22/06/2016 07:28 - O Estado de SP
SÃO PAULO - Com crise e aumento do desemprego, o metrô de
São Paulo perdeu 86 mil passageiros por dia entre janeiro e maio, voltando ao
patamar de 2013. Dados da Companhia do Metropolitano de São Paulo (Metrô)
mostram que a média diária de pessoas transportadas nas seis linhas, incluindo
a Amarela (operada pela ViaQuatro) e a Prata (monotrilho), caiu de 4,46
milhões, entre janeiro e maio de 2015, para 4,37 milhões no mesmo período deste
ano, o que deve resultar em queda de até R$ 60 milhões na receita tarifária de
2016.
O mesmo fenômeno acontece nas seis linhas da Companhia
Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), que transportou 6,6 milhões de
passageiros a menos nos cinco primeiros meses deste ano, na comparação com
igual período de 2015. Nas duas redes de transporte sobre trilhos na Grande São
Paulo, a queda na demanda foi de 1,9%. Se a média for mantida, será a maior
redução na média diária de pessoas transportadas ao menos desde 2005. Apesar da
queda total, a ViaQuatro indicou situação melhor: teve crescimento de 2% nos
passageiros da Linha 4.
Ao contrário do transporte sobre trilhos, os ônibus
registraram pequena variação positiva no número de passageiros transportados. O
número de viagens passou de 1,17 bilhão para 1,18 bilhão nos cinco primeiros
meses, em comparação com igual período do ano passado, variação positiva de
0,34%.
Para o diretor de Operações do Metrô, Mário Fioratti, os
dados “refletem efetivamente a queda na atividade econômica” em São Paulo.
“Isso é resultado da crise, sem dúvida nenhuma. Nós estamos tendo diminuição de
demanda nas Linhas 2 (Verde) e 5 (Lilás), coisa que nunca teve na história.
Tivemos queda de demanda inclusive aos sábados, que também está vinculada à
atividade econômica”, disse o dirigente.
De acordo com a Fundação Sistema Estadual de Análise de
Dados (Seade), meio milhão de pessoas perderam o emprego na Grande São Paulo
entre abril de 2015 e abril deste ano. Apenas no Metrô, a média mensal de
bilhetes especiais concedidos a desempregados cresceu 32%, passando de 4.676
para 6.169. Em 2014, o número de bilhetes que dão gratuidade de 90 dias para
quem perdeu o emprego há mais de um mês era de 3.644 unidades.
Contas.
A queda do número de passageiros tem impactos
financeiros significativos para a empresa – que não recebe subsídios e depende
de receitas próprias para se manter. A redução estimada de R$ 60 milhões
corresponde a dois terços do prejuízo total de R$ 93,3 milhões que a companhia
já registrou no balanço do ano passado. O resultado foi agravado pela decisão
da gestão Geraldo Alckmin (PSDB) de não pagar valores devidos à empresa, de
receitas vindas dos créditos de bilhete único gratuitos.
Segundo Fioratti, para equilibrar as contas, o Metrô está
reduzindo os gastos com custeio, renegociando contratos, parcelando o reajuste
dos funcionários e vai lançar no próximo mês um programa de demissão voluntária
(PDV), que deve atrair pelo menos 300 empregados (3% do total).
Explicações.
Especialistas em transportes concordam com a
avaliação do Metrô sobre a queda de passageiros e apontam as causas para o
mesmo não acontecer com os ônibus. “O passageiro que usa ônibus e metrô paga um
valor de passagem. Mas, com o bilhete único, se o passageiro toma um segundo
ônibus, a passagem é gratuita”, diz o consultor Flamínio Fishman.
Outro engenheiro de tráfego, Horácio Augusto Figueira
destaca que o Metrô, há anos, opera saturado no pico, sem capacidade de
absorver demanda. “Já no caso dos ônibus vêm ocorrendo há alguns anos mudanças
de linhas, entrada de ônibus com ar-condicionado, elementos que podem ter
atraído passageiros”, pondera. Os especialistas, no entanto, não descartam que
novos modelos de transporte possam ter contribuído para tirar passageiros dos
trilhos.
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