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quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Lei que trata da Política Nacional de Mobilidade Urbana completa cinco anos

 
27/01/2017Notícias do Setor ANPTrilhos         

Em janeiro, completaram-se cinco anos desde que a lei que institui a Política Nacional de Mobilidade Urbana (12.587/2012) foi sancionada. Produto de cerca de duas décadas de debates, ela é considerada um avanço por prever, entre outras coisas, responsabilidades dos diferentes entes da Federação e como os municípios podem criar sistemas de transporte acessíveis e que proporcionem mais qualidade de vida nos espaços urbanos. Em linhas gerais, a legislação incentiva a participação social nas decisões sobre o tema, com foco, ainda, na integração entre diferentes modais, sustentabilidade e universalidade no acesso à cidade.

Conforme a diretora-executiva do ITDP Brasil (Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento, na sigla em inglês), Clarisse Cunha Linke, a lei 12.587/12 “é referência no que diz respeito à integração do planejamento de transportes com o planejamento urbano”, mas, acima de tudo, “à priorização do pedestre, do ciclista e do usuário de transporte público acima do usuário do veículo motorizado”.

Contudo, nesses cinco anos, o Brasil deu poucos e vagarosos passos rumo à efetivação dos instrumentos previstos nessa política, que deveria, nos primeiros anos de sua vigência, pautar o planejamento da mobilidade nas cidades para os próximos anos.

Planos de mobilidade

Um dos pontos fundamentais da lei é a obrigatoriedade de municípios com mais de 20 mil habitantes elaborarem os próprios planos de mobilidade urbana – instrumento de efetivação da Política Nacional de Mobilidade Urbana. Esses planos devem ser debatidos com a sociedade, que dirá o que espera, em termos de mobilidade, para o local em que vive, e estar alinhados com os planos diretores.

“Isso é importante porque obriga os municípios a trabalharem com planejamento e discutirem com a sociedade civil organizada o que querem de mobilidade para si e quanto isso vai custar. Isso é uma alternativa importante que também dá mais transparência nessa discussão”, ressalta o presidente da NTU (Associação Nacional de Transportes Urbanos), Otávio Cunha.

Além disso, o planejamento tem de estar alinhado com uma característica importante das cidades: a acelerada expansão de seus territórios e de suas populações. “A atividade das pessoas nas cidades é muito dinâmica, a cidade cresce rapidamente: aparece um núcleo habitacional, uma área comercial que se desenvolve mais, e acaba virando um centro de atração de viagens. A rede de transporte precisa ser revista permanentemente por isso”, reforça Otávio.

Inicialmente, o prazo para os municípios elaborarem os planos terminava em abril de 2015, sob pena de as prefeituras perderem acesso a recursos federais para investimentos em mobilidade urbana.
Mas não deu certo.

A diretora executiva do ITDP conta, a partir de dados obtidos junto ao Ministério das Cidades, que somente 171 prefeituras informaram ao órgão ter concluído seus planos até o fim de 2016. Isso corresponde a 5% das mais de três mil que precisam cumprir a exigência.

Segundo Clarisse Linke, havia recursos disponíveis para execução de obras, como as disponibilizadas pelo PAC e pelo Pacto pela Mobilidade – anunciado no calor das manifestações de junho de 2013 -, mas não havia verba destinada especificamente para o planejamento. E elaborar os planos de mobilidade sai caro: exige, por exemplo, pesquisas de origem e destino, realização de audiências públicas, profissionais multidisciplinares e capacitados.

Então, no fim do ano passado, um novo prazo foi estabelecido: abril de 2018.

Na nova contagem regressiva, a CNM (Confederação Nacional de Municípios) defende que o governo federal precisará apoiar os municípios, principalmente com recursos e capacitação técnica, para que haja condições de adequar sua estrutura e gestão de planejamento a política nacional de mobilidade urbana.

Ocorre que, em razão da crise econômica, a existência dos recursos federais – tanto para planejar quanto para executar obras – se tornou fator incerto. Por isso, na avaliação de Clarisse Linke, será importante a pressão da sociedade civil organizada sobre os gestores municipais.

Tem de mudar… e parece estar mudando

Ainda que a passos lentos, o Brasil está avançando.

Essa é a avaliação da diretora-executiva do Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento. “A lei, essa reflexão do planejamento e o envolvimento da sociedade civil contribuíram para que a gente consiga avançar numa mudança de paradigma. A gente viu uma mudança de entendimento desses vários atores, então sente que tem um avanço. Devagar, mas tem”, diz ela.

