção dos novos trens.
O órgão diz que não arca com nenhum custo de aluguel para
estacionamento dos veículos e que o prazo de garantia só começará a valer após
o início de operação de cada composição, conforme previsto em contrato. O
promotor, porém, nega o argumento e diz que a garantia começou a valer a partir
da entrega dos veículos.
A expansão da Linha 5 é um empreendimento que incluiu os
projetos, as obras civis e a implantação de sistemas, a implantação de um
moderno sistema de sinalização em todo o trecho e a aquisição de novos trens
para transporte da nova demanda de usuários, diz a empresa, e afirma que as
ações foram executadas dentro de um detalhado cronograma.
Por fim, o metrô afirma que as informações já foram
encaminhadas reiteradas vezes ao Ministério Público de São Paulo, que as
desconsiderou para a abertura do inquérito.
A Folha não conseguiu contato com os outros denunciados.
Nenhum comentário:
Postar um comentário