09/08/2016 08:00 - O Tempo - BH
Morar perto do metrô ou do BRT (sigla em inglês para
“transporte rápido por ônibus”) significa economizar tempo e ganhar qualidade
de vida. Mas apenas 27% da população de Belo Horizonte pode “se dar ao luxo” de
caminhar no máximo 15 minutos até uma estação. A grande maioria (73%) está
fadada aos congestionamentos, seja de carro (para quem tem um) ou nos ônibus
convencionais sem pistas exclusivas. Na região metropolitana, essa dura
realidade é enfrentada por 86% da população.
Os dados fazem parte do indicador de proximidade do
transporte de média e alta capacidades, o PNT (do inglês “People Near
Transit”), elaborado pelo Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento
(ITDP) – entidade sem fins lucrativos que promove o transporte sustentável e
equitativo no mundo. O PNT estabelece como parâmetro de proximidade um raio de
até 1 km das estações de BRT, metrô, trem e Veículo Leve sobre Trilhos (VLT),
em uma caminhada máxima de até 15 minutos.
Conforme o estudo, que ainda não foi concluído e analisou 30
cidades no país e no mundo, o transporte de massa em Belo Horizonte é menos
acessível do que no Rio, onde 47% dos habitantes moram perto das estações, e
está longe de atingir a marca de 100% de Paris, na França.
Houve, entretanto, um avanço no período pré e pós-Copa do
Mundo de 2014. Na capital mineira, 16% da população morava a, no máximo, 1 km
de distância do metrô em 2010. Com a construção do Move, o índice subiu para
27%. “Foi um aumento similar ao observado no Rio, de 36% para 47%, mas o Rio já
tinha mais redes de transporte. De fato, os corredores de BH foram alocados em
pontos onde a população precisava, mas é necessário expandir”, disse o
coordenador de transporte público do ITDP, Gabriel Oliveira.
Na região metropolitana de Belo Horizonte, o número de
pessoas que têm acesso a pé ao metrô ou ao Move passou de 8% para 14% no mesmo
período – abaixo da Grande São Paulo (19%) e da Grande Rio (28%). A metalúrgica
Denise Braga Monteiro Mansur, 44, sabe o que significam esses dados. Moradora
do bairro Novo Eldorado, em Contagem, ela precisa pegar um micro-ônibus até a
estação de metrô Eldorado todos os dias. “A pé seria inviável, dá mais de 40
minutos de caminhada”.
Para chegar ao trabalho, ela desce na estação Carlos Prates
e pega outro ônibus até o bairro Santo Agostinho, na região Centro-Sul da
capital. Ao todo, ela gasta 1h15 para ir trabalhar e 1h30 para voltar. “O metrô
é cheio, mas é um percurso pequeno. Já o ônibus, além de cheio, enfrenta
trânsito. Canso mais no percurso que trabalhando”, disse.
Demorado
Estudo.Segundo pesquisa da Federação das Indústrias do Rio
de Janeiro, do mês passado, o trabalhador de BH e de municípios do entorno
gasta, todos os dias, 125 minutos no trajeto casa/trabalho/casa. São 11 minutos
a mais do que a média nacional.
Saiba mais
Parceria. A BHTrans informou que é parceira do ITDP e que
estuda a possibilidade de incluir o PNT como um indicador permanente para
promover uma descentralização sustentável do sistema.
Expansão. A BHTrans informou que não tem dinheiro para
expandir o Move. Sobre o metrô, o governo do Estado declarou que fez proposta à
União para assumir a gestão, no lugar da CBTU, e que os projetos básicos para
modernização e expansão da linha 1 (trecho em operação) e implantação das
linhas 2 (Barreiro/Hospitais) e 3 (Lagoinha/Savassi) estão concluídos. Há
projetos funcionais e básicos da linha 4 em estudos (Novo Eldorado/Betim), com
previsão de 20,5 km de extensão de metrô e VLT.
EXTENSÃO
Só 1% das vias tem prioridade no transporte coletivo
Quem depende de ônibus para se deslocar em Belo Horizonte
esbarra ainda em outro indicador nada favorável: pouco mais de 1% das vias
públicas têm faixas exclusivas para o transporte coletivo – são 54,6 km contra
um total de 4.600 km de ruas e avenidas.
“O índice evidencia a margem que existe para trazer maior
prioridade para o transporte público e garantir uma conexão mais atrativa e
rápida entre pessoas e oportunidades. O transporte coletivo sem pista exclusiva
não é vantajoso”, avaliou o coordenador de transporte público do ITDP, Gabriel
Oliveira. Não à toa, o número de veículos registrados na capital chega a 1,7
milhão.
A BHTrans informou que a ampliação das faixas exclusivas
“será natural, assim que a capital conseguir recursos para realizar as obras
necessárias”. A autarquia declarou ainda que pretende implantar uma rede
estruturante do transporte coletivo, com sistemas de média e alta capacidades
ao longo dos principais corredores. Porém, não há prazo nem recursos para isso.
Nem a capital, nem a região metropolitana têm VLT e/ou trem.
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