A opinião é compartilhada pelo presidente da NTU. Ele cita, como exemplo, os investimentos realizados na cidade do Rio de Janeiro, que passou a contar com novas alternativas de transporte coletivo, melhorando e agilizando o acesso a diferentes partes da cidade. Na capital fluminense, lembra ele, a decisão foi política e impulsionada pela realização dos Jogos Olímpicos de 2016.

A mesma análise é feita pelo diretor de Planejamento da ANPTrilhos (Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos), Conrado Grava de Souza. Por atender grandes corredores, realizar viagens rápidas e com segurança, o modal metroferroviário é considerado essencial para uma mobilidade mais eficiente e redução dos congestionamentos nas grandes cidades. “No caso do transporte sobre trilhos, os reflexos da lei ainda não podem ser bem sentidos porque os projetos são normalmente de média e de longa duração. Entretanto percebe-se uma tendência para os tomadores de decisão das cidades este pensamento da integração de todos os modos, de modo que cada um deles atenda a demandas dessas cidades”, analisa. Ainda, para Conrado, a efetiva implementação da lei representará uma melhoria significativa da qualidade de vida nos centros urbanos.

E, embora a crise econômica represente um empecilho para acelerar os resultados concretos do que está, por hora, no papel, o diretor da ANPTrilhos é otimista: “Achamos que vamos encontrar soluções para retomar o crescimento e para que o transporte sobre trilhos esteja mais presente nas grandes cidades nos próximos 20 anos. Isso fará parte do dia a dia dos cidadãos”.

Na esteira do que também pode ser chamado de uma transformação cultural – necessária para se alcançar cidades menos preocupadas com o transporte individual, Clarisse Linke é cada vez mais importante pensar nos investimentos que são realizados (ainda que aquém do que é necessário) de forma integrada e multidisciplinar. Assim, pensar as obras nas cidades de modo que beneficiem quem anda a pé, de bicicleta, no transporte coletivo e, por fim, no carro, como estabelece a 12.587/12.


27/01/2017 – Agência CNT de Notícias

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Política, falta de dinheiro e incapacidade técnica travam mobilidade no Brasil

05/09/2016 09:00 - Gazeta do Povo
A pressão dos preços dos imóveis nas grandes cidades brasileiras espraiou seus moradores para regiões periféricas longe dos polos concentradores de renda e trabalho. A solução para contornar essa dinâmica, dizem especialistas, passa por um transporte coletivo eficiente. Mas os projetos para priorizá-lo que ficaram negligenciados durante as duas últimas décadas agora correm o risco de ficar apenas nas pranchetas de urbanistas por conta da falta de verbas.
Até 1990, a função de estabelecer a política nacional do Transporte Urbano era da Empresa Brasileira dos Transportes Urbanos (EBTU) e da Empresa Brasileira de Planejamento de Transportes (GEIPOT). A decisão do então presidente Fernando Collor de Melo de extinguir essas estatais acabou deixando um vácuo na formulação de políticas públicas para o setor até 2003, quando foi criado o Ministério das Cidades.
Foi somente a partir de 2009, entretanto, que os recursos para infraestrutura voltada ao transporte coletivo ficaram mais abundantes. Mas a partir daí os municípios esbarraram em um novo obstáculo: falta de capacidade técnica para apresentar os projetos.
“Essa descontinuidade explica um pouco sobre a baixa qualidade de parte dos projetos técnicos apresentados nos últimos anos”, explica Otávio Cunha, presidente da Associação Nacional das Empresas de Transporte Urbano (NTU). Mas o problema não é só esse. Faltam recursos também. A gestão do presidente Michel Temer sustenta que as gestões passadas assumiram compromissos além da capacidade orçamentária.
Dados compilados pela NTU mostram que de uma lista de 464 projetos de priorização para ônibus financiados pelos três Programas de Aceleração do Crescimento (PAC), 235 sequer saíram do papel. “Estamos enfrentando grandes desafios. Em todas as áreas de mobilidade, somando todos os contratos que foram firmados com prefeitos e governadores, o volume de contratos assinados prometidos à sociedade equivale a 71 anos orçamento da área”, afirmou o ministro durante o Seminário Nacional NTU 2016.
Perspectivas
Nem tudo, porém, pode ser jogado fora. Após quase 20 anos sem grandes investimentos, o PAC conseguiu colocar em operação 166 projetos de priorização ao transporte coletivo e outros 62 estão em obras. É sobre esses, inclusive, que o Ministério das Cidades agora deverá se debruçar.
“Estamos analisando toda a carteira de investimentos em mobilidade urbana. Serão priorizados empreendimentos em que estados e municípios já firmaram termo de compromisso com a União e desenvolveram os projetos das obras. A prioridade é terminar as obras já iniciadas”, disse a pasta em nota, onde também destacou que a “limitada capacidade institucional dos governos locais e a complexa legislação brasileira para contratação de obras por parte do poder público” também são entraves para a retomada desses projetos.
RISCO
Após duas decadas sem investimentos, projetos de priorização ao ônibus agora correm o risco de ficar sem recursos



