21/09/2021 Folha de S. Paulo Notícias da Imprensa
Ônibus na cidade de São Paulo, onde a retomada da demanda foi maior - Karime Xavier/Folhapress
Folha
de S. Paulo – O transporte público por ônibus no país opera com pouco mais da
metade da demanda de passageiros pré-pandemia e já soma prejuízo de R$ 16,7
bilhões no Brasil.
Os dados são do
anuário lançado nesta segunda-feira (20) pela NTU (Associação Nacional de
Empresas de Transportes Urbanos), entidade que reúne empresas que prestam
serviços de ônibus urbanos e metropolitanos no país.
O impacto financeiro
contabiliza os meses de março de 2020 a junho deste ano, quando as regras de
isolamento social devido à pandemia de coronavírus geraram uma redução drástica
na demanda de passageiros.
Os dados mostram que,
em 2020, houve queda de 51% nas viagens por passageiros pagantes em ônibus em
relação ao ano anterior, considerando a média dos meses de abril e outubro. Se
considerado apenas abril, a queda foi ainda mais acentuada: 67%.
“De agosto de 2020
até junho de 2021, a diminuição da demanda ficou estabilizada entre 35% e 40%,
de acordo com o mesmo acompanhamento. Ou seja, mais de um ano após o início da
pandemia, não existe ainda uma sinalização de recupera ção da demanda em
direção aos níveis observados anteriormente”, diz o documento.
O setor do transporte
público já vivia dificuldades de financiamento antes da pandemia, no qual se
buscava definir um modelo sustentável para garantir o funcionamento universal
do transporte urbano. Agora, a situação se agravou a ponto de a NTU definir a
situação atual como “à beira do colapso”.
O documento traz
ainda uma série de dados relativos à pandemia, incluindo fechamento de empresas
de transporte e paralisações de serviços.
“Ainda estamos muito
longe daquela demanda que já era insuficiente para manter o serviço com
estabilidade econômica”, disse o presidente da NTU, Otávio Vieira da Cunha
Filho, durante seminário organizado pela entidade. “A crise está instalada
porque o setor não se sustenta”, completa.
De acordo com o
documento, a demanda de passageiros hoje fica entre 50% e 60%. Já a oferta de
veículos oscila entre 80% e 100%.
Como a oferta de
veículos vai se aproximando da anterior à pandemia, mas a demanda de
passageiros não acompanha os mesmos patamares vai aumento o prejuízo das
empresas.
A média de
passageiros transportados por veículo caiu de 343, em outubro de 2019, para 226
no mesmo mês do ano seguinte.
Em junho de 2021,
último mês computado pela NTU, a oferta de serviços foi de 82,9%, contra 56,3%
na demanda. O prejuízo naquele mês chegou a R$ 1,2 bilhão.
Segundo ele, porém,
em São Paulo a situação difere um pouco do resto do país, com oferta de 100% do
serviço e demanda por volta de 80% do que era registrado no período
pré-pandemia. A cidade tem um modelo diferente de financiamento em relação a
muitas outras cidades do país, uma vez que a remuneração não ocorre somente por
passageiros transportados e há importante parcela subsidiada.
De acordo com o
relatório da NTU, até o momento 14 empresas operadoras suspenderam os serviços,
6 encerraram definitivamente as atividades e 7 entraram em recuperação
judicial.
Além disso, foram registradas 287 paralisações em 94 sistemas. “A maioria por
greves motivadas por atrasos de salários e benefícios, oriundos da incapacidade
das empresas em honrar seus compromissos”, diz o anuário. A área também
registrou demissões de 80.537 trabalhadores.
O setor de transporte
cobra medidas para um financiamento sustentável do transporte público. A Folha
adiantou as questões que afetam a área na série o Futuro do Transporte,
publicada em julho de 2020.
O documento critica o
veto do presidente Jair Bolsonaro à ajuda de R$ 4 bilhões ao setor, após a
aprovação de ajuda emergencial ao transporte público pelo Congresso. “O PL foi
aprovado na Câmara e no Senado no final de 2020, mas acabou atropelado pelo
processo eleitoral e terminou vetado pelo presidente Jair Bolsonaro, em mais um
episódio onde a política interferiu negativamente nos interesses maiores da
sociedade”, diz o o documento.
Os aumentos do preço
dos combustíveis também se somaram às pressões sobre o financiamento do
transporte. O relatório da NTU cita que entre novembro de 2020 e julho de 2021,
houve 16 reajustes do óleo diesel, que resultaram em uma variação acumulada de
37,4% no preço médio do combustível para grandes consumidores, de acordo com o
levantamento de preços realizado pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural
e Biocombustíveis (ANP).
“Apenas a variação
acumulada desse período representa um impacto de 9,9% nas tarifas, considerando
a representatividade de 26,6% do óleo diesel no custo total do setor”, diz o
relatório da NTU.
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