Para especialista, problema é por falha no projeto de
drenagem
POR LUIZ GUSTAVO SCHMITT
13/06/2016 6:00 / atualizado 13/06/2016 8:49
Ônibus trafega pelo corredor exclusivo, tomado por buracos:
para evitar remendos, alguns motoristas dirigem fora da pista -
Domingos Peixoto / Agência O Globo
RIO — Calombos, remendos e muitos, muitos buracos. Esse foi
o cenário encontrado anteontem pelo GLOBO ao longo dos 52 quilômetros de
extensão do BRT Transoeste, que liga o Terminal Alvorada a Campo Grande e Santa
Cruz. Primeiro dos quatro corredores exclusivos para ônibus no Rio, o sistema
foi inaugurado há quatro anos.
Em todo o caminho, o quadro mais crítico é entre as estações
Mato Alto e Pingo D'Água, em Guaratiba. Ali, não faltam crateras. No ponto de
ônibus em frente à estação Mato Alto, no sentido Campo Grande, o asfalto cedeu
tanto que é possível observar vergalhões expostos. Também havia calombos no
asfalto na pista sentido Barra, em frente à Cidade das Artes, na entrada do
Terminal Alvorada. Lá, há um trecho em obras, que é a segunda fase do corredor
viário, que será prolongado até o Jardim Oceânico, onde se encontrará com a
Linha 4 do metrô (Ipanema-Barra).
OBRA FICOU PRONTA EM 2012
O Transoeste foi anunciado em 2009, um dia depois de o Rio
ter sido escolhido sede das Olimpíadas. A obra ficou pronta quatro meses antes
da reeleição do prefeito Eduardo Paes, em junho de 2012. A precariedade na
qualidade do asfalto não é uma particularidade do BRT: o Elevado do Joá,
recém-entregue, já passou por uma operação tapa-buracos, na semana passada.
Representante da Associação Brasileira de Pontes e
Estruturas (ABPE) no Conselho Regional de Engenheria e Agronomia (Crea), o
engenheiro Antonio Eulalio Pedrosa Araujo disse que os buracos no corredor do
BRT ocorrem por causa de falhas no projeto de drenagem da pista.
— O problema foi a falta de um projeto adequado de drenagem
e o dimensionamento das camadas finais da terraplanagem do pavimento. O ideal
seria rebaixar o lençol freático para aumentar a capacidade de suporte da
pista. No Joá também houve problema de drenagem, mas é pontual — disse Pedrosa.
— Essas deformações ocorreriam até mesmo se a pista tivesse sido feita de
concreto, que também acaba rachando por falta de suporte da base. Os problemas
de projetos no BRT são típicos de obras feitas às pressas e cujo andamento não
é regido pela boa técnica, mas pela pressão de entregar no prazo político.
Diretora técnica da Associação Brasileira de Pavimentação,
Luciana Dantas afirma que não é normal haver buracos numa obra viária de grande
porte nos primeiros anos.
— No início não é para aparecer nada. O normal seria haver
fissuras e trincas pequenas e não buracos. Mas isso depois de quatro ou cinco
anos de uso. A falta de uma boa drenagem pode causar defeitos prematuros.
No percurso do BRT, a equipe de reportagem do GLOBO se
deparou com alguns ônibus trafegando fora do corredor exclusivo, que é a
essência desse sistema de transporte. No trecho entre as estações Mato Alto e
Magarça, no sentido Santa Cruz, a pista do corredor teve que ser fresada, o que
impedia a circulação dos veículos. Mais adiante, mesmo nos trechos onde não
havia recapeamento, mas sobravam ondulações na pista segregada, os motoristas
dos coletivos evitavam retornar pelo recuo e seguiam pela faixa dos carros de
passeio.
Considerado um dos legados das obras da Copa de 2014 e da
Olimpíada, o BRT recebeu seus primeiros retoques na pista em janeiro de 2013,
sete meses após o início de sua operação. Os buracos da época causaram
mal-estar e levaram a um bate-boca entre a construtora Sanerio e o prefeito.
Paes disse que a obra estava malfeita. A empresa argumentou que os problemas
ocorreram por causa da entrega às pressas antes da eleição.
Até hoje a situação persiste e reprises de cenas de
recapeamento de buracos se sucedem no corredor. Entre os usuários, o BRT não é
só elogios. Embora passageiros reconheçam que houve redução do tempo de
deslocamento entre a Barra e Campo Grande, não faltam críticas relacionadas ao
estado da pista e à superlotação.
— A pista está muito esburacada. É difícil manter o
equilíbrio para quem viaja em pé, já que o ônibus está sempre lotado. Já vi
muita gente se machucar — disse a usuária Bruna Oliveira.
A Secretaria de Conservação e Serviços Públicos informou que
executa rotineiramente serviços de manutenção no Transoeste. Em 2016, um trecho
de 12 quilômetros, em ambos os sentidos do corredor, passou por fresagem e
recapeamento. Entre as estações do Magarça e do Mato Alto foi fresado outro trecho
de oito quilômetros que aguarda condições climáticas favoráveis para aplicação
do asfalto e finalização dos serviços. O Consórcio BRT informou que até o fim
de julho serão acrescentados 158 ônibus à frota, a maior parte com 23 metros de
comprimento e capacidade para transportar 220 pessoas cada.
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