*Algumas cidades são contempladas com com sistemas BRT, Corredores e Faixas Exclusivas simultâneamente
Investimentos em intervenções que entraram em operação
Em R$


O que breca o Brasil
Veja as causas e os desdobramentos de ações de mobilidade que não foram concluídas no tempo previsto, estão sendo inauguradas incompletas ou sequer saíram do papel
MOBI (BRT) São José dos Campos – Disputa política
Era para ser um VLT de 15 quilômetros. Virou um BRT quatro vezes mais extenso. Pelo mesmo preço: R$ 800 milhões. O novo projeto foi anunciado em 2013. Os concorrentes pré-qualificados seriam conhecidos mês passado, mas o Tribunal de Contas suspendeu a licitação. Agora, o Ministério Público investiga supostas irregularidades no projeto após denuncias apresentadas pela oposição ao prefeito, a mesma que antes queria o VLT. A prefeitura afirma que, além de mais extenso, o projeto do BRT trará uma tarifa menor à população e que agora ela está reexaminando o edital para lançá-lo novamente. Não há novo prazo para conclusão da obra
VLT Cuiabá – Preço super (sub) estimado
Prometido para a Copa do Mundo, essa obra viveu caminho inverso ao de São José dos Campos. Originalmente, seria um BRT ao custo de cerca de R$ 500 milhões. Mas a escolha foi pelo Veículo Leve Sobre Trilhos, ao preço de R$ 1,447 bilhão – R$ 1,066 já foi pago ao consórcio responsável pela obra. Após denúncias de irregularidades, a obra foi paralisada. Envolvido em denúncias de fraude fiscal (não necessariamente sobre o VLT), o ex-governador Silval Barbosa (PMDB) está preso. A nova gestão contratou um estudo para ver quanto gastaria a mais no projeto e chegou a conclusão que precisa desembolsar R$ 602 milhões. Como o consórcio quer mais R$ 1,2 bilhão, o caso foi para na Justiça, onde está tramitando há mais de um ano. Os bondes e sete quilômetros de trilhos já estão em Cuiabá. Mas não há novo prazo para conclusão do projeto
BRT Palmas – Judicialização da licitação
Com mais de 227 milhões já garantidos, o Bus Rapid Transit de Palmas é considerado fundamental para o adensamento dos vazios urbanos da capital do Tocantins. A licitação já teve seu vencedor conhecido, mas uma liminar judicial obtida pelo Ministério Público Federal em outubro de 2015 paralisou o processo às vésperas do início da obra. A prefeitura informou que vai apresentar seu recurso de apelação ao Tribunal Regional Federal comprovando que a cidade merece os recursos para o projeto. O MPF sustenta que o município teria superestimado a demanda do projeto. Não há novo prazo para conclusão da obra.
BRT Porto Alegre – falhas técnicas
Também prometido para a Copa, o BRT de Porto Alegre já teve dois lotes de corredores pavimentados e tem um terceiro com 60% da pavimentação já concluída. Por eles, já trafegam algumas linhas. Mas não há prazo para que o BRT, de fato, comece a operar. Isso porque a prefeitura ainda não licitou os terminais e pontos de parada, o que a impede de estabelecer qualquer prognóstico. Além disso, a imprensa local publicou notícias de que o piso implantado (asfalto) está sofrendo com fissuras antes mesmo da chegada dos biarticulados mais pesados, o que estaria obrigando as construtoras a refazer as obras implantando concreto nessas vias.
Metrô Curitiba – Falta de dinheiro
Após mais de dez anos de estudo, o metrô de Curitiba chegou próximo de ser licitado. Mas em agosto de 2014, na antevéspera da abertura dos envelopes dos concorrentes, o Tribunal de Contas do Estado suspendeu a concorrência para que a prefeitura refizesse trechos do edital. Os ajustes foram realizados, mas seis meses depois, com a inflação nas alturas, o município passou a questionar quem iria arcar com os custos da correção. Orçado em pouco mais de R$ 4,6 bilhões à época, agora o projeto já supera os R$ 5,5 bilhões. A União havia reservado R$ 2,1 bilhões para a obra e diz que não tem condições de garantir novos aportes. Sem dinheiro, esse projeto agora corre o risco de ficar definitivamente para a história.