30/08/2016 - Diário de Mogi
Com problemas
técnicos na linha 11-Coral, a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM)
suspendeu as viagens do Expresso Leste com ligação direta entre as estações
Luz, em São Paulo, e Estudantes, em Mogi das Cruzes. Desta forma, os
passageiros, que antes tinham a possibilidade de fazer o percurso sem
baldeação, têm de descer na zona leste da Capital para vir rumo ao Alto Tietê
ou seguir para a região central paulistana.
Geraldo Rodrigues
do Nascimento, de 64 anos, é diretor cultural em Suzano, mas mora em Mogi das
Cruzes. Ele faz a viagem entre as duas cidades todos os dias. Sai de casa por
volta das 6 horas e tem de enfrentar trem lotado e velho. “Antes eu saía de
casa uma hora antes de entrar no trabalho, agora tenho que sair duas horas
antes porque os trens, de manhã, estão parando toda hora. Nas composições, eles
repetem sempre: ‘Estamos parados aguardando a movimentação do trem à frente’. O
governador (Geraldo Alckmin/PSDB) disse que teríamos mais trens, mas, ao que
parece, eles estão tirando. Antes, com os trens diretos, era tudo mais rápido”,
afirmou à reportagem.
Gabriela Mendes,
22, estudante universitária, mora em São Paulo, porém, vem à Cidade todos os
dias para ter aulas e diz enfrentar dificuldades em alguns momentos. “Tem dias
que as viagens parecem intermináveis. Demoro mais de uma hora para sair de
Itaquera e vir até Mogi em dias com problemas. A baldeação é outra coisa que
irrita. Sempre enche a plataforma e é uma dificuldade ímpar para entrar no trem
para Mogi. Com o Expresso ficava um pouco mais fácil”, relatou.
De fato, as
viagens estão mais demoradas. O percurso entre Luz e Estudantes com o Expresso
é feito em pouco mais de uma hora. Com a baldeação, o tempo ultrapassa uma hora
e meia. Com os trens velhos, o ramal entre Guaianazes e Estudantes atinge os 45
minutos.
Os problemas
técnicos ocorreram há três meses nas subestações de Itaquera e Calmon Viana,
que alimentam com energia as composições. Sem contar com esses pontos vitais
para abastecimento, os trens do Expresso restringem-se a circular entre Luz e
Guaianazes e alguns novos fazem algumas viagens entre Guaianazes e Estudantes
sendo necessária a baldeação.
A diretora do
Sindicato dos Trabalhadores em Empresas Ferroviárias da Zona Central do Brasil,
Sônia Marques, explica que os problemas refletem uma espécie de “sucateamento”
do transporte sobre trilhos nas regiões periféricas. “Para nós, esses problemas
refletem um sucateamento do serviço ferroviário prestado pela CPTM. Isso, em
resumo, antecede um processo de privatização. A gente sabe que o Governo usa
desta artimanha quando deseja negociar alguma empresa. Tenta piorar a imagem
dela diante da opinião pública. A verdade é que a CPTM passa por problemas e os
passageiros sofrem grandes transtornos por causa deles”, disse a O Diário.
A versão de
“sucateamento” é rebatida pela estatal em nota enviada ao jornal: “As obras de
recuperação da subestação Calmon Viana, que sofreu curto-circuito após furto de
cabos em abril deste ano, estão em andamento dentro do cronograma previsto. A
conclusão está prevista para o final de outubro. Por conta dessa ocorrência, a
CPTM adotou estratégia operacional diferenciada para continuar atendendo os
usuários da Linha 11-Coral no trecho Guaianases-Estudantes com a mesma oferta
de lugares. A operação está sendo realizada por quatro trens de seis carros
(vagões) e quatro trens de oito carros (vagões), totalizando 56 carros
(vagões). Antes da ocorrência na subestação, o atendimento era realizado por 9
trens de seis carros (vagões) no pico de manhã e 10 trens no vale e pico da
tarde. Há suspensão temporária das viagens diretas do Expresso Leste, da Luz a
Estudantes (sem necessidade de transferência entre trens em Guaianases). A
Operação no trecho será normalizada e as viagens diretas do Expresso Leste
serão restabelecidas em outubro, com a finalização da obra de recuperação da
subestação de Calmon Viana”, informa.
Ainda segundo a
CPTM, serão contratados estudos para viabilizar a extensão da Linha 12-Safira
até Suzano, com cronograma a ser definido. “Já o serviço Expresso Leste será
levado para Suzano após a execução das intervenções no plano de vias e das
adequações necessárias para sua operação, obras que serão contratadas
futuramente. A CPTM abriu licitação para contratação de projetos executivos
visando à adequação de acessibilidade das estações das Linhas 11-Coral,
incluindo Jundiapeba, Mogi, Braz Cubas e Estudantes; e 12-Safira. A CPTM também
está recebendo 65 novas composições encomendadas. Neste ano, já colocou mais
dois trens em operação na Linha 11-Coral Expresso Leste”, trouxe a nota.
Relato
Moro na zona leste
de São Paulo, numa área vizinha ao Grande ABC, e faço o percurso pela linha
férrea até Mogi das Cruzes há seis anos, desde que comecei a trabalhar em O
Diário.
Pego o trem em
Guaianazes com destino à estação central de Mogi. É um percurso de pouco mais
de 27 quilômetros que, em tese, respeitando todas as oito paradas neste trecho,
não passaria de 40 minutos. Aos sábados, dias de plantão no jornal, as viagens
podem ultrapassar a uma hora. Mais dificuldades para trabalhar aos finais de
semana.
Para os
passageiros, o Expresso Leste faz toda a diferença. É perceptível a diferença
de tempo entre os modelos antigos e os mais novos de composições.
Outra verdade é
que as estações desta linha 11 – Coral também precisam se formatar conforme os
novos tempos. Trens mais novos, às vezes, rodam neste ramal
Guaianazes/Estudantes e há promessa da Companhia Paulista de Trens
Metropolitanos (CPTM) de que o Expresso Leste faça todos os horários nos
próximos anos. É verdade que algumas estações, como Ferraz de Vasconcelos,
Calmon Viana e Suzano foram reconstruídas, mas são evidentes as discrepâncias
entre os modelos mais recentes de trens e as antigas estações no quesito espaço
entre composições e plataformas. A altura é grande para que idosos e pessoas
com mobilidade reduzida superem e desçam em Braz Cubas, por exemplo, o que
demanda atenção especial da CPTM para as reformas das estações antigas de Mogi.
Como usuário do
transporte ferroviário, acho que o serviço deixa a desejar, sobretudo, na
questão do planejamento das partidas (totalmente desorganizadas quando falamos
em baldeação – às vezes chegam três trens vindos da Luz em Guaianazes para um
partindo rumo Estudantes resultando, claro, em superlotação), respeito aos
horários e às manutenções sempre ressaltadas pela estatal, mas nunca observadas
de fato por nós, passageiros. Passageiros que precisam conviver todos os dias
com um sistema imprevisível.
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