02/09/2016 07:45 - Gazeta do Povo
Se tudo correr bem, Curitiba pode ter 50 carros elétricos em suas ruas,
livres para serem compartilhados, até o fim de 2017. Duas empresas apresentaram
estudos de viabilidade para o “car-sharing” (ou “compartilhamento de carros”),
em resposta ao Procedimento de Manifestação de Interesse (PMI) aberto pela
prefeitura. Nesta quinta-feira (1.º), o município anunciou que ambos foram
aceitos e vão servir de base para a formulação do edital. A meta da
vice-prefeita Mirian Gonçalves, responsável pelo projeto, é abrir a
concorrência até dezembro deste ano. O anúncio dos escolhidos e assinatura do
contrato seriam feitos no início do próximo ano, já na próxima gestão, seja ela
qual for.
As duas propostas apresentadas – da empresa Serttel e do engenheiro
Sérgio Bastos – preveem um serviço nos moldes de concessão (e não de parceria
público-privada). Para a vice-prefeita, esse é o modelo mais interessante, do
ponto de vista econômico, para a prefeitura. Todo o custo de implantação do
sistema, como de carros e de postos de recarga, bem como sua operação
(manutenção das pessoas, criação de aplicativos, fiscalização) ficaria a cargo
da iniciativa privada, sem custos para os cofres públicos.
Ao mesmo tempo, quem vencer o futuro edital ganha o direito de explorar
o serviço em um tempo determinado. Um dos ganhos é com a tarifa paga pelo
serviço, que deve ter um valor “em conta”, para ser atrativa para o usuário.
Mirian acredita que a própria lógica do mercado deve garantir um preço
razoável. Pois, caso contrário, ninguém vai usar o serviço e o investidor não
vai ter retorno. “Quem faz uma proposta de investimento alto se não tiver quem
use?”. Por outro lado, o edital deve prever outras formas de ganhos
financeiros, como a exploração do sistema para fins publicitários.
A tarifa pode ser medida tanto em tempo quanto em quilômetros. Ainda não
se sabe qual das medidas Curitiba vai adotar, mas as duas propostas
selecionadas optaram pelo tempo. A Serttel apresentou um programa de tarifas
que varia de R$ 0,80 o minuto (viagens de meia a uma hora) a R$ 0,40 (de três a
quatro horas). Já o estudo do engenheiro Sergio Bastos prevê R$ 0,60 por minuto
para usuário do plano mensal, caindo para R$ 0,40 no plano anual.
A ideia é começar com 50 carros e cerca de 30 estações. Além de serem
pontos de recarga para os veículos elétricos, as estações serão pontos de
estacionamento. O usuário tira o carro em um ponto e devolve em outro. O
espírito é de viagens curtas, de forma que os veículos permaneçam em movimento
constante, ao mesmo tempo que o usuário sempre vai ter um carro disponível nos
postos de abastecimento. Quem vai para o trabalho de carro, por exemplo, no
lugar de deixar o veículo oito horas parado, ocupando uma vaga de
estacionamento, pode deixá-lo na rua para ser utilizado pelo próximo usuário, e
assim sucessivamente.
Um dos principais objetivos é desafogar a região central da cidade, que
hoje sofre com o excesso de carros individuais. O famoso congestionamento das
oito horas da manhã, em que se enfileiram carros nos semáforos, cada um com uma
pessoa dentro. A ideia é que o carro compartilhado seja uma opção que motive o
cidadão a deixar o seu veículo particular em casa.
O sistema de car-sharing foi pensado para se conectar com outras formas
de transporte. O trajeto de casa até a estação, por exemplo, pode ser feito de
bicicleta e, de lá, o sujeito pega o carro até o próximo ponto, próximo ao seu
trabalho. Outra opção seria usar o veículo público para ir ao mercado e não
precisar carregar as compras. “Você tem que ter uma cidade intermodal, permitir
que a pessoa possa ter um carro, um ônibus, bicicleta. Ou mesmo um carro
particular. Nossa intenção é que as pessoas tenham o carro, mas que ele não
seja de uso diário”, afirma a vice-prefeita.
Ao redor do mundo
A experiência curitibana é inspirada em modelos de car-sharing
internacionais. O mais famoso é o Autolib’, em Paris, criado em 2011 com 250
carros e 250 estações de recarga. A iniciativa surgiu na esteira do bem
sucedido Velib’, de compartilhamento de bicicletas. Não há, no Brasil, modelo
de compartilhamento de carros na escala do que se pretende em Curitiba. O que
deve influenciar inclusive no edital. O mais provável é que vença um consórcio
com alguma empresa internacional, com experiência no assunto, na avaliação do
gabinete da vice-prefeita.
Ao redor do mundo, o compartilhamento de carros é um negócio em
expansão. Estudo feito pela consultoria WRI Ross Center for Sustainables Cities
levantou que o número de sistemas passou de seis, em 2012, para 41, até a
metade de 2015. Os modelos variam. Um deles é o “peer-to-peer”, em que qualquer
indivíduo pode disponibilizar seu carro para outro usuário que, geralmente por
um aplicativo de smartphone, acessa o veículo e faz o pagamento. Outra opção é
ter um sistema de carros e estações administrado por um único operador. Pode
tanto ser uma empresa privada (uma locadora de carros, por exemplo), ou o setor
público, como no caso de Curitiba.
Menos carros
Cada carro do car-sharing pode
tirar até 11 veículos individuais das ruas. Significa 13 toneladas a menos de
gás carbônico no ar, segundo estudo do Centro de Pesquisa em Transportes (TSRC)
da Universidade de Berkeley, nos Estados Unidos. Eles analisaram o Car2Go,
maior operador de carros compartilhados dos Estados Unidos. Atualmente, a
empresa utiliza carros movidos a gasolina, em função de custos. Fossem
elétricos, a economia com emissão de gases poderia ser ainda maior.
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