26/08/2016 - Folha de São Paulo
O número de falhas
graves no metrô de São Paulo mais que dobrou em cinco anos, e a tendência de
alta continua em 2016, segundo dados obtidos pela Folha por meio de Lei de
Acesso à Informação.
Em 2010, houve 30
ocorrências notáveis —nomenclatura técnica para panes que resultam em
paralisação das linhas, ainda que parcial. Em 2015, 76, aumento de 153%.
No primeiro
semestre deste ano, já foram 44, praticamente uma a cada quatro dias.
Os números obtidos
se referem às quatro linhas operadas pelo próprio Metrô (1-azul, 2-verde,
3-vermelha e 5-lilás), a cargo do governo Geraldo Alckmin (PSDB).
Essas falhas
graves podem ocorrer tanto nos trens como em equipamentos da rede.
Na prática, afetam
a vida não só de quem fica preso nos vagões por pelo menos cinco minutos —tempo
para caracterizar uma ocorrência notável— como dos demais usuários, já que há
um efeito cascata nas linhas do metrô.
Uma falha aumenta
os intervalos de viagem, a lotação dos trens e as filas para embarque. Em
algumas dessas panes, os trens precisam ser encaminhados para manutenção
corretiva, retirando composições de circulação.
Considerando
apenas os problemas registrados nos trens, a quantidade passou de 22 para 42
nos últimos cinco anos, alta de 91%.
O Tribunal de
Contas do Estado concluiu, com base em dados do Metrô, que cerca de 92 mil
viagens de trens deixaram de ser feitas em 2015 em razão de falhas ou problemas
de manutenção.
Nos últimos cinco
anos, não houve aumento significativo da frota, que passou de 150 para 154
trens, tampouco no volume de quilômetros percorridos pelas composições, que
subiu de 18,2 milhões para 18,9 milhões.
Além disso, não
houve crescimento expressivo nessa malha metroviária gerenciada pelo Estado,
que de 65,3 km chegou a 68,5 km.
O volume de
passageiros transportados aumentou 45% no período, mas ainda assim em ritmo
mais modesto que as panes graves.
A gestão Alckmin
afirma que a alta das panes se deve à adaptação de trens modernizados
recentemente.
Funcionários,
porém, citam a redução de investimentos na operação, manutenção e modernização
de linhas, trens e estações e, como revelou a Folha, a falta de peças e a
terceirização no serviço em trens novos e reformados.
Em março, a
reportagem mostrou a situação de cinco trens retirados de operação para servir
de estoque de peças de reposição para outros. O Metrô tem enfrentado falta de
recursos —em 2015, a gestão Alckmin deu calote de R$ 66 milhões na empresa,
referente à verba de gratuidades.
O consultor Peter
Alouche, especialista em trilhos e que trabalhou décadas no Metrô, ressalta que
a rede é pequena para "um dos mais elevados números de passageiros por km
de linha no mundo".
Para ele, a alta
das falhas pode estar ligada à interferência da implantação nos últimos anos do
CTBC —sistema de sinalização de trens mais moderno, que promete reduzir os
intervalos entre trens.
"Enquanto não
estiver em operação adequada, isso interfere no sistema convencional e causa
incidentes", afirma. O sistema só foi implantado integralmente na linha 2.
O cronograma de entrega hoje se estende até 2021.
OUTRO LADO
Segundo o Metrô, o
aumento de 153% nas panes graves em um período de cinco anos se deve ao retorno
de trens do processo de modernização.
De 2010 a 2016, a
companhia colocou em operação 80 trens modernizados. O contrato prevê a entrega
de outros 18, o que resultará em 98 composições renovadas.
Em nota, a empresa
ligada à gestão Alckmin (PSDB) diz que "quanto mais novo for um trem,
maior será o número de ocorrências apresentadas justamente porque equipamentos
novos passam por fase controlada de estabilização de desempenho até alcançarem
sua máxima eficiência".
Segundo a
companhia, "a avaliação da variação das ocorrências notáveis não pode ser
feita de forma isolada e simplista". "O total de falhas do período
analisado está praticamente constante porque enquanto alguns trens novos entram
em operação, outros já estão estabilizados", prossegue.
A empresa destaca
que todo trem novo ou modernizado requer acompanhamento técnico em seu período
inicial de operação.
Por fim, o Metrô
afirma que os trens modernizados, "entre outras melhorias, recebem novos
freios, tração, sistema de ar-condicionado, câmeras de vigilância, sensores
para detecção de fumaça, sistema de informação audiovisual (monitores e
displays), trazendo maior conforto e segurança aos usuários".
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