quarta-feira, 8 de julho de 2015

Metrô da Cidade do México versus Metrô de São Paulo

Artigo originalmente publicado na Revista Ferroviária
Rogerio Wassermann, da BBC Brasil, em um artigo publicado em janeiro de 2013, comparou o Metrô de São Paulo com outros metrôs do mundo. Ele afirma que o nosso Metrô, ao ritmo médio de expansão anual, precisaria de mais 172 anos para chegar à atual extensão do metrô de Londres. E entre os metrôs latino-americanos, o da Cidade do México, inaugurado em 1969 com 226 km de rede, tem ritmo de expansão maior do que o nosso, com 5 quilômetros a mais por ano. E acrescentava: "O sistema da capital paulista, inaugurado em 1974, tem hoje 74,3 quilômetros de extensão – média de expansão de somente 1,91 quilômetros por ano”.
Jornalistas e políticos brasileiros seguem a mesma linha para criticar a rede do Metrô de São Paulo, considerada muito pequena face à demanda, e sempre se referem ao Metrô do México como o paradigma a ser seguido. Eu gostaria de discordar dessa visão, no meu entender errada, por ser, no mínimo, incompleta.
A cidade do México é uma megalópole com mais de 20 milhões de habitantes. O seu Metrô tem uma rede de 226 km, com 12 linhas e 195 estações. Foi construído com financiamento do governo francês e concebido com a mesma tecnologia do Metrô de Paris. A última extensão se deu em 2012 com a linha 12, a chamada linha dourada, que está parcialmente interditada por problemas na interface via/material rodante, apresentando falhas desde a sua inauguração e com riscos de descarrilamento.
Hoje o sistema transporta cinco milhões de passageiros por dia, 1,6 bilhão por ano, sendo um dos mais frequentados do mundo, atendendo de maneira relativamente eficiente grande parte da região metropolitana da capital mexicana. A tecnologia do material rodante é com rodas de pneus de borracha, exceto nas linhas A e 12. Excluindo a linha 12, não operacional, a rede do México ficaria reduzida a 202 km e 175 estações. A cidade não tem uma ampla rede suburbana de transporte sobre trilhos como São Paulo. A moderna linha Buenavista-Cuautitlan, que liga a Cidade do México a quatro municípios da região, foi inaugurada em 2009 – a primeira em 40 anos. Tem 27 km de extensão e transporta 300 mil passageiros por dia.
São Paulo conta com três empresas de transporte sobre trilhos. Uma delas é o Metrô, que possui quatro linhas em operação, 65,9 km de rede, 59 estações e 150 trens. Transportou, no ano de 2013, 1,1 bilhão de passageiros. O sistema metroviário transporta diariamente cerca de 4,6 milhões de usuários. Outra é a ViaQuatro que opera a linha 4 do Metrô, com 12,8 km, totalmente automatizada. É uma das mais modernas do mundo e transporta 700 mil passageiros por dia. Um sucesso. Há também a CPTM, que tem uma rede de 260 km de extensão, com 6 linhas e 92 estações operacionais, atendendo a 22 municípios. As linhas estão sendo modernizadas para terem a mesma qualidade do serviço de metrô. Logo, logo chega lá. Transporta hoje 2,8 milhões de passageiros por dia.
Assim, a Região Metropolitana de São Paulo conta atualmente com quase 340 quilômetros de vias sobre trilhos e transporta 8 milhões de passageiros diários.
Esses números desmentem a visão estreita do correspondente da BBC, que muitos têm ao comparar México com São Paulo. Nosso Metrô, dentro da rede sobre trilhos integrada, tem uma malha razoavelmente grande. Isso não significa que a cidade não necessite, com rapidez, de mais linhas em áreas não atendidas, coisa que, aliás, está sendo feita, verdade seja dita, a um ritmo que poderia ser bem maior.
Peter Alouche é consultor em tecnologia dos transportes e o atual diretor técnico da Revista dos Transportes Públicos – ANTP.


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