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sex., 18 de jun 2021. 09:04
Muito se fala sobre transporte ativo, transporte sob
demanda, aplicativos, inovações, mas nada disso contribui para a solução do
problema da mobilidade em nossas metrópoles se não estiver inserido, nesse
contexto, o transporte público e de alta capacidade.
Esse sistema é a essência da mobilidade. É nele que a grande
maioria dos deslocamentos diários acontece e é com base nele que todas as
demais aplicações se conectam, formando uma verdadeira rede a serviço do
cidadão.
Atualmente, o transporte público vivencia a maior crise de
sua história. A queda abrupta no número de passageiros desde o início da
pandemia aliada à necessidade de manutenção da oferta do serviço e ao aumento
de despesa com novos procedimentos de higienização e sanitização fez com que
grande número de empresas não conseguisse manter a prestação do serviço.
Ao longo desses 15
meses, o setor soma um prejuízo de mais de R$ 25 bilhões, cifra impressionante
que está sendo impossível de ser suportada pelas empresas. Vinte e cinco também
é o número de empresas que fecharam as portas, seguidas por diversas outras que
suspenderam suas atividades ou sofreram intervenção na operação.
O número de demissões
no setor já se aproxima de 80 mil trabalhadores e os movimentos grevistas deram
um salto em todo o País. Até abril, 223 ações protestaram pela falta do
pagamento de salários e benefícios, causados pela quebra do caixa das empresas
como consequência do desequilíbrio imposto pela forte queda na demanda de
passageiros e o atual modelo de remuneração ao qual o setor está exposto.
Metade da demanda
Já parou para pensar
no que acontecerá com nossas metrópoles no futuro, quando o fluxo de
passageiros for naturalmente retornando?
Diariamente, a mídia
destaca situações de aglomeração no transporte público e, hoje, o setor opera
com apenas 50% da sua demanda. O que imagina que acontecerá quando estivermos
com 70% da demanda de volta às ruas e metade do sistema de transporte
desmobilizado em função da quebra das empresas?
O mundo todo enfrenta
a mesma pandemia e o transporte público passa pelo mesmo problema. A diferença
é que, desde o início, diversos países adotaram medidas específicas ao
transporte público, destinando recursos emergenciais para garantir a manutenção
das operações. No Brasil, estamos na contramão. Não só não adotamos qualquer
medida de proteção ao transporte público como também rechaçamos as iniciativas
nesse sentido, como foi o caso do veto presidencial ao Projeto de Lei do
socorro emergencial ao setor. Várias ações foram realizadas, com as mais
diversas esferas governamentais, mas nenhuma medida específica conseguiu ser
implantada.
Crise que está por vir
Com a infraestrutura
de transporte urbano aos frangalhos, o País pagará um alto preço para conseguir
se reerguer. E, quando o mundo estiver voltando dessa crise, com a
empregabilidade aumentando e as economias avançando, o Brasil, em vez de ir na
mesma direção, terá de parar para enfrentar o problema que agora tem
negligenciado.
Se não forem tomadas
medidas imediatas, o forte descompasso entre o já previsível aumento na demanda
de passageiros e a capacidade de reaquecimento da oferta fará com que o País
encare um longo tempo de crise no transporte.
E, quando isso
acontecer, não será apenas com a crise no transporte que teremos que lidar, mas
com a crise social que virá junto com ela, porque os movimentos pelo direito ao
transporte de qualidade que vimos em 2013 serão apenas boas lembranças perto da
situação em que o transporte estará no futuro próximo.
Artigo publicado na
coluna Estadão Mobilidade, do Jornal O Estado de S.Paulo, no dia 16 de junho de
2021.
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