quarta-feira, 7 de maio de 2014

Da névoa de Paris ao colapso de Bogotá

"A cidade congestionada inviabiliza a razão de ser do transporte individual, que é o conforto e a eficiência, mas seu pecado maior é tornar a caminhada tão desagradável e perigosa que ela deixa de ser uma opção." André Lara Resende

Uma nuvem de poluentes se abateu sobre Paris. A torre Eiffel, cartão postal da cidade-luz, esmaecida por uma névoa de partículas em pleno dia, causou espanto mundial. O governo francês, pressionado e alarmado, resolveu poucos dias depois decretar um rodízio de carros: nos dias ímpares, trafegariam só carros com placa de final ímpar; nos dias pares, o inverso.

Mas lá o debate, ao contrário de outras cidades do planeta, está longe de evoluir. A ponto do colunista Gilles Lapouge, em artigo n'O Estadão, sugerir uma revolução cultural para os parisienses, que abarque soluções como "rever o urbanismo e a disposição do território; reduzir as distâncias entre o local de residência e o de trabalho; modificar a relação com o carro; pensar o carro como "uso" e não "propriedade"; desenvolver o sistema de compartilhamento de veículos; tentar pôr fim a essa relação amorosa, passional, do francês com seu carro; organizar um sistema fiscal ecológico e criar uma "ecotaxa" rodoviária para desenvolver os transportes alternativos." Se prestarmos atenção, uma bula tão extensa quanto complexa do ponto de vista político... e muito semelhante àquela que muitos sugerem para as metrópoles brasileiras.

Enquanto isso, a má notícia vem de Bogotá, justamente do incensado TransMilenio. Em entrevista ao jornal O Estado de SP, Maria Fernanda Rojas, que dirigiu o Instituto de Desenvolvimento Urbano da capital colombiana, afirma: "Em Bogotá, o sistema de ônibus entrou em colapso'...". Segundo ela, o sistema teria chegado ao limite.

Como escreveu o jornalista Washington Novaes, "o noticiário dos jornais e da televisão anda sobrecarregado de informações sobre os nossos grandes dramas urbanos - falta de mobilidade, transportes precários, inundações, violência, etc. - e a ausência de perspectiva de soluções, com o número de habitantes crescendo". Mas não bastassem os problemas dos transportes públicos, como os trens superlotados, eis que um dado alarmante vem aumentar esta lista: o assédio sexual. Criminosos que, além de abusar e assediar mulheres no transporte público, filmam, fotografam e divulgam imagens na internet.

O transporte público trabalha hoje com uma gama de problemas que transcende em muito o simples exercício do ir-e-vir. Para resolvê-los é preciso conhecimento, e muito debate e participação.

Um ano eleitoral é sempre propício para ouvir o que os candidatos a cargos eletivos têm a propor para os grandes problemas afeitos à mobilidade urbana: desde os que motivaram as névoas que encobriram a torre Eiffel, promoveram o colapso do Transmilenio, e redundaram na superlotação dos transportes públicos nas principais metrópoles brasileiras. Apesar de distantes, todos os problemas de mobilidade urbana têm origens muito próximas. 

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