sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Concessionárias: plano integrado em até 30 dias

O Globo: 29/01/2014

Exigência é feita por agência reguladora mais de 15 anos após a privatização dos meios de transporte público
Mais de 15 anos depois das privatizações dos serviços de metrô, trens e barcas, e 17 anos após a criação da Agência Reguladora de Serviços Públicos do Estado do Rio de Janeiro (Asep-RJ, extinta em junho de 2005 e substituída pela Agetransp), o órgão responsável por controlar os transportes públicos estaduais concedidos convocou ontem a primeira reunião para tratar de um plano de contingência integrado em casos de acidente. Mas o encontro foi tão somente um ponto de partida. De concreto, a Agetransp solicitou às concessionárias a elaboração de um planejamento integrado, que deverá ser apresentado à agência em 30 dias. Haverá reuniões semanais de acompanhamento.

Por e-mail, a agência afirmou que o objetivo do plano é permitir uma operação integrada, reduzindo os impactos provocados por incidentes e preservando a mobilidade e a segurança dos usuários . Do encontro, participaram representantes das secretarias estaduais da Casa Civil e dos Transportes, e das concessionárias supervia, Metrô Rio e CCR Barcas. O secretário municipal de Transportes do Rio, Carlos Roberto Osorio, e o presidente da Fetranspor, Lélis Teixeira, também estiveram na reunião.

Exigência veio após Acidente com trem >
A criação de um plano integrado de ação vem a reboque do acidente com um trem da supervia, que, no último dia 22, descarrilou em São Cristóvão, afetando praticamente todos os ramais. Passageiros andaram por trilhos, sem saber como seguir viagem. E a decisão de que os bilhetes dos trens poderiam ser usados nos ônibus só foi anunciada depois de protestos de passageiros.

Na segunda-feira, foram os corredores rodoviários que viveram transtornos. No primeiro dia útil de fechamento de todo o Elevado da Perimetral, o trânsito deu um nó no Centro. Ou seja, qualquer problema ou intervenção viária gera um caos na circulação da Região Metropolitana. Isso é resultado, segundo especialistas, de um sistema de transporte público frágil, concentrado em ônibus, que não tem um planejamento adequado nem coordenação.

Falta plano de contingência integrado >
Professor do Departamento de Engenharia de Transportes da Uerj, José de Oliveira lembra que inexiste um plano de contingência integrado dos transportes. Para ele, não basta privatizar. As concessionárias, enfatiza Guerra, têm de falar a mesma linguagem:

- É preciso colocar todas as concessionárias em igual faixa de sintonia, para que o caos não se instale. É possível minimizar os problemas. Mas, certamente, eles são inevitáveis, já que estão sendo realizadas, ao mesmo tempo, muitas intervenções nos sistemas de transporte.

Guerra credita ainda boa parte das dificuldades de mobilidade à prioridade dada ao transporte rodoviário, em detrimento do ferroviário:

- Essa é uma questão nacional e se estende ao transporte de cargas. As políticas públicas visaram a atender mais aos interesses das montadoras do que aos da sociedade.

O engenheiro Miguel Bahury, ex-secretário municipal de Transportes e ex-presidente do metrô, também critica o tratamento dado ao transporte de massas. E questiona a forma como as concessões vêm sendo acompanhadas:

- As privatizações têm mais de 15 anos. Depois de tanto tempo, não era para trens, metrô e barcas estarem funcionando adequadamente? A meu ver, a fiscalização, a cargo da Agetransp, tem sido parcimoniosa. E o governo, tolerante. Hoje, o metrô do Rio transporta apenas 600 mil pessoas, em média, diariamente. Os trens, que já levaram 1,2 milhão de passageiros por dia, hoje transportam 500 mil.

Bahury compara a rede de metrô do Rio à de outras cidades. Com a primeira estação inaugurada em 1979, o metrô carioca tem 35,6 quilômetros em operação e 34 estações. O de Seul, por exemplo, que começou a funcionar em 1974, tem 286 quilômetros e 266 estações:

- Como ter um plano de contingência com uma oferta de trens e metrô tão pequena?

Professor: tráfego ainda vai piorar >
Já o professor José Eugenio Leal, da PUC, defende a criação de uma agência metropolitana de transportes, para interligar concessionárias, governo e prefeituras, permitindo que se antecipem a eventuais problemas. É importante, diz, que o planejamento preceda qualquer intervenção viária:

- Estado e município têm fôlego para investir. Mas não têm pessoal para gerenciar os impactos. As mudanças de trânsito, por causa do fechamento da Perimetral, tinham de ser informadas com mais antecedência e ter chegado ao sistema de GPS.

E dias piores virão, alerta o professor Paulo Cezar Martins Ribeiro, da Coppe/UFRJ:

- Estamos no auge das férias. No dia 10 de março, o aumento do tráfego deve ser de 15%. Então as pessoas vão sentir, de fato, as consequências do fechamento da Perimetral

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